Filhos de Benedita viram réus por trabalho fantasma

 

Segundo MP, eles ficaram cedidos por dez meses à Uerj, onde não apareciam

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13/08/2014
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RIO — Os dois filhos da deputada federal Benedita da Silva, candidata à reeleição pelo PT, viraram réus na Justiça por receberem salários, sem trabalhar, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj). Segundo denúncia feita pelo Ministério Público por ato de improbidade administrativa, Pedro Paulo Souza e Silva e Nilcea Aldano Pereira da Silva foram beneficiados irregularmente, entre abril de 2010 e fevereiro de 2011, com vencimentos que somaram R$ 143.700 no período.

Também são réus no processo, desde 29 de maio deste ano, na 1ª Vara de Fazenda Pública, o reitor da universidade, Ricardo Vieiralves de Castro; o presidente da Câmara, Jorge Felippe (PMDB); e mais quatro servidores da instituição suspeitos de terem participado do esquema.

Na ação civil pública, a promotora Gláucia Maria da Costa Santana afirma ainda que Benedita usou de tráfico de influência para ajudar os filhos na contratação. De acordo com a denúncia, Benedita conhece Vieiralves de Castro desde a década de 1970, quando ele era "militante social".

Pedro Paulo e Nilcea são funcionários da Câmara dos Vereadores do Rio desde 1987. Os irmãos foram cedidos à Uerj em 1º de abril de 2010. Os dois foram lotados no gabinete do reitor da universidade. No entanto, diligências realizadas pelo MP constataram que eles nunca estiveram no local para trabalhar.

AMBOS DE LICENÇA DA CÂMARA

De acordo com a promotora, os depoimentos de Pedro Paulo, Nilcea, Vieiralves de Castro e dos servidores ao MP foram contraditórios. Na primeira oitiva, Nilcea disse desempenhar o mesmo trabalho da Câmara: receber processos, atender pessoas e realizar tarefas passadas pelo reitor. No segundo depoimento, porém, afirmou que fez levantamento de usuários de drogas para a Uerj.

Pedro Paulo contou inicialmente que atuava como mensageiro da universidade e, em outro depoimento, revelou que fez um "grande trabalho" sobre violência e a demanda do crack. Ao MP, ele disse que não se recordava do nome do reitor nem de ninguém que trabalhava na reitoria.

"Tais depoimentos possuem tantas contradições e são tão inverossímeis, mormente quando confrontados com demais depoimentos e provas dos autos, que restou clara a prática de falsidade ideológica pelos demandados", escreveu a promotora.

Atualmente, Pedro Paulo está lotado na diretoria de material e serviço da Câmara, com salário de aproximadamente R$ 13 mil. Segundo funcionários do setor, ele entrou de licença especial por nove meses. Já Nilcea aparece como funcionária da diretoria geral de administração da Casa, com vencimento de R$ 11 mil, e está de licença até fim de outubro. Procurados pelo GLOBO, eles não foram encontrados.

Benedita negou ter feito tráfico de influência:

— Não tenho nada a ver com tráfico de influência. É interessante falar deste assunto em um momento desses (campanha eleitoral). Mas não me diz respeito. Se eles tiverem que responder (na Justiça), vão responder. Não sou eu. Haverá julgamento, e eles vão apresentar a defesa.

Em 1992, Pedro Paulo foi acusado de falsificar diploma de nível superior para ser contratado como assessor parlamentar na Câmara. Na época, a ex-governadora, então candidata à prefeitura, disse que desconhecia o fato.

Em nota, Jorge Felippe disse que "questões inerentes ao funcionalismo são desvinculadas da presidência": "No referido processo, os diretores dos dois órgãos afirmaram, em depoimento, que os servidores trabalhavam normalmente, desde que retornaram à Câmara, e que a diligência realizada por técnicos do Ministério Público para confirmação de que os servidores cumpriam com as obrigações funcionais ocorreu justamente no período da licença especial. Por fim, reforçamos que questões inerentes ao funcionalismo do Legislativo municipal são, regimentalmente, desvinculadas da presidência da Casa".

Procurado pelo GLOBO, Vieiralves de Castro não retornou as ligações.



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