Para o brasileiro decente, que vive do suor (bíblico) de seu rosto e paga seus impostos, acordar a cada quinta ou sexta-feira com mais uma fase da Operação Lava Jato se tornou uma pequena grande recompensa, uma espécie de homenagem tardia que o Estado rende à honestidade.
As cenas dos agentes da PF efetuando as prisões e as entrevistas dos procuradores-ninjas explicando as investigações são um bálsamo para os cidadãos que se consideram os otários da República, dada a histórica impunidade usufruída por quem rouba para esconder fortunas na Suíça ou construir piscinas folheadas a ouro.
Para quem se sentia pequeno e indefeso contra a corrupção histórica, é reconfortante saber que os efeitos da Lava Jato — o medo que ela impõe aos que andam fora dos caminhos que mamãe recomendou — deixam sem dormir os empresários e os políticos que costumam conspirar contra a coisa pública.
Alguns deles, inclusive, já refletem sobre o assunto por trás das grades e de prisões preventivas.
Se você é um fiscal da Receita estadual que reduz uma multa aplicável por lei em troca de uma mochila cheia de papel pintado…
Se você é um deputado que cobra de grandes empresas para enfiar artigos em projetos de lei (ou retirá-los de lá)…
Se você é um banqueiro que fecha os olhos para as regras ‘know your client’ e aceita que o dinheiro sujo contamine a sua legítima operação bancária….
Cuidado. Muito cuidado.
Sua hora deve estar chegando.
Ontem, muitos brasileiros foram às ruas pedir a saída da Presidente da República mais impopular da história. A sociedade ainda debate se há base para um pedido de impeachment, se há materialidade suficiente nos fatos — seja na questão das pedaladas fiscais, seja na contaminação das contas de campanha.
Mas os brasileiros que foram à rua não se sentiam sozinhos. O Ministério Público Federal e um juiz obstinado estão apontando um novo caminho. Um caminho de tolerância zero.
Mais do que uma operação isolada ou um ponto fora da curva, a Lava Jato é um estado de espírito. É o espírito do tempo.
Cuidado.
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