Por Redação 02/07/2021
Reservatório vazio (foto de Fabio Rodrigues Pozzebom, ABr)
O volume de água que entrou nos reservatórios
das usinas hidrelétricas brasileiras durante o último ano é o quarto melhor ano
da última década, equivalente a 51.550 MW médios. No entanto, o volume de
energia produzida por hidrelétricas ficou em 47.300 MW médios, ou seja, 4.250
MW médios abaixo da quantidade de água que entrou nos reservatórios no mesmo
período, o equivalente a uma usina de Belo Monte.
“O fato é que entrou mais água nos
reservatórios (energia natural afluente) do que saiu pelas turbinas para gerar
energia (vazão turbinada)”, denuncia a Coordenação Nacional do Movimento dos
Atingidos por Barragens (MAB), com base em dados oficiais do Operador Nacional
do Sistema (ONS).
“É falso alegar que os reservatórios estão
vazios por uma suposta seca no Sudeste brasileiro”, explica o MAB em artigo.
Para a entidade, o esvaziamento dos reservatórios das usinas ocorreu em plena
pandemia, quando houve uma queda média de 10% no consumo nacional de
eletricidade.
“Os reservatórios foram esvaziados sem que
houvesse necessidade de atender a um aumento na demanda, uma vez que ela
diminuiu.” Segundo o MAB, em diversas usinas, como Itaipu, a operação foi
realizada “com evidente interesse de gerar escassez para explodir as tarifas.
Toda essa água vertida poderia ter sido armazenada ou transformada em energia,
sem aumento dos custos”.
Se algumas usinas jogaram água fora, outras foram acionadas para produzir acima da média, “principalmente as privadas, o que também levou ao esvaziamento”.
“Aqui, predomina a lógica de que quanto mais
vazios os lagos, mais alto é o preço”, acusa o MAB.
Sem hidreletricidade, acionam-se as termelétricas, muito mais caras. “E sabemos que, em geral, os donos das hidrelétricas também são donos das termelétricas.” Enquanto várias hidrelétricas estatais vendem energia a R$ 65/MWh, térmicas cobram acima de R$ 1 mi.
A usina William Arjona (MS) foi autorizada pela Aneel a cobrar R$ 1.520,87/MWh, denuncia a entidade.
Chance de racionamento é de 3%
“Teremos racionamento de energia? Risco é menor do que 3%”, calculam Victor Bruke e Maira Maldonado, analistas da XP.
Em
relatório divulgado nesta sexta-feira, eles afirmam que, no cenário base, não
veem necessidade de racionamento de energia nos próximos 12 meses.
“Embora, estimamos que os reservatórios
atinjam níveis historicamente baixos (18% em novembro/2021 para o SIN
consolidado), há capacidade térmica suficiente para ser utilizada e evitar
medidas mais dramáticas.”
“De acordo com nossas estimativas, a
probabilidade de a energia natural afluente (ENA) ficar abaixo de 50% (e
portanto de termos racionamento) é de 3%”, concluem.
Matheus Albergaria, professor de Economia da
Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), acredita que uma possível
crise hídrica causada pela seca dos reservatórios pode vir a aumentar o preço
da energia.
“Se acontecer a seca dos reservatórios, poderá ocorrer um aumento no preço da energia, devido ao choque adverso de oferta. Mas esse aumento pode não ser tão pronunciado, caso ocorra maior abertura da economia.
De fato, o próprio processo de abertura ao comércio internacional
dependerá dos cenários político e econômico domésticos, ainda atrelados às
campanhas de vacinação contra a Covid-19 nos estados e municípios brasileiros”,
finaliza Albergaria.
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