Cogitações imaginárias — na verdade, não imaginárias assim — do que passa pela cabeça da presidente Dilma e de seus conselheiros mais próximos:
A Ideli não consegue se eleger lá em Santa Catarina? Então, sabe de uma coisa? De repente ela pode ser ministra da Pesca. Ah, tá bom? Então botamos ela lá. Beleza.
Passa-se um tempo e…
Mas acho que o Luiz Sergio não está dando muito certo como ministro das Relações Institucionais.
Ninguém conhece o camarada, ninguém dá bola para ele, virou “garçom” lá no Congresso, como ocorreu com antecessores — só leva pedidos de parlamentares ao Planalto e volta com respostas, ou sem elas.
Não articula nada. Acho que não dá, não.
E que tal trazer a Ideli pro lugar do Luiz Sergio? Afinal, ela já foi senadora, conhece o pessoal… E aí mandamos o Luiz Sergio, que não pode ficar desempregado, pro lugar da Ideli.
Se ele entende de pesca? Acho que não, porque afinal ele era metalúrgico. Mas, de repente, tendo sido prefeito de Angra dos Reis, que fica à beira-mar…
E depois, será que tem mesmo que entender? O bispo Crivella, da Igreja Universal, já não foi ministro da Pesca também? — e, pra dizer a verdade, nunca perguntei a ele se já viu antes, na vida, um anzol.
Mais algum tempo e…
O diabo é que a Ideli não está funcionando nessa tal coordenação política das Relações Institucionais. A gente achou que daria certo, só que…
Então não é melhor a gente trazer o Ricardo Berzoini? Ele é durão, tentou criar na marra o Conselho Federal de Jornalismo, lembra?
O tempo passa mais um pouco, e então…
Agora, porém, temos um mandato novo. Foi por pouco, né? Bem, estamos aqui e vamos precisar do Berzoini nas Comunicações, ministério grande, cheio de dinheiro.
Só que… santo Deus, e a Ideli? O que é que a gente vai fazer com ela? Deixar na chuva é que não dá.
Ah, tem os Direitos Humanos. Vamos colocá-la ali.
A Maria do Rosário não precisa mais, foi reeleita deputada lá no Rio Grande do Sul. Mais do que nomear a Ideli, vamos fazer mais ainda: confirmar que ela continuará nos Direitos Humanos durante todo o segundo mandato.
Tá tudo muito bom, tá tudo muito bem, só que tem uma coisa: essa ideia de colocar o Pepe Vargas nas Relações Institucionais não tá funcionando, gente.
Ele também virou garçom.
Precisamos de alguém melhor pro lugar dele. Quebramos a cabeça e achamos que, diante do tamanho da encrenca em que estamos metidos, a solução realmente é trazer o Temer — afinal, o cara é vice-presidente da República e presidente do PMDB.
Se ele não resolver a coordenação política com os cupinchas Eduardo Cunha e o Renan, quem haverá de?
E o Pepe Vargas, minha gente? Sujeito bom, companheiro antigo lá do Rio Grande, foi prefeito de Caxias.
Jogá-lo na rua? Acho que não… Sabe de uma coisa? Tira a Ideli lá daqueles Direitos Humanos e bota o Pepe Vargas.
Chii… E agora, a Ideli, minha Nossa Senhora? Ela não tem voto em Santa Catarina, não se candidatou a nada no ano passado, confiou nos cumpanhêro.
Temos que dar um jeito na situação.
Sabe de uma coisa: vamos mandá-la comandar os Correios.
Ela é física de formação, foi professora, militou muitos anos como sindicalista.
Não sabe nada de administrar um negócio enorme como os Correios, mas pelo menos não fica sem emprego.
E os Correios? Sei lá… A Ideli acaba dando um jeito.
PS — E pensar que o primeiro ocupante da Secretaria dos Direitos Humanos, no governo do presidente Fernando Henrique Cardoso, ainda não subordinada diretamente à Presidência, foi um homem do porte do jurista José Gregori.
Ex-presidente da Comissão de Justiça e Paz da Arquidiocese de São Paulo, trabalhou, com discrição mas firmeza e coragem, durante a ditadura militar, ao lado do cardeal-arcebispo Dom Paulo Evaristo Arns.
Ele foi secretário dos Direitos Humanos de 1997 a 2000, sob FHC, e honrou o posto que ocupou.
Entre outras coisas, foi o autor do projeto de lei que FHC enviou ao Congresso, sendo aprovado, que reconhecia a responsabilidade do Estado brasileiro pelos mortos e desaparecidos durante a ditadura. (Leiam mais aqui.)
Deixou a secretaria para ser ministro da Justiça.
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