Até
recentemente, os arqueólogos pensavam que a caverna datava do século XVIII. Sua
estimativa estava quase mil anos errada. (Crédito da imagem: Mark Horton
/Edmund Simons /Royal Agricultural University)
Uma caverna britânica foi identificada como o
refúgio de um rei anglo-saxão exilado, de acordo com arqueólogos.
Anchor Church Caves, localizada ao lado do rio
Trent em uma parte isolada no centro da Inglaterra, foi considerada por muito
tempo uma “loucura” do século XVIII — uma edificação extravagante feita apenas
pela ornamentação ou como uma piada.
Mas um novo estudo revelou que a caverna teve um
propósito real. A estrutura de 1.200 anos foi construída durante a vida
tumultuada do rei nortumbriano Eardwulf, que foi perseguido e removido de seu
trono para viver como um eremita, e mais tarde se tornou um santo.
A lenda local diz que Eardwulf, ou St. Hardulph,
como ele foi conhecido mais tarde, viveu dentro da caverna depois de ter sido
deposto e exilado por razões misteriosas em 806 d.C. Um fragmento de um livro
do século XVI afirma que Eardwulf ”tem uma cela em um penhasco [próximo de]
Trent’ e o rei banido foi enterrado em 830 d.C. em um local a apenas 8
quilômetros da caverna.
(Crédito da imagem: Edmund Simons /Royal Agricultural University)
Edmund Simons, arqueólogo da Royal
Agricultural University na Inglaterra e principal investigador do projeto, está
convencido de que Eardwulf vivia nas cavernas vigiado de perto por seus
inimigos.
“As semelhanças arquitetônicas com
edifícios saxões, e a associação documentada com Hardulph/Eardwulf, tornam a
narrativa convincente de que essas cavernas teriam sido construídas, ou
ampliadas, para abrigar o rei exilado”, disse Simons em um comunicado.
Eardwulf viveu e governou durante um
tempo de frequente instabilidade política na Inglaterra medieval. Durante os
séculos VII, VIII e IX, sete reinos-chave e mais de 200 reis foram assassinados
e guerrearam uns contra os outros em uma disputa fervorosa e constante pela
supremacia.
Eardwulf assumiu o trono em 796 após o
assassinato de seus dois antecessores imediatos, e governou a Nortúmbria por
apenas 10 anos antes de ser deposto (possivelmente, de acordo com alguns
estudiosos, por seu próprio filho)
para passar seus anos restantes no exílio no reino rival da Mércia.
“Não era incomum que a realeza deposta
ou aposentada assumisse uma vida religiosa durante esse período, ganhando
santidade e, em alguns casos, canonização”, disse ele. “Viver em uma caverna
como eremita teria sido uma maneira alcançar isso.”
Eardwulf viveu na caverna junto com seus discípulos, pensam
pesquisadores (Crédito da imagem: Edmund Simons/Royal Agricultural
University)
Os pesquisadores reconstruíram o
projeto original das cavernas, que inclui três quartos e uma capela voltada
para o leste, usando medidas detalhadas, uma pesquisa com drones e um estudo
cuidadoso das características arquitetônicas — que se assemelham muito a outras
arquiteturas saxãs. Apesar de terem sido negligenciadas pelos historiadores até
recentemente, as habitações nas cavernas podem ser “os únicos edifícios
domésticos intactos que sobreviveram do período saxão”, disse Simons. A equipe
identificou mais de 20 outras cavernas no centro-oeste da Inglaterra que podem
datar do século V.
As Cavernas da Anchor Church foram mais
tarde modificadas no século XVIII, de acordo com a equipe, quando foi relatado
que o aristocrata inglês Sir Robert Burdett “a modificou para que ele e seus
amigos pudessem jantar dentro de suas celas frias e românticas”, segundo os
pesquisadores. Burdett adicionou alvenaria e molduras de janelas às cavernas,
além de ampliar as aberturas para que mulheres bem vestidas pudessem entrar,
disse o comunicado.
“É extraordinário que edifícios
domésticos com mais de 1.200 anos sobrevivam, não reconhecidos por historiadores
e arqueólogos” Disse Mark Horton, professor de arqueologia da Universidade
Agrícola Real, que está liderando escavações de restos vikings e anglo-saxões
em Repton, perto das cavernas, disse no comunicado. “Estamos confiantes de que
outros exemplos ainda devem ser descobertos para dar uma perspectiva única
sobre a Inglaterra anglo-saxã.”
Os
pesquisadores publicaram suas descobertas na revista Proceedings of
the University of Bristol Speleological Society.
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