Em 1978, dois psicólogos, Russell Clark e Elaine Hatfield, fizeram o que se tornou uma famosa experiência sobre o desejo sexual. Utilizando voluntários, eles fizeram alunos da Universidade Estadual da Flórida, nos EUA, abordarem as pessoas no campus com algumas frases pré-definidas.
Os voluntários tinham sempre a mesma frase de início: “Tenho notado você no campus. Eu acho você muito atraente”, eles diziam. Eles variaram o que diziam a seguir de acordo com uma de três opções escolhidas aleatoriamente. Ou “você quer sair hoje à noite?”, ou “você quer ir ao meu apartamento?”, ou “você gostaria de ir para a cama comigo?”.
Na pesquisa de Clark e Hatfield, homens e mulheres foram abordados (sempre por voluntários do sexo oposto). A medida crucial era se eles diziam sim ou não. E você provavelmente pode adivinhar os resultados: embora homens e mulheres estivessem igualmente propensos a aceitar a oferta de uma encontro (cerca de metade disse que sim e metade disse não), os dois sexos diferiram dramaticamente na forma como responderam à oferta de sexo casual. Nenhuma das mulheres abordadas disse sim à oferta de sexo com um completo estranho. Três quartos dos homens o fizeram (mais do que aqueles que diziam sim às ofertas de um simples encontro).
Uma questão de interpretação
Desde que este experimento foi feito, a controvérsia se desencadeou sobre como ele deve ser interpretado. Uma linha de pensamento é que os homens e as mulheres fazem escolhas diferentes por causa de diferentes impulsos sexuais, impulsos estes que são diferentes por motivos biológicos profundamente ligados à lógica da evolução. Segundo essa lógica, há um limite rígido sobre quantas crianças uma mulher pode ter, portanto ela deve estar focada na qualidade de seus parceiros sexuais – ela quer que eles invistam na criação dos filhos, ou pelo menos façam uma contribuição genética de alta qualidade . Se ela tem um filho com o parceiro errado, ela desperdiça uma oportunidade, pois tem um número muito limitado de oportunidades para se reproduzir. Então ela deve ser exigente.
Um homem, por outro lado, não estaria tão preocupado com a qualidade. Não há limite real sobre o número de crianças que ele pode ter, por isso ele deve agarrar cada oportunidade sexual que pode, independentemente do parceiro. Os custos são baixos, existem apenas benefícios.
Esta lógica evolutiva, implacavelmente focada na reprodução e na sobrevivência, fornece uma teoria coerente para as diferenças que Clark e Hatfield observaram, mas não é a única explicação.
O problema é que os participantes neste experimento não são representantes abstratos de todos os homens e mulheres humanos. Eles são determinados homens e mulheres de um determinado lugar e tempo, que existem em um contexto social específico – estudantes universitários na sociedade americana no final do século 20. E a nossa sociedade trata homens e mulheres de forma muito diferente.
Que tal esta outra alternativa: talvez os impulsos sexuais de homens e mulheres sejam bastante semelhantes, mas o experimento apenas mede o comportamento que é tão moldado pela sociedade quanto pela biologia.
Tirando o fator social
Este mês, uma nova pesquisa publicada na revista Archives of Sexual Behavior (Arquivos do Comportamento Sexual, em tradução livre) fornece uma grande ajuda para que consigamos responder se as mulheres realmente não querem sexo tanto quanto os homens.
Dois pesquisadores alemães, Andreas Baranowski e Heiko Hecht, replicaram o estudo original de Clark e Hatfield, mas com algumas mudanças vitais. Primeiro, eles mostraram que o resultado original ainda se mantém, mesmo entre estudantes universitários alemães no século 21 – e eles mostraram que ainda se mantém mesmo se você perguntasse a pessoas em uma boate em vez de um campus universitário. Mas a dupla argumenta que um fator para as mulheres responderem de forma negativa a convites sexuais pode ser o medo – medo de danos à reputação em uma cultura que julga a atividade sexual das mulheres de forma diferente dos homens, e medo de dano físico de um encontro com um desconhecido do sexo masculino. Eles citam um estudo que constatou que 45% das mulheres norte-americanas já foram vítimas de violência sexual de algum tipo.
Assim, a fim de descobrir se as mulheres nesses experimentos foram reprimidas pelo medo, eles projetaram um cenário para fazer os participantes acreditarem que poderiam aceitar ofertas de sexo sem medo de alguém descobrir e sem a possibilidade de algum perigo físico. Os participantes foram convidados a ir até um laboratório com a desculpa de que estariam ajudando uma empresa de namoro a avaliar o seu algoritmo de classificação de compatibilidade.
Homens e mulheres foram apresentados a dez fotos de membros do sexo oposto e levados a acreditar que todos os dez já haviam concordado em se encontrar com eles (para um encontro ou para sexo casual). Com estes e alguns outros detalhes convincentes, os pesquisadores esperavam que os participantes revelassem suas verdadeiras atitudes em relação a se encontrar, ou fazer sexo, com totais estranhos, desimpedidos pelo medo do que poderia acontecer a eles se dissessem sim.
Os resultados foram dramáticos. Desta vez, não houve diferença entre os encontros e os cenários de sexo casual e grandes proporções de homens e mulheres aproveitaram a chance de encontrar-se com um estranho com potencial para o sexo – 100% dos homens e 97% das mulheres no estudo aceitariam se encontrar para um encontro ou para fazer sexo com pelo menos um parceiro. As mulheres que pensavam que tinham a oportunidade de encontrar-se com os homens por sexo escolheram uma média de pouco menos de três homens que elas gostariam de se encontrar. Os homens escolheram uma média de pouco mais de três mulheres.
Os homens não são de Marte – nem as mulheres
O estudo sugere fortemente que a imagem da mulher como sexualmente exigente e conservadora merece uma grande reflexão. Nas circunstâncias experimentais corretas, o desejo sexual das mulheres é semelhante ao dos homens. Experimentos anteriores tiraram conclusões sobre biologia, quando na verdade eles eram baseados em experimentos sobre o comportamento, que é em grande parte determinado pela sociedade.
Havia ainda uma diferença de gênero nesse novo experimento – homens escolheram mais parceiras em cada dez para se encontrar, mas ainda não podemos dizer que o efeito da nossa cultura foi totalmente apagado. Todas as pessoas no experimento esperavam atitudes diferentes para o seu comportamento sexual com base no seu sexo e esperavam diferentes riscos de dizer sim para encontros sexuais (ou de dizer sim e, em seguida, mudar de ideia).
Mesmo com algo tão biológico quanto o sexo, ao estudar a natureza humana, não é fácil separar o efeito da sociedade sobre a forma como pensamos, sentimos e agimos. Este novo estudo dá uma atualização importante para uma velha história de investigação que muitos interpretaram como se definissem diferenças inalteráveis entre homens e mulheres. A verdadeira moral pode estar na importância de realizar mudanças na forma como a sociedade trata homens e mulheres. [Medical Xpress]
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