Um dos pacientes mais assíduos do Sanatório Geral, José Sarney acaba de bater a notável marca de 300 internações. A primeira ocorreu em 21 de maio de 2009, menos de um mês depois do lançamento da coluna. De acordo com o parecer do corpo clínico, a patologia do senador é considerada “grave, beirando o irrecuperável”. Entre os fregueses da instituição, o chefe do clã maranhense é chamado de Madre Superiora, alcunha que o identificava nas suspeitíssimas conversas por telefone entre o filho Fernando e comparsas de alta patente gravadas pela Polícia Federal durante a Operação Boi Barrica. Para festejar a aposentadoria de Sarney anunciada há uma semana, a coluna republica os 10 melhores-piores momentos que justificaram as temporadas no Sanatório.
“Há 55 anos no Congresso, nunca adotei a norma de chamar parentes para a minha assessoria”.
Em 6 de agosto de 2009, deixando muito claro que os parentes à procura de emprego devem dirigir-se aos guichês da filha Roseana, do compadre Epitácio Cafeteira, do amigo Delcídio Amaral ou, em situações de emergência, de qualquer senador.
“É essa consciência da tranquilidade que me dá forças. Se não fiz qualquer coisa de errada ao longo de minha vida pública, não esperaria 55 anos para fazer agora. Nunca me meti em qualquer coisa errada”.
Em 13 de agosto de 2009, ao escapar do naufrágio causado pela crise política que assola o Congresso porque a turma toda sentiu a água batendo na cintura, autorizando Renan Calheiros a solicitar ao Vaticano a canonização do pecador convertido em beato maranhense.
“Nem tudo o que é público é publicável”.
Em 18 de setembro de 2009, ao tentar explicar por que ficou homiziada numa ata secreta a reunião que legalizou mais um lote de gatunagens no Senado, informando que, embora os pagadores de impostos tenham o direito de saber onde foi parar o dinheiro que desembolsam, a Justiça permite que os criminosos não facilitem o trabalho da polícia.
“A gente vive de esmola. Por ser entidade privada, nunca aceitei que fosse mantida com verbas públicas”.
Em 27 de outubro de 2009, jurando que a Fundação José Sarney só conseguiu sobreviver graças ao dinheiro que arrecadou nas esquinas das grandes cidades com as exibições dos malabaristas, engolidores de fogo e lavadores de para-brisa da Famiglia Sarney.
“E o país pensa que enforcar os corruptos resolve tudo. Quem deve ser enforcado é o sistema eleitoral”.
Em 4 de dezembro de 2009, no fecho do artigo na Folha, aparentemente desconfiado de que o país já acha que cadeia é pouco, preparando-se para dar voz de prisão ao sistema eleitoral do Amapá e executá-lo no Maranhão assim que ficar pronta a forca que quer construir, sem licitação, com dinheiro emprestado pelo Banco do Brasil à Fundação José Sarney.
“Por não ser beneficiário de qualquer privilégio, repudio a discriminação e perseguição política de que sou vítima”.
José Sarney (Convento das Mercês, fundos), senador de terça a quinta (salário mensal superior a R$ 16 mil, verbas adicionais e propinas livres de impostos), ex-governador e ex-integrante do Judiciário presenteado com duas aposentadorias que somam mais de R$ 35 mil (fora o resto), ao explicar em 1º de abril de 2010 que foi por motivos políticos, não para reduzir a gula da Madre Superiora, que o Ministério Público resolveu exigir a devolução do que embolsou ilegalmente com a criminosa ultrapassagem do teto salarial do funcionalismo público, fixado em R$ 27 mil.
“Sou supersticioso e acho que sempre me dei bem com o meu bigode. Não o trato com cuidado. Às vezes o deixo grande, outras, pequeno. Não mantenho coerência em sua tonalidade, que clareia e escurece sem que eu conserve a cor estável. Já foi maior, indo além dos lábios, e outras vezes foi menor e mais cheio”.
Em 9 de abril de 2010, na coluna publicada na Folha desta sexta-feira, debochando das 62 crianças mortas em Imperatriz (MA) por falta de leitos em Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs) e de todo o Brasil que presta ao preferir dissertar sobre o bigode.
“Não desejava ser presidente do Senado. Estou fazendo com grande sacrifício. É uma convocação. Nunca fui presidente do Senado senão por convocação. Nunca por vontade própria”.
Em 28 de janeiro de 2011, disposto a fazer qualquer negócio, desde que seja lucrativo, para continuar prestando serviços à Famiglia como presidente perpétuo da Casa do Espanto.
“A ética para mim não tem sido só palavras, mas exemplo de vida inteira”.
Em 2 de fevereiro de 2011, fingindo esquecer que só em 2009 escapou de 11 pedidos de cassação encaminhados ao Conselho de Ética do Senado graças à intervenção da bancada dos cafajestes, amplamente majoritária na Casa do Espanto.
“Eu não morri!”
Em 6 de março de 2011, atrapalhando o carnaval de milhões de brasileiros já no título da coluna desta sexta-feira na Folha ao comentar o seu obituário, publicado equivocadamente pela Rádio Senado.
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