Casa Branca
promete combater 'troica da tirania' nas Américas e elogia Bolsonaro
John Bolton, conselheiro de Segurança Nacional de Trump, anuncia sanções
a Venezuela, Nicarágua e Cuba e diz que novo presidente brasileiro é ‘sinal
positivo’
WASHINGTON —
A Casa Branca endureceu
nesta quinta-feira o discurso contra Venezuela, Nicarágua e Cuba , agrupando
os três países em uma “troica da tirania” que prometeu combater até a queda
"de cada lado desse triângulo". Em um discurso em Miami de tom
reminiscente da Guerra Fria, John Bolton , o
conselheiro da Segurança Nacional deDonald Trump , afirmou que
o continente não pode viver “à sombra da ameaça do socialismo” e disse que a
eleição no Brasil de Jair Bolsonaroe de Iván Duque na
Colômbia é um "sinal positivo" para a região.
— Os Estados Unidos estão entusiasmados com a parceria com
países como México, Colômbia, Brasil, Argentina e muitos outros para promover o
Estado de direito e aumentar a segurança e a prosperidade de nossos povos. As
recentes eleições de líderes que pensam como nós em países-chave, incluindo
Iván Duque na Colômbia, e no último fim de semana Jair Bolsonaro no Brasil, são
sinais positivos para o futuro da região e demonstram um crescente compromisso
regional com os princípios do livre mercado, e de uma governança aberta,
transparentes e responsável — disse Bolton.
O conselheiro de Trump, considerado um dos republicanos mais
linha-dura do governo, usou a maior parte de seu discurso para criticar os
governos da região não alinhados com Washington:
— No entanto, hoje, neste
hemisfério, somos novamente confrontados com as forças destrutivas da opressão,
do socialismo e do totalitarismo. Em Cuba, na Venezuela e na Nicarágua, vemos
os perigos de ideologias venenosas sem controle e os perigos da dominação e da
supressão. Esta tarde, eu estou aqui para mandar uma mensagem clara do
presidente dos Estados Unidos sobre a nossa política em relação a esses três
regimes. Sob este governo, não vamos mais apaziguar ditadores e déspotas perto
de nossas costas neste hemisfério. Não recompensaremos pelotões de fuzilamento,
torturadores e assassinos. Nós defenderemos a independência e a liberdade de
nossos vizinhos.
Bolton discursou na Freedom Tower, edifício onde refugiados
cubanos foram recebidos na década de 1960 depois de deixar a ilha
caribenha na esteira da Revolução Cubana. Hoje, o Sul da Flórida é o destino
escolhido por alguns milhares dentre os 2 milhões de venezuelanos que, desde
2015, deixaram seu país para escapar da escassez de alimentos e
medicamentos, hiperinflação e crimes violentos. Em um tom mais duro que o
costumeiro até para o governo Trump, Bolton fez ameaças:
— A troica da tirania neste hemisfério — Cuba, Venezuela e
Nicarágua — finalmente encontrou quem a confronte. Não há lugar melhor para
transmitir esta mensagem do que aqui em Miami, na Torre da Liberdade. Miami que
é o lar de inúmeros americanos que fugiram das prisões e dos esquadrões da
morte do regime de (Fidel) Castro em Cuba, das ditaduras assassinas de (Hugo)
Chávez e (Nicolás) Maduro na Venezuela e da terrível violência dos anos 80 e do
brutal reinado de (Daniel) Ortega na Nicarágua.
Bolton, que até então criticava nestes termos apenas o Irã e a
Coreia do Norte — países que já defendeu que os EUA invadissem —, comparou o
que ocorre em Caracas com o assassinato de 11 judeus em uma sinagoga nos EUA no
último sábado.
— Todos nós temos a responsabilidade de enfrentar esse ódio
hediondo, seja em Pittsburgh, Caracas ou em qualquer outra cidade — disse ele.
Segundo Bolton, o que ocorre hoje na Nicarágua, em Cuba e na
Venezuela, não é resultado da má implementação do socialismo, mas de suas
"consequências inevitáveis":
— O socialismo tem sido implementado de forma efetiva. Em Cuba,
uma ditadura brutal sob a fachada de uma nova figura continua a minar as
instituições democráticas e a prender e torturar opositores. Na Venezuela e na
Nicarágua, líderes autocráticos desesperados estão empenhados em manter o
poder, uniram-se aos seus homólogos cubanos com o mesmo comportamento opressor
de prisão, tortura e assassinato. Essa troica da tirania, esse triângulo de
terror que se estende de Havana para Caracas e Manágua, é a causa do
imenso sofrimento humano, o ímpeto da enorme instabilidade regional e a gênese
de um sórdido berço do comunismo no Hemisfério Ocidental.
Dizendo que estava atuando em nome do presidente Trump — que nos
últimos dias ampliou seu discurso do medo dos imigrantes à medida que se
aproximam as eleições legislativas da próxima terça-feira — Bolton afirmou que
seguirá apoiando o povo cubano contra o governo. E aproveitou para criticar
Barack Obama, que visitou a ilha, dizendo que “membros deste governo nunca farão
uma foto na frente da imagem de Che Guevara, engessada sobre o ministério
cubano que dirige a Polícia Nacional Revolucionária”.
— Nossa preocupação é com sanções, não com selfies — disse.
Ele afirmou que a "troica da tirania" não durará para
sempre:
— Como todos os regimes e
ideologias opressivas, também irá encontrar o seu fim. Os povos de Cuba,
Venezuela e Nicarágua são adversários temíveis, e se eu fosse (o presidente
cubano Miguel) Díaz-Canel, Maduro ou Ortega, eu temeria seu poder virtuoso —
disse. Os Estados Unidos esperam ver cada ponta do triângulo cair: em Havana,
em Caracas, em Manágua.
Linha-dura
republicano
Considerado um radical mesmo para os padrões dos falcões
militaristas do Partido Republicano, Bolton imprimiu um tom agressivo à
política externa americana desde que foi nomeado conselheiro de Segurança
Nacional, em maio. Ele é conhecido pelo desprezo às instituições multilaterais
— em setembro último, ameaçou sancionar o Tribunal Penal Internacional (TPI) se
a corte insistisse nas investigações sobre supostos crimes de guerra americanos
no Afeganistão.
Quando embaixador na ONU de George W. Bush, ele ficou famoso por
ser um dos grandes artífices da "guerra ao terror" e um advogado
ferrenho da invasão do Iraque. À época da invasão, ele defendia que os EUA
atacassem em seguida a Coreia do Norte e o Irã, países que Bush havia incluído
no "eixo do mal", junto com o Iraque. Bolton também esteve por trás
da demissão do diplomata brasileiro José Mauricio Bustani do cargo de chefe da
Organização para a Proibição de Armas Químicas (Opaq). Na época, as inspeções
feitas pela Opaq mostravam que o Iraque de Saddam Hussein não tinha armas de
destruição em massa, pretexto para a invasão do país em 2003.
Neste ano, Bolton também anunciou que os EUA revisariam
todos os acordos internacionais que podem expor o país a decisões vinculantes
da Corte Internacional de Justiça, classificando o órgão da ONU de
"politizado e ineficaz".
Ao longo de quase dois anos de mandato, Trump reduziu parte das
medidas de degelo com Cuba instituídas pelo seu antecessor, o democrata Barack
Obama. O atual presidente apertou as regras sobre viagens de americanos à ilha
e restringiu os negócios de empresas dos EUA lá. Entretanto, formalmente
manteve as relações diplomáticas restabelecidas por Obama.
No mês passado, durante discurso nas Nações Unidas, Trump atribuiu
o colapso econômico venezuelano a "financiadores cubanos" do governo
de Maduro. O governo dos EUA já impôs várias rodadas de sanções contra
militares e políticos venezuelanos próximos a Maduro, que é acusado de violar
direitos humanos no seu país. O presidente venezuelano, por sua vez, diz ser
vítima de uma "guerra econômica" liderada por adversários apoiados
pelos EUA.
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