REAÇÃO
Henrique Meirelles (em primeiro plano) e Guido Mantega (ao fundo). Eles conseguirão atenuar os efeitos da crise no Brasil? Às voltas com a mais prolongada fase de prosperidade econômica em décadas, quando diversos indicadores sociais melhoraram e a classe média tornou-se maioria na sociedade, na semana passada o Brasil acordou para a maior crise da história do capitalismo desde 1929. O horror econômico que nasceu em Wall Street, espalhou-se pela Europa e hoje domina o coração de boa parte da Ásia tornou-se o assunto permanente nas conversas e temores de Brasília, dos grandes e pequenos empresários, da classe média que faz compras nos supermercados e do trabalhador ocupado em manter seu emprego. A preocupação se justifica a partir de um indicador básico da economia – o dólar. Num reflexo do esforço de investidores internacionais para retirar seus investimentos no Brasil, a moeda americana tem dado saltos que deixam o país nervoso. Desde 1o de agosto, quando o dólar atingiu sua menor cotação no ano, de R$ 1,55, ele já valorizou 50%. Apenas na sexta-feira, o dólar deu um salto de 6,5% – e fechou cotado a R$ 2,32. O preocupante é que o Banco Central fez três leilões sucessivos para oferecer dólares às empresas endividadas nessa moeda. Sem efeito. No mesmo dia, a Bovespa teve uma queda de 4%. No ano, a derrocada da principal Bolsa de Valores do país bateu em 44%. É verdade que há mais de um ano o Brasil recebera os primeiros sinais de uma tragédia que vinha de fora. Apesar das nuvens escuras na paisagem externa, parecia que, ao lado de outros países em desenvolvimento, o Brasil iria cumprir outro destino – "descolar-se" das mazelas do Primeiro Mundo, preservar o crescimento e a maior parte das conquistas recentes. O ambiente de confiança era tamanho que, há exatamente um mês, quando o governo americano estatizou a AIG, a maior seguradora do mundo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva reagiu com desdém às perguntas de repórteres que queriam saber se ele temia que a crise pudesse chegar ao Brasil. "Que crise?," perguntou. "Vai perguntar para o (presidente americano George W.) Bush." Lula ainda disse que os sinais da crise, se chegassem ao Brasil, "seriam imperceptíveis" (leia o quadro com as reações do governo à crise na página seguinte). Naquele momento, a atitude de Lula refletia uma visão de governo. O ministro da Fazenda, Guido Mantega, chegou a dizer na mesma época que "não devemos nos impressionar. O problema é lá, não aqui". Na prática, o caráter da crise americana confundiu autoridades do mundo inteiro. Os poucos economistas que alertavam sobre os riscos de um colapso eram ridicularizados. O próprio governo americano levou 13 meses para descobrir que não estava diante de uma crise igual a tantas outras. Essa visão mudou em toda parte – e a mudança chegou ao Brasil. A unanimidade dos observadores ouvidos por ÉPOCA na semana passada aponta para um conjunto de más notícias para os próximos meses e, em especial, para o ano que vem. É claro que o país vai sobreviver, manter seu parque industrial, preservar a maioria de seus empregos e de suas empresas – mas não há dúvida de que será machucado pela crise. Num país que hoje cresce perto de 6%, a maioria das estimativas para o fim de 2009 é de um crescimento pela metade, em torno de 3%. Boa parte das exportações será prejudicada pela falta de linhas de crédito em dólar para financiá-las – e provavelmente pela falta de consumidores em condições de comprar nossos produtos. Embora o dólar mais alto possa até beneficiar a exportação de manufaturados, as commodities são os principais produtos que vendemos no exterior. E a queda em seu preço certamente afetará o fluxo de riqueza para o Brasil. |
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