01/11/2013
Reportagem de Daniel Pereira, publicada em edição impressa deVEJA
A POLÍTICA MENOR
A velha política e a política velha vão continuar permeando a disputa em 2014, apesar das palavras de ordem em sentido contrário
Desde junho, quando milhões de brasileiros foram às ruas para protestar contra a corrupção e a péssima qualidade dos serviços prestados à população, governantes e parlamentares passaram a entoar a mesma cantilena em defesa de uma “nova política”.
Da direita à esquerda, incluindo os partidos cuja única ideologia é beneficiar-se de recursos públicos, todos prometem fazer mais, fazer diferente e fazer de forma republicana. Até agora, nenhum político foi capaz de explicar como a eficiência e a moralidade serão, enfim, apresentadas à nação. Não importa, não faz diferença.
O acirramento da corrida presidencial já deixou claro que o discurso renovador não passa de balela e mero marketing eleitoral. No mundo real, é a “velha política” movida a engodos oficiais, acordos de conveniência e troca de favores – que vai continuar a ditar as regras do jogo.
No último dia 16, a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, entregou à população, na Bahia, casas sem água nem luz. Já o governador de Pernambuco, Eduardo Campos, favorito no PSB para concorrer ao Planalto, inaugurou uma escola que funcionava havia meses.
Atos assim, pensados para servir mais de palanque e menos de prestação de contas, são uma tradição nacional. Era uma marca do ex-presidente Lula, de quem Dilma e Campos foram ministros, percorrer o país para assinar ordens de serviço e inaugurar trechos de obras consideradas prioritárias, mas jamais concluídas, como a transposição do Rio São Francisco.
Mas é outro hábito da velha política – compartilhado por todos os presidentes eleitos após a redemocratização – que chama atenção nessa suposta nova fase. Apesar das promessas de moralização, os principais concorrentes à Presidência disputam a peso de ouro o apoio de ícones da barganha, acusados de corrupção e figuras notórias por atentar contra o Código Penal. Tudo sem constrangimento.
Porta-bandeira da nova política, a ex-ministra Marina Silva, que fechou uma aliança com Eduardo Campos para 2014, é crítica feroz do fisiologismo e, dias atrás, acusou a base governista de chantagear a presidente Dilma. O PMDB é o principal expoente do tal fisiologismo e da tal base. Seria natural, portanto, que Campos não o cortejasse. Seria, mas ocorre exatamente o contrário.
O governador sabe que o PMDB dificilmente deixará de apoiar a presidente, mas quer contar com a ajuda de velhas raposas do partido nos Estados. A lista de caciques cobiçados por Campos inclui o senador Jader Barbalho, o ex-governador Iris Rezende e o ex-deputado Geddel Vieira Lima.
Barbalho já renunciou uma vez ao mandato de senador, para fugir da cassação, depois de ser acusado de surrupiar verbas públicas. Pelo mesmo motivo, passou alguns dias na prisão. Geddel é conhecido pelo apetite voraz.
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