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Os últimos dias do PT no poder: a hipótese otimista e a pessimista

21/06/2014
O PT realizou a sua convenção nacional neste sábado (post anterior) e oficializou a candidatura de Dilma Rousseff à Presidência da República. Ela vai ganhar? Ela vai perder? Não sei. Seja como for, estamos assistindo a um capítulo do fim de um ciclo. Se o PT tiver mais um mandato, o que espero que não aconteça, vai se arrastar no poder pelos próximos quatro anos, como um cadáver adiado. Não tem mais nada a oferecer ao país. Restará torcer para Dilma terminar o mandato sem uma crise de proporções gigantescas.
Acabou! Os petistas não têm mais futuro a oferecer. E explico o que quero dizer com isso. Um partido não tem de estabelecer com a sociedade uma relação de doador e donatário de benesses. Até porque a riqueza que se distribui tem de ser produzida por alguém — e, por certo, não é pelos partidos, não é mesmo? Quando afirmo que o petismo não tem mais “futuro” a oferecer, refiro-me à perspectiva de mudanças que possam efetivamente melhorar a vida dos brasileiros no médio e no longo prazos, fazendo deles mais do que pedintes e beneficiários de migalhas.
O repertório do PT se esgotou. Os programas sociais estão aí, em curso, mas a gestão não sabe como conciliar, em proporções ao menos razoáveis, crescimento econômico, combate à inflação e juros civilizados. Ao contrário: a realidade se tornou perversa, descompensada: inflação e juros altos para crescimento baixo. O que restou ao PT? Justamente a relação viciada de doador e donatário.
Para que esse discurso convença, é preciso demonizar o outro; transformá-lo na fonte de todos os males do Brasil e da política, a exemplo do que se viu, mais uma vez, neste sábado. A convenção petista, dados os discursos que lá se  fizeram — inclusive o da presidente —, oferece aos brasileiros apenas um debate sobre o passado. Lula, ele mesmo, foi bastante explícito a respeito. Convidou os presentes para a dialética do obscurantismo. Disse ser preciso convencer os eleitores que tinham 7, 8 anos quando o PT chegou ao poder e hoje estão com 19, 20. Afirmou que é preciso lhes dizer que quão ruim era o país…
Ocorre que só havia país em 2003 porque os tucanos haviam chegado ao poder em 1995 e porque o PT perdeu a guerra contra o Plano Real. Só havia país em 2003 porque havíamos vencido a batalha contra os fatores estruturais da hiperinflação. Só havia país em 2003 porque havíamos vencido a batalha em favor da privatização, que dotou o país de infraestrutura em setores essenciais. Quem, em 2002, votava pela primeira vez, aos 16, 17, 18, tinha de 8 a 10 em 1994, quando o plano foi implementado. A propósito: uma pessoa que nasceu em 1986 era uma criança no ano do Real, está hoje com 28, é um adulto, e não sabe o que é um país com hiperinflação. E só não sabe porque o PT foi derrotado em 1994 e 1998 e porque teve de jogar fora o seu programa para se eleger em 2002.
A disputa sobre o passado, como a propõe o partido, é essencialmente desonesta; é intelectualmente vigarista, porque define o adversário como um monopolista do mal e se coloca como um monopolista do bem. “E os adversários do PT? Não fazem o contrário?” Não. Desconheço quem lastime ou reprove a ampliação de programas sociais que o partido levou adiante no poder. Podem não ser, e não são, a resposta para todos os males, mas se trata de um ativo que a legenda tem — e reconhecido por todos. O PT, no entanto, é incapaz de admitir que é uma realidade derivada da estabilidade econômica contra a qual lutou. “Fez isso porque era mau?” Não! Porque, em razão de preconceitos ideológicos, não reconhecia seus instrumentos como válidos. E estava, obviamente, errado.
Agora o país chegou a um nó que requer mais do que o tatibitate redistributivista do PT. E a turma não sabe o que fazer. Está ilhada em seus próprios preconceitos e sua falta de alternativa. Daí que pretenda fortalecer essa fachada de grande doador de benesses, acusando o adversário de verdugo das causas sociais. Como resta pouco a oferecer no terreno da doação, os petistas repetem a sua propaganda de TV, inventam um passado que não existiu e o colocam como uma sombra a ameaçar o futuro.
Na convenção, em suma, o PT apelou a um passado que não houve para capturar as pessoas para um futuro que, com o PT no poder, jamais haverá. Não sei se vai funcionar. Caso seja bem-sucedido, depois de uma luta difícil — o que o obrigará a multiplicar o “promessismo” —, uma coisa é certa: será a última vez. O PT está por pouco: na hipótese otimista, seis meses. Na pessimista, quatro anos e meio. E aí o país se liberta de uma formidável teia de mistificação. Até poderia se cobrir de glórias. Mas, para tanto, teria de ser um defensor incondicional da democracia. O partido que faz lista negra de jornalistas, no entanto, gosta mesmo é de ditadura. “Ah, mas não é um ditador!” É só porque não pode, não porque não queira.
PS: Será que aquele comentador de peladas acha este um texto que “espalha o ódio”, escrito para “leitores fanáticos”?
Por Reinaldo Azevedo
21/06/2014
 às 20:00

PT lança Dilma, reconhece que campanha será dura e multiplica ataques à oposição

Por Gabriel Castro, na VEJA.com. Comento no próximo post.A Convenção Nacional do PT que marcou o lançamento de Dilma Rousseff à reeleição revelou o quanto os petistas estão preocupados com a possibilidade de derrota na disputa pela Presidência. Os discursos se concentraram mais em ataques aos adversários do que em propostas para um segundo mandato. A convenção, realizada em Brasília, teve a presença dos principais nomes do partido e foi aberta com um coro de crianças cantando uma música que pedia “mais futuro em nossa vida”. O primeiro a discursar foi o presidente do PT, Rui Falcão. Ele anunciou oficialmente a indicação de Dilma Rousseff para a reeleição, ao lado do peemedebista Michel Temer como vice.
Em seu discurso, a própria Dilma tratou de criticar o governo que se encerrou doze anos atrás: “Antes, o Brasil se defendia das crises de uma forma extremamente perversa, arrochando o salário dos trabalhadores, aumentando as taxas de juros a níveis estratosféricos, aumentando o desemprego, diminuindo inteiramente o crescimento e vendendo o patrimônio publico”, disse ela, que continuou: “Não fui eleita para mendigar dinheiro do FMI, porque não preciso”. Para o segundo mandato, a presidente anunciou algumas propostas antigas, não cumpridas no primeiro mandato, como a revisão do pacto federativo, a popularização da banda larga e o esforço pela realização da reforma política. “Precisamos de mais oito anos para construir uma obra à altura dos sonhos do Brasil”, afirmou.
Já o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mais aplaudido do que Dilma, demonstrou preocupação com os jovens e pediu que os militantes se esforcem para conquistar o voto dos mais novos: “Quem tinha seis ou oito anos doze anos atrás não tem obrigação de saber tudo o que nós fizemos”, disse ele. Lula também disse que nunca se desentendeu com a sucessora durante os quatro anos de governo. “É possível criador e criatura viverem juntos em harmonia”, afirmou. A convenção reuniu centenas de militantes e autoridades petistas em um centro de convenções de Brasília. No ato, planejado pelo marqueteiro João Santana, apenas quatro pessoas discursaram: Dilma, Lula, o vice-presidente Michel Temer e o presidente do PT, Rui Falcão. O presidente do PSD, Gilberto Kassab, foi vaiado quando entrou no palco.
Ataques
Rui Falcão fez um discurso sintomático, uma amostra do que será o tom da campanha petista: como se o PT fosse oposição e não governo, ele gastou mais tempo atacando os adversários e os governos do PSDB do que falando dos méritos da gestão Dilma. Pediu que a militância retomasse o espírito de 1989 e atacou o “neoliberalismo”.
“Não vamos permitir retrocessos, nem a volta a um passado de recessão, arrocho e desemprego, cuja figura-símbolo, antes condenada ao ostracismo pelos parceiros, agora ressurge como guru nas convenções dos tucanos”, disse o petista, em referência a Fernando Henrique Cardoso. Rui Falcão admitiu a dificuldade da vitória: “Já se tornou lugar comum dizer que esta eleição será a mais dura, a mais difícil de todas. E os fatos mostram que sim”, disse.
Corroborando as palavras do petista, no meio da convenção o PTB, um dos partidos da base aliada, anunciou o rompimento com o governo e a adesão à campanha de Aécio Neves.
Por Reinaldo Azevedo

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