A entrada de Lula no velório-comício

 

Na melosa mensagem aos participantes do Foro de São Paulo reunidos em Caracas, gravada em 6 de julho de 2012, o ex-presidente Lula incluiu o aviso aos eleitores venezuelanos: todos tinham o dever de premiar Hugo Chávez com mais um mandato. O bolívar-de-hospício merecia continuar no poder, explicou, tanto pelos serviços prestados ao país quanto pela inestimável contribuição à modernização política e econômica do continente. Só ele, segundo o amigo brasileiro, poderia completar o serviço ainda em andamento.
“Nossos países ainda são marcados pela pobreza e pela desigualdade”, explicou Lula no vídeo republicado na seção História em Imagens. Essa frase vale só para os outros, deveria ter ressalvado o falastrão que jura de meia em meia hora ter acabado com a pobreza em 2005, com a desigualdade social em 2007 e com a crise mundial em 2009 ─ o que lhe permitiu parir o Brasil Maravilha registrado em cartório no fim de 2010. A discurseira termina com o recado olho no olho endereçado a Chávez: “Tua vitória será nossa vitória”.
Nesta segunda-feira, novamente a bordo de um vídeo, o palanque ambulante voltou a atropelar fronteiras geopolíticas e regras diplomáticas elementares para intrometer-se ostensivamente em eleições presidenciais no país vizinho ─ agora como parceiro de Nicolás Maduro. Nove meses depois da declaração de apoio a um moribundo, resolveu recomendar a permanência no Palácio Miraflores do vice que virou titular sem ter disputado uma única eleição.
(Ele sempre tem algo a dizer sobre qualquer assunto. Menos sobre o escândalo que protagonizou ao lado da Primeira Gatuna Rosemary Noronha. Faz 130 dias que a Polícia Federal desbaratou a quadrilha que, com as bênçãos do ex-presidente, transformou em esconderijo o escritório da Presidência da República em São Paulo. O protetor de Rose ainda não deu um pio sobre a lucrativa chanchada pornopolítica).
“Não quero interferir nos assuntos internos da Venezuela”, promete Lula num trecho da gravação abaixo reproduzida. Em seguida, faz o contrário: “Uma frase resume tudo que sinto: Maduro presidente é a Venezuela que Chávez sonhou”. Se país nenhum merece ser dirigido por gente assim, essa gente decididamente se merece. Chávez inventou a posse sem empossado, o gabinete na UTI e o governo do Além. Maduro inventou o emprego de zelador de cadáver bom de voto. E Lula, para ensinar o povo a escolher um poste, transforma até câncer em cabo eleitoral.
Nenhum dos três poderia ficar fora do primeiro velório-comício da história destes trêfegos trópicos.

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