Cartel: tucanos dizem que adulteração de carta tem 'digitais' do Cade e de deputado petista

Secretários de Alckmin afirmam que deputado petista cometeu crime. Senador do PSDB cobra explicações do ministro José Eduardo Cardozo

Felipe Frazão e Gabriel Castro
Edson Aparecido, secretário do Desenvolvimento Metropolitano, São Paulo, em 2012
Edson Aparecido, chefe da Casa Civil de Alckmin: 'PT aparelhou o Cade'. (Divulgação/Governo do Estado de SP)
Os secretários estaduais de São Paulo Edson Aparecido (Casa Civil) e José Aníbal (Energia) afirmaram nesta quinta-feira que a adulteração de uma carta que integra as investigações sobre o cartel do metrô paulista "tem as digitais" do deputado estadual licenciado Simão Pedro (PT) e do presidente do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade), Vinícius Marques de Carvalho. O PSDB acusa os petistas de alterarem o documento para atingir integrantes do partido: a versão em português cita pagamentos de propina a "políticos do PSDB" e ao "pessoal do PSDB", mas o texto em inglês não. A carta é atribuída ao ex-diretor da Siemens Everton Rheinheimer.
“As pessoas que estão envolvidas nesse processo desde o início são o deputado Simão Pedro e o presidente do Cade, Vinícius Marques de Carvalho. É evidente que tem as digitais dessas duas pessoas no processo”, afirmou Aparecido ao site de VEJA. “E infelizmente agora as do ministro [José Eduardo Cardozo, da Justiça], pelo procedimento que teve.”

Filiado ao PT por treze anos, o presidente do Cade foi chefe de gabinete de Simão Pedro, atualmente licenciado para comandar a Secretaria de Serviços da prefeitura paulistana, na Assembleia Legislativa. Simão Pedro nega ter modificado o documento, mas disse que a bancada petista na Assembleia tinha as versões do texto nos dois idiomas em 2010. Ele afirmou ter levado à denúncia ao ministro da Justiça, mas recorreu a um caminho nada protocolar: em vez de marcar uma audiência oficial em Brasília, foi à casa do ministro, em São Paulo, em um sábado levar os papéis.
O PSDB divulgou duas versões de uma correspondência encaminhada, em 2008, ao então ombudsman da Siemens na Alemanha, Hans-Otto Jordan. Ambas trazem o carimbo da PF com a indicação das páginas do inquérito em que foram inseridas. São denúncias de práticas ilegais envolvendo contratos da Linha 5 do Metrô de São Paulo, CPTM e Metrô do Distrito Federal. Na versão em português, foi incluído um parágrafo com menções explícitas a "políticos do PSDB", que não constam da carta em inglês.
Para Aníbal, o petista cometeu um crime: “Adulterar um documento na tradução é gravíssimo. A tradução ‘padrão Simão Pedro’ cria um parágrafo novo. Isso é crime, uma esculhambação”.
Em Brasília, PSDB, DEM e PPS, atingidos pelas acusações, conseguiram a convocação do ministro da Justiça em uma comissão da Câmara dos Deputados para explicar o nebuloso percurso das denúncias. A oposição quer saber se as acusações, de fato, chegaram à Polícia Federal pelas mãos de Cardozo, e não através do Cade como antes registrado em ofício pela própria PF. Os tucanos também querem que Cardozo explique as diferentes versões do documento.
“Eu quero o depoimento do ministro Cardozo na Comissão de Constituição e Justiça exatamente para isso”, afirmou o senador Aloysio Nunes Ferreira (SP). “Se houve sucessão de erros ou se houve manipulação, é um processo que tem de ser esclarecido – até em benefício da própria investigação. Não convém que uma investigação dessa natureza, que envolve fatos graves, seja envolta num clima de suspeição, de intriga política.”

Eles também cobram que o ministro explique o motivo de não ter enviado o documento ao Supremo Tribunal Federal (STF), ao Ministério Público de São Paulo ou à Procuradoria-Geral da República. Para os tucanos, como a versão em português cita parlamentares com foro privilegiado, um desses três órgãos deveria ser o responsável pelas apurações.
“Ele [Cardozo] diz que encaminhou para a Polícia Federal e dois delegados da PF dizem que receberam esse documento do Cade. Alguém está mentindo. Não acho que seja a PF, porque a palavra dos dois delegados está no papel e a do ministro não”, disse Aparecido.

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