Mesmo ausente, deputado pivô da crise que tirou a deputada Luiza Erundina da chapa petista foi hostilizado por militantes
Thais Arbex
Com vaias da militância petista ao deputado Paulo Maluf, o PT oficializou na tarde deste sábado a candidatura de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo. Adversário histórico do partido na capital paulista, Maluf foi vaiado quando citado por seu representante, Jesse Ribeiro, secretário-geral do PP. Maluf, que não compareceu ao ato porque viajou para Campos do Jordão, no interior do estado, para participar da abertura do 43º Festival de Inverno, foi o pivô da crise na campanha petista, que acabou com a decisão da deputada Luiza Erundina de desistir de ser vice na chapa. Citada, ela foi ovacionada pela militância.
“Se tem um homem na política brasileira que não se pode rotular de medroso, esse homem é Paulo Maluf. Ele enfrentou o AI-5 para ser governador”, afirmou Jesse, ao ser questionado se o deputado teria evitado a ida ao ato por medo da militância petista. “Nosso partido não reprime nenhuma manifestação. Pelo contrário. Nós aceitamos vozes de todos os tipos dentro da nossa comunidade, mas nós precisamos de um governo de coalização na cidade de São Paulo. Nossa aliança é com forças políticas. Todas as forças políticas são bem-vindas”, declarou Haddad.
Na prática, porém, a união com Maluf, patrocinada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, nos jardins da casa do deputado em São Paulo, deu ao PT os tão desejados minutos a mais no horário eleitoral gratuito, mas o tirou a “vice dos sonhos”, a ex-prefeita Luiza Erundina - que embora já tenha garantido participar da campanha do ex-ministro da Educação, não compareceu porque está rouca e com uma forte gripe, de acordo com a sua assessoria de imprensa. Erundina, no entanto, fez questão de ligar para a sua substituta, Nádia Campeão, para apoiar a indicação de nome.
Lula, que já havia avisado que não participaria do ato, passou o dia em seu apartamento, em São Bernardo do Campo, na região do ABC, em São Paulo. E a sempre ausente senadora Marta Suplicy pôs fim, nesta sexta-feira, ao resto de esperança que o PT ainda tinha de vê-la fazendo campanha para Haddad, ao sinalizar que não pedirá votos para o afilhado de Lula, e não compareceu ao ato. “O tempo dela é o tempo dela. Vou respeitar sempre a prefeita Marta. Tenho muito orgulho de ter servido ao governo dela”, disse o ex-ministro.
Críticas a Kassab - Sem Lula e Maluf, Fernando Haddad subiu ao palanque e fez um discurso incisivo, com críticas à gestão do prefeito Gilberto Kassab, que classificou como “antidesenvolvimentista, truculenta e repressiva”. O ex-ministro afirmou ainda que a administração da capital paulista tem agido de maneira “mesquinha e provinciana” ao desprezar as parcerias com o governo federal, comandado por Dilma Rousseff, do PT. “Foi um crime ter abdicado dos recursos federais para não compartilhar o sucesso do governo Lula. Agora, a conta do fracasso chegou e ele não vai ter com quem compartilhar. Vai ter que engolir essa sozinho”, disse Haddad em seu discurso. O petista foi aplaudido pelos militantes ao afirmar que “o prefeito anda ocupado, perseguindo ambulantes com deficiência e moradores de rua”. “Pela primeira vez, vi um prefeito preocupado em criminalizar a caridade.”
Mais cedo, ao participar da convenção do PCdoB, que aprovou a coligação com o PT, Haddad já havia feito criticado Kassab, a quem acusou de “prefeito de meio período”, em referência ao fato de ele ter se dedicado no último ano à criação de seu partido, o PSD. “O prefeito gasta metade do tempo para cuidar da cidade e metade para suas intenções partidárias”, declarou. O petista também direcionou críticas a seu maior adversário, José Serra, do PSDB, afirmando que “São Paulo não pode mais conviver com um prefeito de meio mandato”, em alusão à saída do tucano da Prefeitura de São Paulo, em 2006, para concorrer ao governo do estado. Mais cedo, a vice da chapa, Nádia Campeão, afirmou que “tem gente que está com a cabeça em outra disputa”, em referência à possibilidade de Serra concorrer à Presidência da República em 2014.
Embora o seu partido, o PCdoB, faça parte da administração municipal, comandando a Secretaria Especial de Articulação da Copa de 2014 (Secopa), Nádia afirmou que as críticas de seu companheiro de chapa não causam constrangimento. “Sempre estivemos em candidaturas de oposição ao prefeito. Nós não tivemos participação no programa e nas linhas da administração”, justificou. Segundo ela, quando Kassab convidou o PCdoB para assumir a secretaria, os comunistas deixaram claro “que não teria nenhuma relação com a disputa de 2012, haveria total independência do nosso posicionamento”. “Nós temos críticas à gestão, compartilhamos de muitas das críticas à gestão. É uma gestão insuficiente para os desafios de São Paulo. É um governo mediano, que não conseguiu dar ritmo à administração municipal para acompanhar os desafios da metrópole”, afirmou.
Protocolo - O ato do PT, que teve caráter protocolar, reuniu cerca de 500 pessoas no salão nobre da Câmara Municipal de São Paulo. Serviu apenas para cumprir o calendário da Justiça Eleitoral, que determina que os partidos têm até o dia 30 para escolher os candidatos a prefeito, a vice e a vereador. Os 15 membros da executiva municipal do PT em São Paulo referendaram a decisão do dia 2 de junho, quando o partido fez um megaevento para quase 3.000 militantes, no Centro de Convenções do Expo Center Norte, na zona norte da cidade, para aprovar a candidatura de Fernando Haddad e lançar, sob a direção do marqueteiro João Santana, o slogan, o logotipo e o jingle da campanha petista.
O evento deste sábado em nada lembrou a “festa política” que reuniu petistas dos mais diversos escalões para celebrar o nome de Haddad. Também foi oficializada a coligação proporcional do PT com PSB e PP, que lançará um total de 110 postulantes a vereador - sendo 73 petistas, 22 socialistas e 15 progressistas. O PCdoB optou por não entrar no chapão. Vai lançar 83 candidatos, limite estabelecido pela lei eleitoral.
PCdoB e PSB - O PCdoB também realizou neste sábado, em uma universidade particular da zona sul da cidade, sua convenção para que a militância comunista aprovasse a decisão da cúpula do partido de desistir da pré-candidatura do vereador Netinho de Paula a prefeito da capital paulista em prol da aliança com o PT. Dizendo-se com o "coração ferido", Netinho usou o palanque da convenção comunista para cobrar que seu partido trabalhe para lançar candidatura própria na próxima eleição. “A desistência nada mais é do que a alteração de uma rota idealizada”, disse.
O partido aposta no vereador como puxador de votos para aumentar sua bancada na Câmara Municipal e, ao menos, reeleger o vereador Jamil Murad e conseguir uma cadeira para o ex-ministro do Esporte Orlando Silva. “Eu quero estar ao seu lado, Netinho, quero aprender com você porque tem coisas que a gente não aprende na universidade. Só aprende na vida, como você”, afirmou Haddad. Ao final do evento, quando o petista se preparava para deixar a universidade pelos fundos, o ex-ministro Orlando Silva ensinou ao estreante em eleições: Haddad, você tem que sair pela frente e passar no meio da militância. Dica acatada, fotos e abraços para todos os lados.
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