☼ O negócio dele é o sistema solar ☼

O americano Elon Musk, 39 anos, sabe muitas coisas. Ele sabe, por exemplo, como colocar em órbita um foguete e movimentar um carro esportivo com 7 mil pequenas baterias.

Ele sabe administrar 1.700 empregados espalhados entre duas empresas ambiciosas em cidades diferentes: a companhia aeroespacial SpaceX, em Los Angeles, e a companhia de carros elétricos Tesla Motors, na Área da Baía de São Francisco. Ele sabe como enriquecer. Há, então, coisas que Elon Musk não sabe, mas nas quais ele simplesmente crê.

Ele acredita que em aproximadamente 20 anos descerá de uma cápsula espacial e se tornará um dos primeiros seres humanos a fundar uma colônia em Marte.

Essa façanha, é claro, exigirá um trabalho árduo. Musk terá de criar e depois lançar um foguete capaz de transportar pessoas em segurança além da órbita da Terra — e ao mesmo tempo evitar as maquinações de seus concorrentes, os efeitos da recessão global e a má vontade dos políticos e do público, que são hostis à ideia de que empresas privadas fundem colônias em outros planetas.

Sim, chegar a Marte será um desafio, mesmo para alguém que sabe tanto quanto Elon Musk. Por isso, ele não se preocupa muito com a volta. Sua missão provavelmente será de mão única: uma tentativa gloriosa e romântica e — sejamos sinceiros — insana de levar a civilização para além deste planeta.

Musk já ajudou a inspirar um herói — Tony Stark, retratado por Robert Downey Jr. no filme Homem de Ferro — e é noivo de uma linda atriz, Talulah Riley, de 25 anos. Ele costuma ser comparado a Steve Jobs: os dois são microadministradores dedicados e ambos têm um instinto para o teatro dos negócios.

Mas enquanto Jobs é bom em trabalhar dentro de limitações — desenhar o celular perfeito ou o melhor sistema operacional de computador —, Musk gosta de dirigir suas energias para além dos limites do senso comum. “Muitos empresários de sucesso querem mudar o mundo em que vivemos”, diz Steve Jurvetson, um capitalista de risco que investiu na Tesla e na SpaceX. “Para Elon isso é estreito demais.” O negócio dele é o sistema solar.

LANÇAMENTO BILIONÁRIO > O foguete Falcon 9, da Space X, parte com sucesso do Cabo Canaveral em 4 de junho de 2010, dando origem a um contrato de US$1,6 bilhão com a Nasa

Essas ambições datam do colegial, quando Musk teve uma revelação sobre o que fazer em sua vida. “Eu decidi que havia três áreas que mais afetariam o futuro da humanidade: a internet, a energia sustentável e a extensão da vida além da Terra”, diz.

Filho de pais divorciados na África do Sul do apartheid, Musk sonhava em fugir para a América.

Quando tinha 17 anos, saiu de casa e se matriculou em uma faculdade no Canadá. No final das contas, formou-se pela Universidade da Pensilvânia.

Em 1995, foi aceito em um programa de doutorado em ciência dos materiais e física aplicada em Stanford, mas dois dias depois de chegar ao campus decidiu sair e fundar seu primeiro negócio.

Aos 23 anos, cofundou a Zip2, uma das primeiras companhias de software da web, comprada pela Compaq por US$ 300 milhões. Aos 27, ajudou a criar a PayPal, empresa de pagamentos pela internet pela qual a eBay pagou US$ 1,5 bilhão.

Essas realizações o tornaram absurdamente rico e possibilitaram que criasse não apenas mais um negócio grandioso, mas três: SpaceX, Tesla e a empresa de painéis solares SolarCity.

ALTA VELOCIDADE > Ao lado da noiva, a atriz Talulah Riley, e dos filhos gêmeos, Musk celebra a abertura de capital da Tesla, fabricante do carro elétrico Roadster

No final de 2007, a Tesla Motors tinha construído o protótipo de um carro elétrico que, segundo diziam, poderia vencer a Ferrari em durabilidade. Neste ano, lançou ações na bolsa eletrônica Nasdaq, com sucesso: o papel ficou US$ 3 acima do preço inicial de US$ 17 por ação, o que significa uma capitalização de mercado perto de US$ 2 bilhões. Sua espaçonave ainda não alcançou a órbita, mas houve dois lançamentos e uma dúzia de contratos assinados.

A SpaceX cobra US$ 50 milhões para lançar um satélite, menos da metade do preço corrente.

Finalmente, a SolarCity rapidamente se tornou a principal empresa de instalação de painéis solares na Califórnia, com receitas de US$ 23 milhões e quase 200 empregados.

Musk passa dois ou três dias por semana em Palo Alto, aonde chega no final da manhã de terça-feira. Trabalha sem parar até que voa de volta para Los Angeles, onde mora. Quando precisa fazer uma pausa para comer, o faz com uma eficiência impressionante. Duas vezes eu o vi consumir uma refeição inteira — frango, legumes, pão e uma ou duas Diet Coke — em menos de cinco minutos.

Ele precisa desses minutos preciosos. Apesar do crescimento da Tesla e da SpaceX, que triplicaram seus funcionários desde 2007, Musk não mudou seu estilo de administração. Ele ainda avalia quase todos os novos empregados e continua sendo o principal projetista de foguetes e carros elétricos. “Um workaholic normal é sóbrio comparado com Elon”, diz Lyndon Rive, o executivo-chefe da SolarCity.

A atividade favorita de Musk é conduzir reuniões técnicas na Tesla e na SpaceX. Geralmente, ele senta-se à sua mesa com uma dezena de jovens engenheiros espalhados por cadeiras, peitoris de janela e o chão.

Os diretores também participam, mas não falam muito: Musk prefere obter sua informação dos rapazes que fazem o trabalho de verdade. As estruturas de comando não importam para Musk, que tem dificuldade em perder qualquer detalhe.

Quando usei o toalete da SpaceX, percebi um toque de design que parecia decididamente “muskiano”. Quando lhe perguntei a respeito, ele me informou que realmente havia escolhido pessoalmente os vasos sanitários da SpaceX. Seus favoritos: um mictório que incorpora uma luz estroboscópica psicodélica e outro que emprega, em vez de um receptáculo de porcelana, um grande balde de aço. “Eu estava procurando mictórios criativos”, explica.

A alusão a ter um lugar para urinar é adequada. Dois anos atrás, Musk e suas empresas estiveram perto da falência.

“Só de pensar naquele tempo fico estressado”, diz. Em 2007, Musk descobriu que o modelo Roadster da Tesla, que deveria ser vendido por US$ 92 mil, na verdade custara à empresa US$ 140 mil só em matéria-prima.

Ele atribuiu o fracasso a práticas de contabilidade frouxas — e ao cofundador e executivo-chefe Martin Eberhard. Demitiu Eberhard e contratou um novo CEO. No ano seguinte, a Tesla demitiu cerca de 30% de sua equipe. Eberhard não saiu em silêncio. Em seu blog, Teslafounders.com, pintou Musk e seus asseclas como homens de coração frio, chamando as demissões de um “banho de sangue em surdina” (a dupla acabou resolvendo sua disputa em mediação).

Além da discussão pública com Eberhard, Musk se viu enrolado em um processo legal com Henrik Fisker, um ex-projetista da Tesla que tinha aberto uma empresa concorrente. Enquanto isso, o casamento de Musk estava terminando e sua mulher, Justine (mãe dos gêmeos Griffin e Xavier, hoje com 6 anos), uma escritora profissional, mantinha um blog sobre o divórcio. “As mesmas qualidades que o ajudaram a realizar seu sucesso determinam que a vida que você leva com ele é a vida dele... e que não há qualquer campo intermediário (principalmente porque ele não tem tempo para encontrá-lo)”, ela escrevia.

Em agosto de 2008 a SpaceX sofreu seu terceiro fracasso consecutivo em lançamento, perdendo um foguete e dois satélites, e havia gasto quase todos os US$ 100 milhões disponíveis para o negócio.

A Tesla, por sua vez, tinha apenas quatro meses de capital de giro no banco. Até a SolarCity estava em risco. O Morgan Stanley, que vinha financiando leasings de painéis solares sem entrada, saiu do programa, cortando as vendas da empresa pela metade. “Parecia que as três iam falir”, diz Musk.

Depois do terceiro fracasso de lançamento da SpaceX, Musk anunciou que a empresa levantaria capital pela primeira vez — US$ 20 milhões do Founders Fund, um fundo de capital de risco dirigido por seu ex-sócio, cofundador do PayPal, Peter Thiel. O investimento teve dois efeitos: mostrou que alguém além de Musk acreditava que ele poderia ter sucesso e lhe deu dinheiro suficiente para pelo menos mais dois lançamentos.

As fábricas de foguetes em geral passam meses depois de um fracasso revendo cuidadosamente o que aconteceu, antes de divulgar suas conclusões. Mas apenas quatro dias depois do acidente Musk foi ao blog da SpaceX e escreveu que tinha certeza da causa do problema.

Ele planejava ter um novo foguete na plataforma de lançamento em um mês. Em 28 de setembro de 2008, o foguete Falcon 1 de Musk tornou-se a primeira espaçonave construída com financiamento privado a entrar em órbita. Em dezembro, a Nasa anunciou que estava comprando 12 voos no novo e maior foguete de Musk, o Falcon 9, para reabastecer a Estação Espacial Internacional. O contrato valerá aproximadamente US$ 1,6 bilhão ao longo de sete anos.

Musk fez uma aposta igualmente arriscada para reforçar a Tesla. Em uma reunião de diretoria, em outubro, ele informou ao conselho que ia levantar US$ 40 milhões entre os acionistas — mesmo que isso significasse que ele seria o único acionista a investir. Acabou colocando cerca de US$ 20 milhões em dinheiro.

O gesto ajudou a convencer outros acionistas a irem um pouco mais fundo. Musk também começou uma campanha para obter empréstimos garantidos pelo governo do Programa de Empréstimos para Fabricação de Veículos de Tecnologia Avançada. A iniciativa era polêmica. Musk defendeu o pedido indicando que os dólares do governo já estavam indo para fabricantes de carros de alto consumo de combustível. O argumento funcionou. A Tesla conseguiu aprovação para um empréstimo de US$ 465 milhões.

A Tesla deverá faturar cerca de US$ 100 milhões em 2010, em vendas do Roadster e de baterias para carros elétricos. A SpaceX tem 40 lançamentos em seu cronograma — incluindo os acordos com a Nasa, um contrato de US$ 500 milhões com a gigante dos satélites Iridium e contratos com agências espaciais de Taiwan e da Argentina.

Agora, Musk planeja mais um trio de negócios ambiciosos. “O mais simples”, ele me diz, “é usar a engenharia aeroespacial para fazer um segundo andar sobre as estradas.” Ele pretende fundar uma empresa que vai criar plataformas pré-fabricadas com alumínio usado para projetos espaciais.

Seu desejo é colocar essas plataformas sobre a rodovia 405 de Los Angeles. “Isso seria moleza”, afirma.

Suas duas outras ideias são mais especulativas, mas não totalmente. Musk espera um dia voltar sua atenção para solucionar o problema da fusão nuclear comercial — isto é, gerar energia nuclear sem dejeto nuclear —, e projetar e fabricar um avião de emissão zero. “Seria um avião elétrico, supersônico, de decolagem vertical. Sei que também daria certo.”

Em 2002, Musk examinou a possibilidade de lançar uma estufa de plantas ao espaço e pousá-la em Marte. Mas depois de fazer três viagens à Rússia, ele soube que o lançamento de foguete mais barato custaria, no mínimo, US$ 20 milhões. “Era proibitivo”, diz.

“É cem vezes pior do que deveria ser, e não está melhorando. Os EUA quase não tinham infraestrutura de foguetes em 1960. Nove anos depois estávamos na Lua. Então você poderia pensar: claro, podemos ir a Marte hoje. De modo algum. Nós nem conseguimos voltar à Lua”.


A SpaceX está trabalhando em uma versão de seu foguete que usará dois motores extras de apoio para carregar até 35 toneladas em órbita. Musk diz que as partes necessárias para se construir uma espaçonave para Marte poderiam ser lançadas nesses foguetes mais potentes e depois montadas no espaço, assim como foi feito com a Estação Espacial Internacional.

Ou a SpaceX poderia erguer uma nave muito maior — “um foguete enorme e maluco que iria diretamente ao planeta vermelho”, diz Musk.

Nada disso, é claro, está pago, e não há um mercado para foguetes a Marte. “Estamos andando antes de correr”, diz Lori Garver, vice-administradora da Nasa. Até hoje o Falcon 9 só voou uma vez. Se sofrer um fracasso, qualquer conversa sobre Marte pareceria descartada. Nesse caso, é difícil imaginar Musk falindo graciosamente.

A maior preocupação de Musk é que, quando a humanidade finalmente estiver pronta para ir a Marte, ele esteja velho ou frágil demais para sobreviver à viagem. “Eu não quero ficar gagá lá em cima”, diz ele, acrescentando que idealmente estará em Marte em 2030 ou no máximo em 2040.

Mas mesmo isso parece ambicioso. Eu lhe pergunto se ele pode realmente fazer tudo o que pretende em sua vida. “Provavelmente”, afirma. “Possivelmente.”

Então faz uma pausa de alguns segundos para considerar a enormidade da pergunta. Ele terá 69 anos em 2040. “Trinta anos”, ele diz. “É o que percorri desde que eu tinha 9. Acho que posso realizar muita coisa nesse tempo.”

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