Fragmento de material preto vítreo encontrado no
crânio de uma vítima do Monte Vesúvio
Um novo estudo da
Universidade de Nápoles (Itália), do Centro de Engenharia Genética –
Biotecnologia Avançada (Itália), da Universidade de Cambridge (Reino Unido) e
da Universidade de Roma Tre (Itália) descobriu que o calor da erupção do Monte
Vesúvio, em 79 dC, foi tão extremo que não só vaporizou os fluidos corporais e
explodiu os crânios de diversos habitantes, como até transformou o cérebro de
um homem em vidro.
A erupção
O Monte Vesúvio fica
localizado na cidade de Nápoles, na Itália. Em 79 dC, quando entrou em erupção,
liberou uma quantidade de energia térmica equivalente a cerca de 100.000 bombas
atômicas como as lançadas em Hiroshima e Nagasaki na Segunda Guerra Mundial.
O evento afetou
principalmente as cidades de Pompéia e Herculano, que acabaram ficando
“imortalizadas” no tempo – as cinzas e lama da explosão transformaram as
construções, objetos e os até seres humanos em “moldes” ou “esculturas”, o que
fez com que fossem encontrados da mesma maneira como foram atingidos pela
erupção muitos anos depois, em 1748.
Desde então, diversos
arqueólogos têm estudado o sítio, hoje aberto à visitação.
Fluidos
evaporam, crânios explodem
Diversos achados
interessantes – e sombrios – foram feitos durante as análises dos corpos das
vítimas da erupção.
Um
estudo de 2001, publicado na revista Nature, por exemplo, estimou que a
temperatura da explosão foi de 300°C Celsius, o suficiente para os fluxos
piroclásticos matarem em frações de segundo os habitantes que não conseguiram
fugir do local.
Já em 2018, o
arqueólogo Pierpaolo Petrone, da Universidade de Nápoles – que também foi um
dos autores do estudo de 2001 -, examinou cerca de 100 esqueletos de Herculano
utilizando, entre outras técnicas, espectroscopia Raman.
Os corpos continham
resíduos pretos e vermelhos e altas concentrações de ferro, indicativas de
fluidos corporais humanos, embora os pesquisadores não pudessem confirmar de
que a fonte era sangue humano. Os ossos também continham muitas fraturas, outra
evidência de exposição a temperaturas extraordinárias.
Por fim, havia
indicações de fraturas e até de “explosões” de alguns crânios. Estes exibiam o
mesmo padrão circular visto em casos forenses de explosão cranial devido ao
calor extremo.
Os pesquisadores
concluíram que os fluxos piroclásticos “ferveram” o tecido mole do cérebro e
evaporavam os fluidos corporais dessas vítimas, a ponto de seus crânios
literalmente explodirem.
O cérebro vitrificado
Agora, a mesma equipe
liderada por Petrone completou uma análise de um estranho crânio encontrado na
década de 1960 no sítio arqueológico de Herculano, enterrado em cinza
vulcânica.
Havia
evidências de matéria cerebral no crânio deste homem, mas, ao invés de estar
saponificada pelo calor extremo (normalmente, este tipo de substância vira
“sabão”, ou glicerol e ácidos graxos), ela estava na verdade vitrificada.
Um
exame do material vítreo dentro do crânio da vítima revelou traços de ácidos
graxos comuns no cérebro humano e componentes de cabelo humano.
Baseado
em evidências obtidas a partir de madeira carbonizada no local, os cientistas
estimam que as temperaturas poderiam ter chegado a 520° Celsius no local onde a
vítima foi encontrada.
Isso fez a equipe
concluir que o enorme calor foi capaz de inflamar a sua gordura corporal e
vaporizar os tecidos moles, bem como preservar o tecido cerebral em vidro.
Ressalvas
Vale observar que a
conclusão do novo estudo é contestada por alguns pesquisadores, como o
antropólogo forense Tim Thompson, da Universidade Teesside (Reino Unido).
Thompson não aposta na
teoria da vaporização, mas sim crê que os corpos de Herculano foram “cozidos”
por um calor de baixa intensidade.
Um artigo sobre a descoberta foi publicado na revista
científica New England Journal of Medicine. [ArsTechnica]
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