Com informações da Unesp - 28/11/2013
A indústria de rochas ornamentais brasileiras já exporta mais de R$1 bilhão por ano.
São mármores e granitos usados em bancadas, pias de cozinha, revestimentos de edifícios e pisos.
É fácil de imaginar, então, a preocupação que tomou conta tanto dos produtores, quanto do governo, quando as rochas ornamentais brasileiras apareceram nas páginas do jornal norte-americano New York Times retratadas como potenciais fontes de contaminação radioativa e possíveis causadoras de câncer.
Radônio
O texto afirmava que medições feitas nos EUA registraram emissões de radônio vindas de rochas ornamentais brasileiras, sobretudo granitos.
O radônio é um gás nobre, produzido pelo decaimento radioativo do urânio e que, ao se transformar em outros elementos químicos, aumenta o risco de câncer de pulmão nas pessoas que o inalam.
Aferir essas medições e tirar a questão a limpo foi a proposta de uma equipe brasileira, coordenada por Daniel Marcos Bonotto e Antônio Carlos Artur, da UNESP de Rio Claro (SP).
Embora os elementos precursores do radônio possam estar presentes em rochas de várias origens, as análises se concentraram nas rochas ígneas (que surgem a partir da solidificação do magma ou de um derramamento de lava), como o granito.
Apesar de relativamente simples, o projeto do experimento precisou ser ajustado com bastante cuidado.
"Como o radônio é produzido naturalmente pelas rochas, ele está presente na atmosfera. Ou seja, para estar seguro de que a sua amostra é a responsável por aquela quantidade do gás que você está medindo, você tem de aprisionar a rocha num sistema que não esteja na atmosfera, ou seja, no vácuo", explica o físico. "Por outro lado, se se evacua totalmente o recipiente onde está a rocha, ele implode."
Os pesquisadores conseguiram chegar a um meio-termo aceitável entre esses dois problemas. Os pedaços de rocha foram colocados em vasilhames de pirex de 20 litros, tapados com rolhas às quais eram acoplados registros, de forma a regular a troca de gases com o ambiente externo.
Radônio nas rochas ornamentais
[Imagem: Unesp]
A produção de radônio foi sendo medida até que se completasse um mês - tempo médio no qual a taxa de desintegração do gás nobre entra em equilíbrio com a de seu "pai", o elemento químico rádio. Por conta de propriedades da rocha, às vezes esse prazo é excedido, levando mais de um ano para que o equilíbrio seja alcançado.
Depois desse prazo, o gás é introduzido no sistema de leitura, cuja limpeza é feita por sua adsorção em carvão ativado, o qual, ao ser aquecido, permite que o radônio seja exalado para a atmosfera.
Radioatividade em granitos
O conjunto dos dados indica, entre outras coisas, que nem sempre as pedras com maior potencial de produção de radônio são as que irão, efetivamente, lançar o gás em maior quantidade no ar circundante. Rochas com alto grau de porosidade, por exemplo, ainda que contenham pouca "matéria-prima" para o radônio, acabam liberando uma quantidade maior do gás do que rochas menos porosas.
A maior parte das amostras apresentou níveis de radônio abaixo do indicado como perigoso pela EPA, a Agência de Proteção Ambiental norte-americana.
Apenas uma das nove amostras exalou radônio acima desse valor.
Os pesquisadores avaliam que, no caso dessas rochas, seria suficiente a precaução do uso apenas em ambientes externos, ou mesmo em interiores, desde que com boa ventilação, para evitar o acúmulo.
Ou seja, mesmo as rochas que emitem os níveis mais altos do gás, portanto, poderiam ser utilizadas sem sustos para embelezar uma calçada, por exemplo.
Enquanto isso, porém, os clientes externos não parecem ter-se influenciado muito pelas alegações na reportagem do New York Times: as exportações brasileiras de rochas ornamentais devem crescer cerca de 20% este ano.
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