Governo lança pacote para agradar empresários


A menos de quatro meses da eleição, governo lança pacote para agradar empresários

Presidente oficializa a volta do Reintegra e a melhora das condições para que empresas possam aderir ao Refis, o programa de refinanciamento de dívidas tributárias

Laryssa Borges, de Brasília
Presidente Dilma Rousseff durante Fórum Nacional da Indústria no Palácio do Planalto
Presidente Dilma Rousseff durante Fórum Nacional da Indústria, no Palácio do Planalto (Roberto Stuckert Filho/PR)
A pouco mais de três meses do pleito eleitoral e após três anos e meio de relacionamento difícil com empresários, o governo tenta correr contra o tempo para conter a debandada de apoio do setor, que tem flertado cada vez mais com os pré-candidatos Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). Depois de ter confirmado a desoneração permanente da folha de pagamento para 56 setores já beneficiados pelo governo, a presidente Dilma Rousseff anunciou nesta quarta-feira um novo pacote de bondades fundamentado, sobretudo, em benefícios tributários.
A nova ofensiva da presidente, que perde a cada dia apoio da indústria na corrida pela reeleição, inclui a volta do chamado Reintegra, instrumento criado pelo governo para devolver uma parcela dos impostos pagos aos exportadores de produtos manufaturados, e a transformação do programa em permanente e a melhoria das condições de adesão ao Refis, com a criação de novas faixas de pagamento para empresas que buscam refinanciar seus débitos. Tentar reduzir a carga tributária da indústria tem sido a alternativa da presidente nos últimos dois anos para tentar estimular a competitividade. Mas o efeito, até o momento, tem sido contrário. Isso porque muitas das desonerações são acompanhadas de uma política industrial protecionista, que onera a entrada de insumos no país e, consequentemente, tende a anular benefícios tributários em determinados setores. Não à toa, o Brasil despencou da 38º para a 54º posição no ranking de competitividade entre 2010 e 2014.
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O pacote foi anunciado pelo ministro Guido Mantega após reunião de Dilma com o Fórum Nacional da Indústria. Ele prevê ainda a ampliação até 31 de dezembro de 2015 do Programa de Sustentação de Investimentos (PSI), criado em 2009 para estimular a produção industrial durante a crise financeira por meio de financiamentos para aquisição de bens de capital. Em 2015, o PSI deve contar com recursos da ordem de 80 bilhões de reais, patamar similar aos deste ano. Uma medida provisória a ser editada até o fim do ano vai detalhar as taxas de juros do programa. 
Farpas — A proximidade das eleições fez com que a presidente Dilma, de antemão, disparasse farpas contra os que relacionam o anúncio do pacote à necessidade de angariar apoio. “Nós estamos perfeitamente no uso da legalidade neste país. É impossível o país parar porque um ou outro acha que a medida tem essa ou aquela função ou destino. Nós temos de discutir o seguinte: isso é necessário ou não é necessário para as empresas? É ou não é necessário para a indústria? É cabível ou não é cabível? Acho que não só é uma questão de melhorar a relação com os empresários, é uma questão de melhorar a situação de competitividade da nossa indústria”, disse ela.
O afago do governo ao setor industrial foi formalizado dias depois de a confiança do empresário na indústria ter chegado ao pior nível em mais de quatro anos – 47,5 pontos em uma escala de zero a 100. O Índice de Confiança do Empresário Industrial (ICEI) de junho, medido pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), é similar ao nível de janeiro de 2009, durante a crise financeira internacional.
Reintegra — Segundo o ministro Mantega, novo Reintegra passará a valer a partir de 2015 com alíquota de 0,1% até 3% sobre o faturamento com exportações de bens manufaturados, a depender do patamar do dólar e do risco de a moeda diminuir a competitividade dos exportadores. O mecanismo havia sido extinto no ano passado. Uma medida provisória com as principais medidas do pacote deve ser editada até o fim da semana. No caso do Reintegra, a alíquota para este ano será de 0,3%. “Os empresários falaram que preferiam ter um programa com 0,1% do que não ter o programa. Ele começa com 0,3% porque este ano não temos recursos para pagar essa espécie de subsídio”, disse Mantega. Ele afirmou que o governo continuará a analisar a possibilidade de outros setores também serem beneficiados com o Reintegra.
No caso das novas condições do Refis, a medida aprovada recentemente define que, para dívidas tributárias de até 1 milhão de reais, empresários precisam pagar um sinal de 10% do valor a ser refinanciado. Acima desse patamar, o pagamento à vista tem de ser de 20%. Com as novas regras anunciadas pelo governo, para dívidas de até 1 milhão de reais, a entrada será de 5%. Haverá um escalonamento para até 20% de sinal no caso de dívidas acima de 20 milhões de reais.
Compras nacionais – De acordo com o ministro da Fazenda, também haverá alteração nas margens de preferência para os fornecedores nacionais ao Estado brasileiro. Atualmente, produtores nacionais podem ter preços mais altos que concorrentes estrangeiros e ainda vencem licitações, mas os patamares variam conforme o setor – têxtil tem margem de preferência de 20% e brinquedos 10%, por exemplo. Com as novas regras, as margens serão unificadas em 25% e entrarão em vigor a partir da edição de uma medida provisória sobre o tema. 

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