Dilma aprovou e foi instituído no Brasil o dia do quadrilheiro

A Câmara sugeriu, Dilma aprovou e foi instituído no Brasil o dia do quadrilheiro

Eleita pelo DEM do Tocantins, a deputada federal Nilmar Ruiz, ex-prefeita de Palmas, já desembarcou no Congresso em 2006 com a ideia de instituir o Dia do Quadrilheiro. “Estaremos oficialmente incorporando essa tradição das manifestações culturais brasileiras e homenageando a todos que fazem com que se preserve esse legado nacional”, argumentou na introdução do projeto aprovado em 2009 pela Comissão de Educação e Cultura ─ depois de um providencial retoque recomendado pelo relator, deputado Neilton Mulim (PR-RJ).
Antes que uma multidão de parlamentares avançasse sobre a tribuna para discursos de agradecimento pela lembrança, Mulim resolveu esclarecer, “para evitar ambiguidade”, que o projeto se restringia aos dançarinos da quadrilha, a dança inseparável das festas de São João. Não se estendia, portanto, à turma enquadrada no crime de formação de quadrilha, previsto no artigo 288 do Código Penal Brasileiro ─ e que ganhou dimensões amazônicas com o escândalo do mensalão.
Feita a ressalva, Mulin fez a sugestão: instituir não o Dia do Quadrilheiro de modo geral, mas o Dia do Quadrilheiro Junino ─ só. “O substitutivo do Mulin salvou o projeto”, aplaudiu Gonzaga Patriota (PSB-PE), relator do projeto na Comissão de Constituição de Justiça, que aprovou a infiltração da data na folhinha em novembro de 2009. “Eu que sou da terra do forró sei o que é quadrilha: aquela coisa do um para lá, outro para cá, no bom sentido claro”, disse Patriota, que achou “curiosa” a ideia original. “Mas em outros lugares podiam achar estranho, ia ficar complicado”.
Neste 3 de março, às vésperas do Carnaval, a presidente Dilma Rousseff e os ministros Carlos Lupi (Trabalho, diz a plaqueta na entrada do gabinete) e Anna Maria Buarque de Hollanda (Cultura, garante o cartão de visita) assinaram a Lei nº 12.390, “que institui o dia 27 de junho como o Dia Nacional do Quadrilheiro Junino, a ser comemorado em todo o território nacional”. O artigo 3° cuida de prevenir mal-entendidos: “Considera-se Quadrilheiro Junino o profissional que utiliza meio de expressão artística cantada, dançada ou falada transmitido por tradição popular nas festas juninas”.
Concentrados no nome, tanto os deputados quanto a presidente e os dois ministros se esqueceram de conferir a data escolhida. Teriam optado por outra se fossem menos distraídos. Em 27 de junho de 2005, uma segunda-feira, os integrantes da CPI dos Correios, que começara a devassar o escândalo do mensalão, resolveu convocar para depor na quinta-feira da mesma semana o deputado Roberto Jefferson. Ao contar o que sabia, Jefferson precipitou a sequência de descobertas que escancararam a maior e mais repulsiva quadrilha de assaltantes federais da história do Brasil.
No próximo 27 de junho, os brasileiros decentes vão comemorar a data como se deve: lembrando ao Supremo Tribunal Federal que está mais que na hora de mandar para a cadeia todos os quadrilheiros de junho ─ com exceção dos dançarinos das festas de São João.

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