◘ NEM AÉCIO, NEM ALCKMIN. A MAIOR AMEAÇA AO GOVERNO MORA AO LADO

 

Nem Aécio nem Alckmin. A maior ameaça ao governo mora (bem) ao lado

Matheus Pichonelli –
 

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Na página oficial de Aécio Neves no Facebook, o quadro de outubro segue quase inalterado. “Não vamos nos dispersar!”, pede o senador mineiro na foto de capa. Os posts mais recentes apresentam um confronto entre o discurso da candidata Dilma Rousseff e as primeiras medidas do novo mandato. “Não haverá tarifaço x Contas de luz devem subir”, “Não vamos aumentar os tributos x Brasileiros pagarão mais impostos”. “A candidata Dilma mentiu aos brasileiros”, esgoela em sua página o presidente do PSDB, enquanto seu vice, Alberto Goldman, fala abertamente em impeachment.

Os discursos, compartilhados aos milhares, ajudam a alimentar a tensão de outubro e a manter no radar o ex-presidenciável mineiro, lanterna do ranking da Veja sobre desempenho parlamentar. O esperneio faz parte do papel da oposição, mas é só jogo de cena: na prática, a chance de conseguir algo de concreto com o palavrório é nula. É zero. Serve para fidelizar uma (grande) porcentagem do eleitorado já suficientemente irritado com as medidas impopulares recém-anunciadas. Impopularidade por impopularidade, o maior reduto antipetista já está bastante ocupado com o racionamento de água só agora admitido por Geraldo Alckmin (PSDB).

Hoje a maior dor de cabeça do Planalto está em sua própria (e sempre suposta) base aliada. Tem numa ponta a insatisfação com as nomeações anunciadas até agora para o ministério e, na outra, um bombeiro prestes a debelar o incêndio com mais gasolina: Eduardo Cunha. Sua campanha à presidência da Câmara cumpre todas as passagens de um roteiro de realismo fantástico. A começar pelo fato de o algoz do Planalto ser filiado ao PMDB, partido do vice-presidente Michel Temer. Para se cacifar, ele viajou para os 26 estados da federação mais o Distrito Federal. É mais do que viajaram os presidenciáveis em outubro, e isso diz muito sobre o que está em jogo.

Nos primeiros dias do novo mandato, Dilma anunciou uma série de medidas para conter os gastos do Planalto. As medidas, classificadas pela oposição como Pacote de Maldades, envolvem corte de benefícios e investimentos, reajuste de preços, elevação das taxas de juros e um possível aumento de impostos. Dilma precisará do Congresso, e não do apoio popular, para emplacar seus projetos (com ou sem o selo de maldades) e chegar ao fim do ano com a economia respirando sem a ajuda de aparelhos. Para isso, obter o controle da Câmara é fundamental. É o presidente da Casa quem decide a pauta e o ritmo das votações. Terceiro na linha da sucessão, ele pode ser chamado a substituir a presidenta em caso de ausência dela e de seu vice.

Dilma prefere o diabo a vê-lo no posto. Não é por menos. Durante a campanha presidencial, Cunha não escondia sua preferência por Aécio Neves. No Congresso, ele liderou uma série de rebeliões que impôs duras derrotas ao Planalto, a começar pelo decreto presidencial que regulamentava a atuação dos conselhos populares. Cunha é uma espécie de força gravitacional dos setores insatisfeitos da base aliada e aposta no discurso antipetista para conquistar o apoio dos opositores.

Isso explica o empenho do governo para eleger o petista Arlindo Chinaglia, novamente lançado à disputa para evitar o pior. O empenho tem um roteiro conhecido; a promessa de apoio em troca de cargos no segundo escalão, não por acaso ainda em aberto. Para o governo, ceder o posto-chave aoinimigo equivale a deixar a Rainha na reta da Torre adversária. No tabuleiro cabem duas ironias: os peões, como a senadora Marta Suplicy (PT-SP), estão dispersos, e a saída pode estar na linha inimiga. Vem da Operação Lava a Jato, que arrastou o governo para o centro da maior crise da história da Petrobras, a melhor notícia para Dilma até agora. Cunha é um dos políticos mencionado como suposto beneficiário do esquema de corrupção. Se confirmada, a suspeita pode melar os planos do desafeto, mas ele promete cair atirando.

Nesta quinta-feira 22, Cunha reagiu às declarações de Henrique Fontana (PT-RS), líder do governo na Câmara que disse ser “inaceitável” a tentativa do peemedebista de ligar a Polícia Federal e o governo a uma jogada de incriminá-lo. “Fontana sempre foi um líder fraco, desagregador, radical em suas posições e que levou o governo a várias derrotas pelas suas posições. A bancada do PMDB na Câmara não reconhecerá mais a sua liderança e não se submeterá mais a ela”, afirmou Cunha pelo Twitter.

A declaração de guerra é exatamente o que parece. Não se trata de um deputado trocando farpas com outro deputado. É a bancada de um partido aliado cortando relações na Câmara com o representante do governo do qual faz parte. Isso também diz muito sobre o que está em jogo.

A disputa pela Câmera termina em 2 de fevereiro. 

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