Nota de Vilma Gryzinski, publicada em edição impressa de VEJA
22/03/2013
Tema Livre
TEM ELEFANTE NA LINHA
Ameaçados por toda parte, grandalhões enfrentam ainda o risco dos trens
Em todo o mundo, o número de animais selvagens diminui exatamente pelo mesmo motivo: seu maior competidor aumenta sem parar. Mas só na Índia às causas humanas de sempre se soma a onipresente malha ferroviária.
Dos 9 000 trens que transportam 20 milhões de pessoas por dia, alguns passam por rotas de migração de elefantes e acabam produzindo cenas de cortar o coração, como a da foto acima. O atropelamento de elefantes já atiçou más vibrações entre a ministra do Meio Ambiente e o ministro dos Transportes Ferroviários, com este prometendo “medidas” para proteger a vida dos “gigantes gentis”.
Desde quando existe algum tipo de registro, os gigantes têm sido tratados na Índia de diversas maneiras, menos gentilmente. Capturados em seus territórios, domados com o emprego de técnicas cruéis e subjugados com correntes nas patas e instrumentos pontiagudos que seus domadores aplicam no ouvido ou na boca para doer bastante, os elefantes indianos já foram usados na guerra e continuam a dar duro na extração de madeira e, em menor extensão, na agricultura.
São lindas as procissões religiosas e festas de casamento com elefantes enfeitados, mas o bem-estar animal não é exatamente uma preocupação dominante. Em estado natural, existem hoje cerca de 26 000 elefantes da subespécie local – um para cada 46 000 indianos. [A principal diferença visível entre os elefantes indianos e os africanos está no tamanho das orelhas, muito mais curtas nos indianos. Praticamente todos os elefantes existentes em zoológicos brasileiros são indianos]
Um dos deuses mais populares do panteão hinduísta é Ganesh, o de cabeça de elefante, mas na vida real os animais são odiados pelos agricultores por destruírem plantações. Alguns chegam a envenenar parte dos cultivos para matar os comilões, que veem como invasores.
Da mesma forma, os condutores de trem se irritam com os bichos nos trilhos. Do ponto de vista dos gigantes sob risco de extinção, evidentemente é o contrário. Mas quem entende a linguagem dos elefantes?
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