Você sabe quem decide a cotação do dólar?
Em transações financeiras, principalmente nas realizadas entre diferentes países, é comum se utilizar o dólar como parâmetro de preço, e o valor desta moeda pode mudar diariamente
Por Juliana Almeida | Yahoo Contributor Network – qui, 24 de out de 2013
Atualmente, o Brasil trabalha com câmbio flutuante, ou seja, permite que o preço da moeda estrangeira, neste caso, o dólar, seja determinada pelas condições do mercado (transações internas e externas). O preço do dólar no Brasil é afetado por diversos fatores, entre eles, transações do governo, de investidores internos e externos, empresas, e, suas transações pessoais.
Para te ajudar a entender melhor, o advogado e diretor do site Comparação de Fundos, Daniel Resende mostra aqui algumas explicações sobre como funciona a cotação do dólar.
Resende explica que a cotação do dólar perante o real é influenciada por dois grandes fluxos: o fluxo de bens, que é composto pelas exportações e importações, sendo que, o saldo destas transações (exportações menos importações) é chamado de exportações líquidas. O outro fluxo é o de capitais, o qual envolve a remessa de recursos financeiros ao exterior por residentes e o ingresso de recursos financeiros de estrangeiros no país. O saldo deste fluxo (investimento externo de residentes menos recursos recebidos de estrangeiros) é chamado de investimento externo líquido. Cada transação internacional é uma troca, e, tudo que afeta um lado da balança, afeta também o outro.
Com esta primeira explicação, pode parecer que você, caro leitor, não participa deste fluxo, entretanto, como afirma Resende, quando uma pessoa compra diretamente um produto pela internet ou pedindo para um amigo trazer do exterior, ela está importando diretamente um produto estrangeiro. Outras transações eventuais realizada pelas pessoas promovem importações mesmo que ela não perceba, pois, ao comprar um celular, a pessoa adquire um aparelho fabricado no exterior. O mesmo acontece quando ela assiste a um filme de Hollywood ou compra um aplicativo para smartphone. Esse gasto acabará sendo em parte enviado para outros países.
Outro exemplo menos óbvio é que, em uma simples busca no Google ou navegação no Facebook, você promove a importação de serviços de publicidade, prestados por esses sites a anunciantes brasileiros cujo público-alvo é... você. O turismo também é um exemplo que não pode ser esquecido. Quando um brasileiro faz compras em Miami, importamos. Quando um estrangeiro vem ao Brasil e consome, exportamos.
Os fluxos de capitais estrangeiros mais comuns são aqueles destinados ao investimento financeiro (em títulos públicos, privados ou ações na bolsa, por exemplo) e empréstimos. Esse fluxo é atraído pelas altas taxas de juros. Outra forma é o chamado investimento estrangeiro direto, quando o investidor adquire participação relevante em empresas no Brasil. A contrapartida do investimento estrangeiro no Brasil é a remessa de juros e dividendos para o exterior ou o pagamento de royalties.
Por outro lado, brasileiros também investem recursos no exterior. Essa medida foi muito utilizada por empresários, altos executivos e profissionais liberais nos anos de inflação alta e insegurança bancária, para proteger seu patrimônio.
De acordo com Resende, ao contrário do que muitos pensam, o Governo não tem o poder de determinar a taxa de câmbio. Ele é apenas mais um ator - um grande ator - na formação de preço do dólar. Como tem a possibilidade de comprar e vender bilhões de dólares, o Governo consegue afetar propositalmente a balança entre oferta e demanda.
Normalmente, o Governo aumenta suas reservas de moeda estrangeira comprando dólares em épocas de valorização do Real (é o que fez nos últimos anos) e pode gastar essas reservas para conter a desvalorização do Real. Além disso, o Governo pode intervir indiretamente na cotação do dólar através da determinação da taxa de juros. Em momentos de forte saída de capital do Brasil, o Governo tenta defender o valor do Real por meio do aumento da taxa de juros. Taxas de juros mais elevadas atraem o dinheiro (capital) de investidores estrangeiros para o Brasil. Contudo, o capital financeiro é muito "nervoso" e consegue se mover com mais facilidade - sendo conhecido como capital especulativo.
O governo pode atuar ainda de outras formas, criando e aumentando impostos de importação, impostos sobre operações financeiras ou mesmo barreiras não tributárias (como limites de importações, barreiras sanitárias e reserva de mercado para produtos nacionais), ressalta Resende.
A relação de preços entre as moedas é definida pelo produto de todas as transações envolvendo essas duas moedas. É definida pelo mercado e todos seus agentes, pessoas, empresas e governos. A quantidade de reais necessárias para comprar um dólar varia diariamente, e, desde a adoção do Real, a cotação já foi de pouco menos de R$ 1 até quase R$ 4. Um dólar sempre vale um dólar, porém como no Brasil, no exterior também há inflação e o poder de compra de um dólar também varia. Imagine que a moeda brasileira seja um produto, quando há inflação em dólar, o produto real fica mais caro, portanto uma mesma quantidade de dólares passará a comprar menos reais. Porém o real também sofre inflação, se a inflação do real for maior que a inflação do dólar, a mesma quantidade de dólares comprará mais reais.
Assim, dependendo da taxa de câmbio, alguns comportamentos são incentivados. Por exemplo, quando o Real está desvalorizado, os produtos brasileiros ficam mais baratos em relação aos estrangeiros, e nossas exportações aumentam. Quando o Real está valorizado, mais turistas brasileiros viajam para o exterior, pois as viagens ficam mais baratas. Deste modo, todos estes comportamentos influenciam na cotação do dólar. Quando o turista brasileiro compra e gasta dólares, ele aumenta a demanda pela moeda estrangeira, impulsionando um pouquinho o preço do dólar, desestimulando a viagem do próximo turista.
Quanto mais importamos, mais o dólar se valoriza, e menos interessante fica a importação. A soma desses movimentos promove os ciclos de alta e baixa. Nossas ações influenciam mudanças que, por sua vez, influenciam nossas ações no sentido contrário. Esse fenômeno é o que os economistas batizaram com uma expressão trazida da Biologia: feedback negativo. Mas o tempo de reação de cada participante nessa dinâmica é diferente. Turistas podem marcar e desmarcar viagens com grande facilidade. Executivos a trabalho não contam com a mesma flexibilidade.
Um investimento especulativo pode sair rapidamente do nosso País, como aconteceu em 2008. Por outro lado, uma montadora de automóveis não tem a mesma facilidade para desinvestir o capital que usou para construir uma fábrica no Brasil. Muitas vezes, é melhor continuar operando, mesmo com perdas cambiais, do que encerrar as atividades. Isso faz com que esses ciclos possam ser de curta, média ou longa duração. Devido à complexidade da interação entre esses participantes, é impossível determinar antecipadamente se os ciclos de alta ou baixa estão se encerrando ou apenas começando.
Quanto à atuação do governo, ressalta Resende, há diversas discussões se o governo deveria ou não intervir na cotação do câmbio. Acadêmicos e economistas defendem as duas posições. Via de regra, o governo costuma agir quando há um movimento muito forte ou muito longo, para que os efeitos da oscilação sejam amenizados e a economia fique um pouco mais estável, dando tempo para as empresas e pessoas se organizarem. Quando o dólar sobe muito o governo costuma vender para amenizar a alta, consumindo as reservas cambiais e, do outro lado, quando o dólar caí muito, recompõe as reservas adquirindo dólares.
Então, quando você realizar alguma transação que envolva dinheiro, você estará influenciando o preço do dólar.
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