Procuradores da Lava Jato querem que Otávio
Azevedo conte detalhes da compra de participação societária da Gamecorp –
empresa que tem o filho mais velho de Lula como sócio – pela Telemar, que tem a
Andrade Gutierrez entre seus controladores
É POR ALÍ! - A Procuradoria da República quer saber por que a Andrade
Gutierrez, do empreiteiro preso Otávio Azevedo, repassou 5 milhões de reais à
empresa de Fábio Luís, o filho mais velho de Lula (Sérgio Lima/Folha
Imagem)
O ex-presidente Lula tem uma espécie
de dupla identidade.
No mundo da fantasia, ele é a viva alma mais honesta do
Brasil, não está sob investigação das autoridades nem tem responsabilidade
sobre o petrolão e o mensalão.
O líder messiânico, o novo pai dos pobres, seria
a representação da virtude e da nobreza de propósitos.
Já no mundo real, onde
os fatos se sobrepõem a versões, emerge uma figura bem diferente - e bastante
encrencada.
A Procuradoria da República no Distrito Federal investiga se Lula
fez tráfico de influência em favor da Odebrecht, que contratou a peso de ouro
suas palestras enquanto atacava os cofres da Petrobras.
O Ministério Público de
São Paulo decidiu denunciar Lula por ocultação de patrimônio depois de colher
evidências de que a OAS bancou a reforma de um tríplex no Guarujá que pertence
à família do ex-presidente.
Agora, é a vez de a Lava-Jato chegar ao petista.
Delegados e procuradores têm "alto grau de suspeita" de que a OAS, a
fim de quitar propinas, deu imóveis a políticos.
O caso do tríplex de Lula será
esquadrinhado nessa nova etapa da operação, que foi batizada, devido ao seu DNA
incontestável, de Triplo X.
O mito imaginário, quem diria,
tornou-se um cliente contumaz da Justiça.
Hoje, apurações sobre corrupção
grossa deságuam sucessivamente nele.
Autoridades já reuniram provas das
relações umbilicais de Lula com a Odebrecht, a OAS e a UTC, cujo dono, Ricardo
Pessoa, disse ao Ministério Público ter repassado 2,4 milhões de reais, via
caixa dois, à campanha à reeleição do ex-presidente.
Suspeita de também
participar do assalto à Petrobras, a Andrade Gutierrez deve engrossar o cordão
de empreiteiras que cerca o petista.
Preso desde junho do ano passado, o
presidente licenciado da construtora, Otávio Azevedo, negocia um acordo de
delação premiada com o Ministério Público.
Os procuradores insistem para que
ele conte detalhes da operação de compra de participação societária na Gamecorp
- empresa que tem Fábio Luís, o filho mais velho de Lula, como sócio - pela
antiga Telemar, que tem a Andrade Gutierrez entre seus controladores.
Azevedo
recusou-se até aqui a explicar a real motivação da operação.
Os procuradores,
em contrapartida, não aceitam assinar o acordo de colaboração enquanto não
receberem a explicação devida.
Para sair do impasse e fugir de uma
condenação pesada à prisão, Azevedo decidiu narrar seus segredos aos
investigadores.
Ele dirá que a antiga Telemar, que foi rebatizada de Oi,
comprou cerca de 30% da Gamecorp, por 5 milhões de reais, em 2005, a pedido de
Lula.
Naquela época, o presidente sabia que o banqueiro Daniel Dantas apresentara
uma oferta para se tornar sócio da Gamecorp.
Como queria Dantas longe de seu
filho e de seu governo, o petista, segundo Azevedo, pediu aos donos da
Telemar/Oi, entre eles a Andrade Gutierrez, que apresentassem uma oferta
agressiva de compra dos papéis da empresa de seu primogênito.
Assim foi feito.
Três anos depois dessa transação, o governo Lula mudou a legislação para
permitir que a Telemar/Oi se fundisse com a Brasil Telecom, sob o pretexto de
criar um gigante brasileiro no setor de telecomunicações.
Azevedo confidenciou
a advogados e executivos que, após essa segunda transação, viabilizada graças à
mudança da legislação feita sob medida por Lula, sócios da Gamecorp e
integrantes do governo começaram a exigir mais ajuda financeira da Andrade Gutierrez.
Pressionada, a empreiteira, por meio da Oi, passou a contratar periodicamente
serviços da própria Gamecorp. Serviços que, conforme Azevedo, não eram
necessários.
Assim, estabeleceu-se um canal
permanente de repasse de dinheiro para Fábio Luís e seus sócios - entre eles,
Fernando Bittar e Jonas Suassuna, proprietários formais do sítio em Atibaia que
é usado como refúgio por Lula e que, tal qual o tríplex no Guarujá, teve parte
de sua reforma paga pela OAS.
A assessoria de imprensa da Oi confirmou que a
empresa contrata regularmente serviços da Gamecorp, mas se recusou a fornecer
os valores dos contratos.
Na campanha presidencial de 2014, integrantes da
chapa de Dilma Rousseff chegaram a reclamar dos desembolsos da Andrade
Gutierrez, acusando Azevedo de ser um tucano enrustido.
Ele desabafou com um
amigo: "O PT não pode reclamar depois de tudo o que fiz por eles".
Azevedo disse que a pressão partia do ministro Edinho Silva, então tesoureiro
da campanha à reeleição, e de Giles Azevedo, ex-chefe de gabinete e atual
assessor especial da presidente.
Como se sabe, a parceria com a empreiteira
transformou Fábio Luís, outrora um monitor de zoológico, num empresário de
sucesso.
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