A exposição a canções pode causar alterações de longo prazo no cérebro das crianças, indica pesquisa
Os bebês que ouviram uma mesma música de ninar durante os últimos meses de gravidez foram capazes de reconhecer a melodia após o parto (Thinkstock)
O hábito de tocar canções para bebês que ainda estão no útero materno pode contribuir para o aprendizado de linguagem da criança no futuro. É o que sugere um estudo finlandês publicado na quarta-feira na revista PLOS ONE. De acordo com a pesquisa, crianças expostas a músicas ao longo da gravidez das mães são capazes de reconhecer a melodia mesmo alguns meses depois do parto. O resultado indica, portanto, que o cérebro do bebê é capaz de guardar memórias de longo prazo adquiridas ainda dentro do útero materno - o que contribui para o aprendizado da linguagem.
CONHEÇA A PESQUISA
Título original: Prenatal Music Exposure Induces Long-Term Neural Effects
Onde foi divulgada: periódico PLOS ONE
Quem fez: Minna Huotilainen, entre outros pesquisadores
Instituição: Universidade de Helsinki, na Finlândia
Dados de amostragem: 12 bebês que foram expostos a uma mesma música durante os últimos três meses da gravidez; e outros 12 bebês que nunca haviam ouvido a música
Resultado: Os pesquisadores analisaram a atividade cerebral dos bebês ao ouvir a música quatro meses depois de seu parto. Aqueles que haviam sido expostos à melodia no útero materno tiveram uma resposta muito maior
Para elaborar a pesquisa, os estudiosos selecionaram doze mulheres que passavam por uma gestação sem complicações. As futuras mães receberam um CD com a melodia da música Twinkle Twinkle Little Star (Brilha, Brilha, Estrelinha;tradicional canção de ninar inglesa), que deveriam colocar para tocar, em volume alto, pelo menos cinco dias por semana durante os três últimos meses da gravidez.
Logo depois do parto, os pesquisadores analisaram a reação desses bebês a duas versões da mesma música: uma delas com algumas notas modificadas, a outra, inalterada. Outros doze bebês que nunca haviam sido expostos à melodia também participaram do experimento, como grupo de controle.
Ao analisar a atividade cerebral por meio de sensores colados na pele dos bebês, os cientistas descobriram que as crianças do primeiro grupo apresentavam uma resposta muito mais forte à música original do que o grupo de controle. Quando repetiram a experiência quatro meses depois, o resultado foi o mesmo — sugerindo que a melodia havia se tornado uma memória de longa duração.
O estudo também mostrou que, quanto mais o bebê havia sido exposto à música no útero, maior era sua atividade cerebral em resposta à nova audição. "Pesquisas anteriores haviam indicado que os fetos eram capazes de perceber pequenos detalhes da fala, mas não sabíamos por quanto tempo eles poderiam reter essa informação. Nosso estudo mostra que os bebês são capazes de aprender em uma idade muito jovem, e que os efeitos dessa aprendizagem permanecem no cérebro por um longo tempo", diz Eino Partanen, professor da Universidade de Helsinki, na Finlândia, e um dos autores da pesquisa.
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Memória fetal — O processamento das canções e da fala é feito por meio de mecanismos comuns no cérebro dos bebês. Segundo os pesquisadores, isso significa que a audição de músicas pode ajudar no aprendizado da fala humana. A pesquisa indica que esse processo de aquisição da linguagem pode começar ainda mais cedo do que se pensava. "Este é o primeiro estudo a acompanhar por quanto tempo as memórias fetais permanecem no cérebro. Os resultados são significativos, uma vez que os primeiros mecanismos da memória ainda são desconhecidos", diz Minna Huotilainen, pesquisadora da Universidade de Helsinki que comandou o estudo.
Os pesquisadores pretendem começar uma segunda pesquisa sobre o assunto, dessa vez com a intenção de analisar os efeitos nocivos que ambientes ruidosos podem causar no desenvolvimento dos fetos.
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