Apresentado pelo senador José Serra (PSDB-SP), o Projeto de Lei 9.212/2017 foi aprovado pelo Senado em novembro e está em análise na Câmara.
Como
as eleições podem mudar com o voto distrital misto.
Apresentado pelo senador José
Serra (PSDB-SP), o Projeto de Lei 9.212/2017 foi aprovado pelo Senado em
novembro e está em análise na Câmara
Um projeto em tramitação no Congresso poderá mudar a
forma de votar e de ser eleito no País. Ele propõe a adoção do sistema do voto
distrital misto - uma combinação do voto proporcional, hoje em vigor, com o
distrital - para a eleição de deputados federais, estaduais e vereadores.
Apresentado
pelo senador José Serra (PSDB-SP), o Projeto de Lei 9.212/2017 foi aprovado
pelo Senado em novembro e está em análise na Câmara. O deputado Felipe
Francischini (PSL-PR), presidente da Comissão de Constituição e Justiça e de
Cidadania, disse que deve avaliar a retomada das discussões sobre o tema na
reunião com os coordenadores de bancada nesta terça-feira, 1.
O
substitutivo do deputado Samuel Moreira (PSDB-SP), relator do projeto, manteve
basicamente o texto aprovado no Senado, incorporando sugestões do grupo de
trabalho formado para analisar o assunto no Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
coordenado pelo ministro Luís Roberto Barroso, vice-presidente da Corte.
Entusiasta do sistema, também defendido pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia
(DEM-RJ), Barroso chegou a dizer que a adoção do voto distrital misto
representará "a redenção política do Brasil".
Há
outras propostas, porém, em discussão. Duas são de autoria da deputada Renata
Abreu (Podemos-SP). Uma prevê a adoção do chamado "distritão", pelo
qual os mais votados são eleitos sem levar em conta o quociente eleitoral, em
todos os municípios do País. A outra propõe a combinação do voto distrital com
o "distritão" em municípios com mais de 200 mil eleitores, e só o
"distritão" em municípios menores.
Já
deputado Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP) propõe a adoção do voto
distrital puro para a escolha de vereadores em cidades com mais de 200 mil
habitantes e do "distritão" em municípios de menor porte.
Critérios
geográficos
Para
dar a sua contribuição ao debate sobre a questão, o Estado publica, com esta
reportagem especial, um estudo exclusivo realizado pelo Centro de Liderança
Pública (CLP), com apoio do professor Örjan Olsén, da Analítica Consultoria,
especializado em análise de dados e em eleições. O levantamento apresenta, a
partir da definição de 257 distritos em todo o País, uma simulação de como
seriam os resultados da eleição de 2018 para deputado federal e como ficariam
os gastos de campanha se o sistema de voto distrital misto já estivesse em
vigor.
Segundo
o estudo, haveria a renovação de cerca de 25% na Câmara com o sistema. Dos 513
deputados, 382 tenderiam a manter a vaga, sendo 252 pelo voto em lista e 130
pelos distritos. Provavelmente, 131 deputados não seriam eleitos.
"Esse
estudo é importante para as pessoas tirarem suas dúvidas e começarem a
visualizar o sistema e a se acostumar com ele. Pode parecer uma coisa complexa,
mas não é", afirma o cientista político Luiz Felipe D'Avila, fundador e
presidente do conselho consultivo do CLP, que há dez anos apoia essa bandeira.
"O objetivo do estudo foi mostrar que é possível dividir o Brasil em
distritos, para a escolha de deputados federais e estaduais, e que dá para
fazer isso a partir de critérios geográficos imunes à manipulação política",
diz Olsen.
Ao
contrário do que desejava um grupo de parlamentares e de analistas que apoiam o
projeto, incluindo o próprio Serra, ele dificilmente valerá para as eleições
municipais de 2020. Para tanto, teria de ser votado e aprovado pela comissão e
pelo plenário, ser devolvido ao Senado para nova votação, já que deverá sofrer
modificações na Câmara, e sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro até a
próxima sexta-feira, 4, um ano antes das eleições.
Dinâmica
da política
Faltando
só três ou quatro sessões legislativas para a data-limite, o mais provável, de
acordo com Samuel Moreira, é que o projeto seja analisado sem pressa, com foco
nas eleições de 2022, para deputados estaduais e federais.
"Acredito
que, neste momento, em função da dinâmica da política nacional, com vários
temas em andamento no Congresso, seja muito difícil ele ser aprovado num prazo
tão curto, já para 2020", diz Moreira. "Nesta eleição, já vamos ter
um grande avanço com o fim das coligações proporcionais. Isso já deve levar a
uma redução do número de partidos na disputa, porque nem todos conseguirão ter
chapa exclusiva em todas as cidades."
Como
funciona
Pelo
sistema distrital misto, adotado em diversos países, metade dos deputados
federais, estaduais e vereadores é eleita por lista partidária. A outra metade
é eleita pelos distritos. O eleitor, portanto, vota duas vezes, uma no voto em
lista e outra no seu candidato no distrito.
O número de distritos, em geral, é igual à metade do
número de deputados federais, estaduais e vereadores de uma determinada
circunscrição (Estado ou cidade). A lista pode ser aberta, quando o eleitor
pode votar nominalmente num candidato, ou fechada e preordenada, quando ele só
pode votar no partido e as legendas é que definem a ordem dos candidatos para
os quais os votos serão atribuídos.
Voto proporcional
No Brasil, o
principal projeto em tramitação no Congresso prevê a adoção do sistema de lista
fechada em combinação com o voto distrital para deputados federais e estaduais
e para vereadores em cidades com mais de 200 mil habitantes. Nos municípios
menores, a ideia é adotar apenas o sistema de lista fechada preordenada. A proposta
também prevê que os candidatos poderão concorrer tanto pela lista quanto pelo
distrito. A proposta estabelece ainda que os distritos poderão ter uma
diferença de, no máximo, 10% para mais ou para menos em relação à media de
eleitores por distrito numa circunscrição.
Como a Constituição
prevê o voto proporcional para a eleição de deputados estaduais e federais, só
seria possível mudar o sistema proporcional por meio de uma Proposta de Emenda
Constitucional (PEC). Mas, com o objetivo de facilitar a aprovação no
Congresso, as propostas foram apresentadas como projetos de lei, que exigem
maioria simples, enquanto as PECs precisam ser aprovadas em dois turnos por 3/5
do Legislativo.
feito com base no resultado obtido no voto de lista.
Os eleitos pelo distrito, porém, terão primazia sobre os de lista caso uma
legenda conquiste mais vagas pelo distrito do que lhe couber pelos votos na
legenda.
Critérios para chegar aos eleitos
Para entender o
estudo feito pelo Centro de Liderança Pública (CLP), com apoio do professor
Örjan Olsén, da Analítica Consultoria, a chave é focar em dois aspectos: o
perfil de cada candidato e a definição dos distritos eleitorais.
De início, Olsén
classificou os 8.055 candidatos a deputado federal de acordo com a distribuição
geográfica do eleitorado de cada um. Depois, ele peneirou o grupo, ficando
apenas com os que tiveram pelo menos 25% do quociente eleitoral de seu Estado,
reduzindo o grupo para 1.369 candidatos considerados competitivos. Por fim, ele
separou os remanescentes em três categorias, conforme a geografia dos votos
recebidos na eleição de 2018: votos em lista, distrital e misto.
Para desenhar os
distritos eleitorais, ele dividiu o número de deputados de cada Estado por
dois, como prevê o principal projeto que está em tramitação na Câmara,
apresentado pelo senador José Serra e aprovado no Senado em 2018. São Paulo,
que tem 70 deputados federais, foi dividido em 35 distritos, cada um
responsável pela eleição de um parlamentar.
Para buscar a obtenção de um resultado confiável, Olsén usou as microrregiões e
as macrorregiões do IBGE como base, criando distritos contíguos e com
características socioeconômicas semelhantes. Ele também levou em conta a
necessidade de que cada distrito tivesse uma diferença de no máximo 10% em relação
à média de eleitores por distrito em cada Estado, como determina também o
projeto em discussão na Câmara.
Com os distritos
prontos e os candidatos separados por categorias, ele usou os dados do Tribunal
Superior Eleitoral para fazer a simulação da disputa nos distritos e pela
lista, chegar aos nomes dos mais e dos menos competitivos no sistema e apurar
como isso afetaria a composição da Câmara e as bancadas de cada partido. As
informações são do jornal O Estado de
S. Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário