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As tropas alemãs capitularam em 8 e 9 de maio de 1945. Os membros do último governo do Reich, encabeçado pelo almirante Karl Dönitz, foram presos. Juntamente com outros líderes da ditadura nazista, ele respondeu por crimes de guerra e contra a humanidade perante o Tribunal de Nurembergue, instaurado pelos Aliados.
As quatro potências vencedoras – Estados Unidos, Reino Unido, França e União Soviética – assumiram o poder e dividiram o território alemão em quatro zonas de ocupação. Sob o controle soviético ficaram os territórios a leste dos rios Oder e Neisse. Berlim, encravada no território que viraria Alemanha Oriental, também foi dividida em quatro setores.
Os diferentes sistemas de domínio no Ocidente e no Leste geraram divergências entre os Aliados, que não conseguiam definir uma política comum para a Alemanha derrotada. Na Conferência de Potsdam, que ocorreu entre 17 de julho e 2 de agosto de 1945 para estabelecer as bases de uma nova ordem europeia no pós-guerra, só houve consenso quanto a quatro ações prioritárias na Alemanha: desnazificar, desmilitarizar, descentralizar a economia e reeducar os alemães para a democracia.
Muitas indústrias alemãs haviam escapado dos bombardeios, mas a pequena oferta de produtos estava longe de suprir a demanda, e os Aliados confiscaram grande parte da produção para o pagamento da reparação de guerra. A política econômica restritiva dos Aliados só mudou quando se impôs a convicção de que a Alemanha Ocidental poderia ser um importante baluarte contra o avanço do comunismo soviético.
Embora recebesse ajuda dos EUA desde 1946, foi só com o programa de luta contra "a fome, a pobreza, o desespero e o caos" que a Alemanha Ocidental recebeu o impulso decisivo para iniciar sua reconstrução. O chamado Plano Marshall disponibilizou 1,4 bilhão de dólares de 1948 a 1952.
A Zona de Ocupação Soviética não teve a mesma sorte, tendo que arcar sozinha com os custos de sua recuperação, além de sofrer a sangria das reparações de guerra (que também afetou a parte ocidental) e o esvaziamento pela desmontagem de fábricas, estradas de ferro e instalações levadas para a União Soviética.
Fábrica de motos em Zschopau, na Alemanha Oriental, em 1971
Reforma monetária e criação de dois Estados alemães
Após unir suas três zonas de ocupação, os aliados ocidentais – Estados Unidos, França e Reino Unido – decidiram, em 20 de junho de 1948, implantar uma reforma monetária e criar um Estado provisório sob seu controle. Um mês depois, cada cidadão alemão pôde trocar 40 Reichsmark (a moeda vigente até então, instaurada em 1924) por 40 unidades da moeda então introduzida pelos Aliados: o marco alemão (Deutsche Mark, ou DM). Para empresários e autônomos, a relação de troca era mais favorável.
Stalin reagiu à reforma monetária na Alemanha Ocidental ordenando que o lado ocidental de Berlim fosse bloqueado. Para incorporar essa parte da cidade à Zona de Ocupação Soviética, mandou interditar todas as comunicações por terra.
Isolado das zonas ocidentais e de Berlim Oriental, o oeste de Berlim ficou sem luz nem alimentos de 23 de junho de 1948 até 12 de maio de 1949. A população só sobreviveu graças a uma ponte aérea organizada pelos Aliados, que garantiu seu abastecimento.
No dia 23 de maio de 1949, os aliados ocidentais promulgaram a Lei Fundamental, elaborada por um conselho parlamentar, dando origem à República Federal da Alemanha (RFA). A denominação Lei Fundamental sublinhava seu caráter provisório, pois somente depois que o país voltasse a ser uma unidade deveria ser ratificada uma Constituição definitiva. O novo Estado tinha Bonn por capital.
A União Soviética, que integrara a zona leste do país à sua estrutura de poder, não ficou atrás, anunciando, em outubro de 1949, a fundação da República Democrática Alemã (RDA), tendo Berlim Oriental como capital. Seu regime era comunista e de economia planificada, dando prosseguimento à socialização da indústria e ao confisco de terras e de propriedades privadas. O Partido Socialista Unitário (SED) passou a ser a única força política na "democracia antifascista" alemã-oriental.
Com o surgimento de dois Estados, a Alemanha tornou-se o marco divisório de dois blocos e sistemas político-econômicos antagônicos liderados pelos EUA, de um lado, e pela União Soviética, de outro. Em nenhuma outra parte do mundo a Guerra Fria se manifestou com tanta intensidade. A divisão alemã persistiu até 1990.
RFA e RDA: dois caminhos diferentes
De 1949 até o início da década de 70, o desenvolvimento da República Federal da Alemanha foi marcado por uma rápida reconstrução do país, do Estado e das instituições democráticas, pela recuperação econômica impulsionada pelo Plano Marshall e pela estabilidade interna. Na política interna, os esforços concentraram-se em superar a divisão da Alemanha, ou em atenuar suas consequências. Na política exterior, a RFA ligou-se estreitamente ao bloco liderado pelos EUA e participou do processo de integração europeia nas comunidades que foram surgindo no pós-guerra.
A RDA, por sua vez, filiou-se ao Pacto de Varsóvia. Ainda que a Alemanha comunista não tivesse plena autonomia em relação a Moscou, o chefe de Estado e do partido, Erich Honecker, caracterizou sua versão de "socialismo realmente existente". No Leste Europeu, a República Democrática Alemã era tida como exemplo de um país socialista que conseguiu dar um bom nível de vida à sua população.
No entanto, no avançar dos anos 70, os alemães-orientais perceberam que a meta do Estado de alcançar o nível da RFA não passava de ilusão. Não havia recursos suficientes para financiar a mecanização e automatização da produção e faltavam materiais para a reforma das moradias degradadas. A crise econômica provocada pela alta dos preços do petróleo atingiu plenamente o país. Por mais que se cortassem as importações, as dívidas foram aumentando.
Ao impor o "centralismo democrático" marxista, o partido único SED estabeleceu uma ditadura e militarizou a sociedade desde o jardim-de-infância, além de impor um sistema generalizado de controle e observação de dissidentes em potencial, comandado pelo Serviço de Segurança do Estado, o Stasi.
A era Adenauer (1949–1963) e a integração no Ocidente
Konrad Adenauer, da União Democrata Cristã (CDU), foi eleito primeiro chanceler federal da República Federal da Alemanha em 1949, encabeçando uma coligação dos novos partidos políticos. A "economia social de mercado" introduzida por seu ministro da Economia, Ludwig Erhard, trouxe o progresso e proporcionou um bem-estar até então desconhecido a amplas camadas da população: era o chamado "milagre econômico", que não teria sido possível sem o Plano Marshall.
A estratégia de Adenauer previa estreitos laços com os EUA, entendimento com a França, intensas relações políticas e econômicas com a Europa Ocidental e integração da Alemanha na Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan). Seu objetivo era garantir a existência da RFA, levando Moscou a desistir da Alemanha Oriental, o que abriria caminho para a reunificação.
Em 1950, a Alemanha foi admitida no Conselho da Europa, e em 1952, na Comunidade Europeia do Carvão e do Aço. Em 5 de maio de 1955, a RFA deixou de ser considerada território ocupado e pôde criar um Ministério do Exterior, estabelecer relações diplomáticas com outros países e abrir embaixadas. Neste mesmo dia, entrou para a Otan, o que possibilitou o rearmamento da Alemanha para cumprir suas funções de defesa no âmbito da Aliança Atlântica. A filiação à Comunidade Econômica Europeia a partir de 1º de janeiro de 1958 (Tratados de Roma) foi um outro passo decisivo para sua integração no bloco ocidental.
O Muro de Berlim
A República Federal da Alemanha não reconhecia a RDA, o Estado oriental alemão, considerando-se a única representante dos alemães (Doutrina de Hallstein). Uma crise em Berlim em 1958, quando Krutschev exigiu que os Aliados desocupassem Berlim Ocidental em seis meses, e a posterior construção do Muro de Berlim colocaram em risco a ligação de Berlim Ocidental com a RFA e enfraqueceram Adenauer.
Sinônimo da linha divisória entre os mundos capitalista e socialista, Berlim Ocidental atraía os alemães-orientais pelas liberdades democráticas e pelo brilho de suas vitrines, que simbolizavam o progresso ocidental. De 1949 a 1961, quase 3 milhões de pessoas fugiram da Alemanha comunista para os setores ocidentais de Berlim. Somente em julho de 1961, 30 mil pessoas escaparam.
A RDA não podia admitir que o êxodo continuasse. Na manhã de 13 de agosto de 1961, soldados começaram a construir o Muro de Berlim, demarcando a linha divisória inicialmente com arame farpado, tanques e trincheiras. Nos meses seguintes, foi sendo erguido em concreto armado o muro que marcaria a vida da cidade até 1989. Ao longo dos anos, a fronteira transformou-se numa fortaleza. Como os soldados tivessem ordem de atirar para matar, mais de mil pessoas pagaram com a vida a tentativa de transpô-la.
Willy Brandt e a abertura para o Leste
Em janeiro de 1963, a reconciliação com a França atingiu seu auge com a assinatura do Tratado do Eliseu. A integração da Europa prosseguiu com a criação da Comunidade Europeia em 8 de abril de 1965. No mesmo ano, a RFA estabeleceu relações diplomáticas com Israel – um passo significativo no caminho do entendimento entre os povos, após o genocídio de mais de 5 milhões de judeus durante o nazismo.
Em 21 de outubro de 1969, assumiu o governo o social-democrata Willy Brandt, em coligação com o Partido Liberal. Ex-combatente da resistência contra Hitler, Brandt cunhou o conceito de Ostpolitik(política de abertura para o Leste), que lhe valeu o Prêmio Nobel da Paz em 1971.
O chefe de governo alemão Willy Brandt, no Memorial ao Gueto de Varsóvia em 1970
A fim de melhorar as relações com a União Soviética, a Polônia e os países do Pacto de Varsóvia, o governo Brandt assinou os tratados de Moscou e de Varsóvia, em 1970. Em ambos, os signatários afirmavam não ter quaisquer reivindicações territoriais. Frente à Polônia, Bonn confirmou a inviolabilidade da fronteira ao longo dos rios Oder e Neisse. O momento histórico de reconciliação ficou gravado na imagem de Willy Brandt ajoelhado diante do memorial do Gueto de Varsóvia, em dezembro de 1970. A etapa seguinte foi o tratado firmado com a então Tchecoslováquia em 1972.
Paralelamente, Bonn e Berlim Oriental sondavam as possibilidades de um melhor entendimento. Em março de 1970, reuniram-se pela primeira vez os chefes de governo das duas Alemanhas, Willy Brandt e Willi Stoph, em Erfurt (RDA), seguindo-se um segundo encontro, em maio, em Kassel (RFA).
O Tratado das Quatro Potências sobre Berlim, assinado por EUA, União Soviética, França e Reino Unido em 1971, estabeleceu que os setores ocidentais de Berlim não eram parte integrante da República Federal da Alemanha. Esta, porém, podia representá-los. Este tratado foi condição para que o Parlamento de Bonn ratificasse os demais, assinados com Moscou, Varsóvia e Praga.
Um dos primeiros atos de Willy Brandt após sua reeleição em 1972 foi concluir o Tratado de Base entre a RFA e a RDA, assinado antes do fim do ano. Nele, os dois Estados abdicavam do uso da violência e reconheciam suas fronteiras, prometendo respeitar a autonomia um do outro. "Dois Estados alemães numa só nação" – com a fórmula cunhada por Brandt, consumava-se uma grande mudança na política entre as duas Alemanhas. Aos poucos, a coexistência pacífica deveria abrir caminho para a cooperação. Em setembro de 1973, RFA e RDA foram admitidas nas Nações Unidas.
Helmut Schmidt e os foguetes
Willy Brandt renunciou em 7 de maio de 1974, após a descoberta de um espião da RDA na Chancelaria Federal. O novo chefe de governo, Helmut Schmidt, deu continuidade à coalizão entre o Partido Social Democrata e o Partido Liberal, concentrando-se inicialmente nos problemas econômicos, já que o desemprego ultrapassara, pela primeira vez no pós-guerra, a marca de 1 milhão. Atentados terroristas de esquerda e o surgimento da Fração do Exército Vermelho (RAF, ou grupo Baader-Meinhof) dominaram a política interna e os debates sobre medidas judiciais para conter o terrorismo.
No contexto internacional, a invasão do Afeganistão por tropas soviéticas e a lei marcial na Polônia colocaram um fim a uma década de distensão na política. A instalação de mísseis de médio alcance na União Soviética levou à Dupla Resolução da Otan, de dezembro de 1979. Isso provocou grandes controvérsias na República Federal da Alemanha, culminando no surgimento de um movimento pacifista contra o estacionamento de mísseis norte-americanos em território alemão.
Ao defender o rearmamento da Otan como forma de fortalecer a defesa do país, além de enfraquecido porque o Partido Liberal abandonara a coalizão, Helmut Schmidt acabou perdendo o apoio de parte da social-democracia.
A era Kohl
Helmut Kohl (dir.) recebe Erich Honecker em Bonn em 1987
Seu sucessor, Helmut Kohl, liderou a partir de 1982 uma coalizão da União Democrata Cristã (CDU) e União Social Cristã (CSU) com o Partido Liberal (FDP), mantendo a continuidade na política de segurança do governo alemão. Em novembro de 1983, o Parlamento alemão aprovou a resolução do rearmamento.
Helmut Kohl bateu o recorde de Adenauer no cargo de chanceler federal, permanecendo 16 anos no poder. Sua política de saneamento das finanças públicas teve como resultado anos seguidos de crescimento econômico, que culminaram com um aumento de 5,5% do PIB em 1990, o ano da reunificação alemã. O desemprego ficou em torno de 2 milhões de pessoas, apesar do grande número de empregos criados.
O governo Kohl deu continuidade à política de aproximação com a Alemanha Oriental e o bloco Leste. A perestroika e a glasnost, as grandes reformas introduzidas por Mikhail Gorbatchov, enquanto secretário-geral do partido na Rússia, em breve mudariam o mundo.
O chefe de Estado da RDA, Erich Honecker, fez uma visita oficial a Bonn em setembro de 1987. No mesmo ano, quando Berlim festejava 750 anos de fundação, o presidente norte-americano Ronald Reagan visitou a cidade dividida. "Sr. Gorbatchov, abra esse portão, derrube esse muro!", conclamou Reagan.
O que muitos desejavam, mas parecia ser um sonho, acabou acontecendo em novembro de 1989.
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