Até
esta sexta-feira (24), mais de 830 pessoas espalhadas por pelo menos seis
países já tiveram confirmação de infecção pelo novo coronavírus de Wuhan (região central
da China). Destas, 26 pessoas morreram e 13 cidades chinesas que somam 30
milhões de habitantes estão fechadas para transportes
coletivos como trens, barcos e aviões.
Como os
primeiros infectados em dezembro de 2019 foram trabalhadores e clientes do
mercado de frutos do mar de Huanan, muitos suspeitaram que o novo vírus veio de
alguma carne ou animal vivo vendido ali. A questão é que, ao contrário do que o
nome indica, o mercado não tem a circulação apenas de animais marinhos, mas
também de animais selvagens como castores, raposas, texugos, cobras e
porcos-espinhos. Enquanto alguns alguns animais eram comercializados vivos,
outros eram mortos e limpos por ali mesmo.
Esse
tipo de mercado é conhecido como “mercado molhado” porque há um fluxo de água
constante no chão para empurrar sangue, fezes e urina desses animais para os
ralos. Essa sopa de fluídos corporais animais é o ambiente perfeito para a
proliferação de vírus e bactérias. Desde o início do surto, o mercado foi
desinfectado e fechado.
Usando
amostras dos vírus isolados de pacientes, cientistas da China conseguiram
determinar o código genético e registraram imagens dele no microscópio. Este
vírus pertence à mesma família que a Síndrome Respiratória Aguda Grave
(SARS-CoV) e a Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV). A Organização
Mundial da Saúde nomeou o novo coronavírus de 2019-nCoV.
Os
coronavírus têm este nome por causa do formato quando visto no microscópio, que
lembra uma coroa. Eles são transmitidos pelo ar e geralmente afetam o sistema
respiratório superior de mamíferos e aves. A grande maioria dos coronavírus
causa sintomas parecidos com o da gripe, mas o SARS e MERS infectam tanto as
vias aéreas superiores quanto as inferiores, portanto são mais graves.
O 2019-nCoV
causa sintomas parecidos com o SARS e MERS, e as pessoas infectadas sofrem uma
resposta inflamatória severa. Não há vacina ou tratamento antiviral disponível
contra o 2019-nCoV, mas compreender melhor o ciclo de vida do vírus vai ajudar
na prevenção da doença.
Morcegos,
camelos, gatos de algália e cobras
Assim como o SARS e
MERS, o 2019-nCoV é uma doença com origem em animais, sendo que o primeiro
paciente foi infectado pelo contato direto com o animal, e depois infectou
diretamente outros humanos. Isso acontece porque o vírus passou por uma mutação
genética no animal que permitiu que ele se multiplicasse em humanos.
No caso do SARS e
MERS, acredita-se que a origem do vírus foi o morcego, mas que ele infectou
gatos da algália e camelos, respectivamente, que por sua vez contaminaram
humanos. Nesses casos, provavelmente não houve consumo desses animais, mas
contato direto com humanos.
Agora, é possível que
a origem do novo vírus também seja o morcego, mas que o contato com a cobra
chinesa ou a krait chinesa tenha servido de ponte para a passagem do vírus para
os humanos. Isso, porque as cobras em ambiente selvagem caçam morcegos. O que
ainda não se sabe é como o vírus poderia ter se adaptado tanto a hospedeiros de
sangue frio quanto de sangue quente.
Para confirmar esta
hipótese, seria necessário coletar o RNA das cobras vendidas no mercado chinês,
mas elas já foram eliminadas há algumas semanas. Mesmo assim, o relatório
recém-publicado traz informações valiosas para a criação de protocolos de tratamento
e prevenção da doença. [The Conversation]
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