Um arco-íris é visto a partir da estátua da Justiça no Supremo Tribunal Federal, onde foi retomado nesta terça-feira o julgamento do mensalão
Nos bastidores,
ministros do Supremo tidos como simpáticos à gestão da presidente começam a
questionar a petista (Pedro Ladeira/Frame/VEJA)
Ministros do Supremo Tribunal
Federal, tidos como simpáticos à gestão da presidente Dilma Rousseff, têm
começado a questionar a petista em conversas de bastidores.
Até o fim do ano
passado, o STF parecia ao Planalto um palco mais amistoso do que o Congresso,
mas o panorama mudou nos últimos dias com o agravamento da crise.
O abandono do
governo dentro da Corte vai além da perspectiva sobre o impeachment.
Integrantes do Tribunal dizem, reservadamente, ver indicativos claros de que há
indícios para investigar a presidente por tentativa de obstrução da Justiça em
razão da indicação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a chefia da
Casa Civil.
O sinal foi dado, na avaliação de um ministro, na decisão do
plenário desta semana, que manteve no Supremo os grampos de Lula.
"Para afirmar o que a maioria do
Tribunal afirmou, é preciso reconhecer que há indícios de infração penal (por
parte de Dilma)", diz um ministro que participou do julgamento.
Na
avaliação dele, o caso só foi mantido na Corte porque há suspeita de
irregularidades cometidas pela presidente, que tem prerrogativa de foro.
Do
contrário, o caso poderia ser conduzido na primeira instância pelo juiz Sérgio
Moro.
Relator da Operação Lava Jato no STF,
o ministro Teori Zavascki não entrou, durante o julgamento, no mérito da
discussão sobre uma eventual investigação de Dilma - que precisa ser solicitada
pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot -, mas deu indicativos, na
interpretação desse integrante do Tribunal, de que há gravidade na conversa.
A análise sobre a deterioração do
governo extrapola os gabinetes dos ministros tradicionalmente críticos a Dilma
e agora faz parte do discurso de magistrados contabilizados pelo Palácio do
Planalto, até hoje, como votos governistas.
Um ministro da Corte com boa
interlocução com o Executivo já tem feito previsões de que o "triunvirato
peemedebista" deve prosperar até a metade do ano.
A expressão é uma
referência interna à possibilidade de o vice-presidente da República, Michel
Temer, assumir o governo no caso de afastamento, tendo como colegas de partido
os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), e do Senado, Renan Calheiros
(AL).
"O trem saiu da estação."
É
assim que outro ministro define o processo "sem volta" de afastamento
de Dilma.
Para o mesmo magistrado, o Brasil vive uma crise aguçada por ações
desastradas no campo econômico e o "fundo do poço parece nunca
chegar".
O coro é reforçado por um terceiro integrante do Tribunal, para
quem o impeachment se dá pelo esfacelamento da base aliada diante da derrota do
presidencialismo de coalizão na gestão Dilma.
Nomeado ao STF pelo ex-presidente
Luiz Inácio Lula da Silva, Dias Toffoli se afastou do Planalto durante o
primeiro mandato de Dilma e se aproximou do maior desafeto de petistas hoje no
Tribunal: o ministro Gilmar Mendes.
Interlocutor do Planalto no Judiciário
avalia que outros dois ministros, Celso de Mello e Cármen Lúcia, têm
demonstrado decepção com o governo do PT.
Quem mantém o contraponto às vozes
críticas ao governo é Marco Aurélio Mello, A INDICAÇÃO DA FILHA DO MINISTRO COMO DESEMBARGADORA NO 'TRF2' FEITA POR DILMA, INFELIZMENTE FEZ COM QUE O MINISTRO PENSE SEMPRE A FAVOR DO GOVERNO. LAMENTÁVEL, POIS ESTE SEMPRE FOI MUITO ÉTICO E BRILHANTE EM TODA SUA TRAJETÓRIA.
(Com Estadão Conteúdo)
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