O que foi a
"Revolução de 64"?
Esse movimento, que completa 40 anos
agora em março, foi um golpe de Estado ocorrido no Brasil. Na madrugada de 31
de março para 1º de abril de 1964, líderes civis e militares conservadores
derrubaram o presidente João Goulart. Diversos fatores levaram ao golpe, alguns
circunstanciais e outros que se arrastavam havia décadas, como mostra a página
ao lado. Mas, resumidamente, dá para dizer que o movimento surgiu para afastar
do poder um grupo político, liderado por João Goulart, que, na visão dos
conspiradores, levava o Brasil para o "caminho do comunismo". Para
entender melhor o golpe, é preciso lembrar o clima de radicalismo político que
o país vivia. Até as Forças Armadas estavam rachadas, dividas em duas chapas
que se enfrentavam nas eleições do Clube Militar desde os anos 50. "De um
lado, estavam oficiais nacionalistas; do outro, um grupo que pregava maior
aliança com os Estados Unidos, na verdade um recurso para enfrentar a ameaça comunista", diz o historiador João Roberto Martins Filho, da Universidade Federal de
São Carlos (SP). Em 1964, a temperatura política no país havia subido tanto
que, meses antes de ser deposto, João Goulart tentou declarar "estado de
sítio", medida que ampliaria seus poderes. Muitos militares e líderes
conservadores passaram a acreditar que o presidente daria um golpe para
instalar uma ditadura de esquerda. Nesse ambiente de conspirações, teve início
a rebelião de 31 de março. "Considerando que o Brasil estava numa
encruzilhada, o golpe definiu uma solução ditatorial para a crise e colocou o
país numa trajetória autoritária de mais de 20 anos", diz João Roberto.
Mergulhe nessa Na livraria:
A Ditadura Envergonhada, Elio Gaspari,
Companhia das Letras, 2002
O Fantasma da Revolução Brasileira, Marcelo
Ridenti, Unesp, 1993
Na internet:
www.cpdoc.fgv.br/dhbb/verbetes_htm/6367_1.asp
Só o último capítuloRaízes da crise que levou os militares
ao poder em 1964 surgiram décadas antes
1935 - medo comunista
Em novembro de 1935 ocorre a Intentona
Comunista, rebelião organizada pelo Partido Comunista Brasileiro. Em algumas
capitais, como Rio e Natal, simpatizantes do partido tentam controlar quartéis
e incentivar a população a derrubar o governo Getúlio Vargas. A rebelião é
rapidamente derrotada, mas deixa uma herança: consolida em grande parte do
Exército uma tradição de forte anticomunismo
1948 - Teoria perigosa
Em 1948, oficiais brasileiros que
freqüentaram instituições militares americanas criam a Escola Superior de
Guerra (ESG). Ela vira a sede do pensamento militar anticomunista no Brasil,
atraindo elites conservadoras do país. A ESG elabora uma doutrina de segurança
nacional, princípios teóricos que servirão para justificar a intervenção dos
militares em assuntos do governo em nome de supostos "interesses da
pátria"
1954 - Ensaios golpistas
Entre 1951 e 1954, o governo
nacionalista de Getúlio Vargas enfrenta feroz oposição de militares e líderes
civis conservadores grupo mais alinhado com interesses
americanos. Em agosto de 1954, as articulações para um golpe militar param após
o suicídio de Getúlio. Novas suspeitas de golpe surgem em 1956, com o mesmo
grupo conservador tentando, sem sucesso, impedir a posse do novo presidente
eleito, Juscelino Kubitschek
1959 - Revolução numa ilha
O "perigo comunista" volta a
ganhar destaque em 1959, quando uma revolução conduz Fidel Castro ao comando de
Cuba. A ascensão de Fidel no Caribe traz o comunismo antes só difundido em governos na Europa e na Ásia próximo do Brasil, aumentando o medo dos
conservadores em relação a políticos nacionalistas e de esquerda
1961 - Renúncia inesperada
Em 25 de agosto de 1961, o presidente
Jânio Quadros renuncia. Conservadores pressionam para que o vice, João Goulart
(Jango), não assuma, pois ele é visto como um político de esquerda. Mas
militares legalistas defendem a posse do vice. A saída é adotar o
parlamentarismo, que diminui o poder de Jango
1963 - Jango ganha fôlego
Um plebiscito é realizado no dia 6 de
janeiro de 1963 para que a população decida se o parlamentarismo é mesmo aceito
como o novo sistema de governo ou se o país retorna ao presidencialismo. Por
ampla margem, o eleitorado decide pelo retorno do regime presidencialista e
Jango recupera plenos poderes
1964 (13 de março) - Guinada à esquerda
Mesmo fortalecido, Jango não tem apoio
parlamentar para aprovar as "Reformas de Base", seu principal projeto
de governo, que incluía, entre outros pontos, a nacionalização de empresas
estrangeiras e a reforma agrária. Sem força, ele se alia à esquerda nacionalista.
Em 13 de março, num grande comício na estação Central do Brasil, no Rio, Jango
pede ao povo apoio às reformas
1964 (19 de março) - Reação da direita
Menos de uma semana após o comício de
Jango no Rio, que reuniu cerca de 300 mil pessoas, os conservadores organizam
uma passeata popular em resposta às alianças de Jango e seus projetos
supostamente "comunistas". No dia 19 de março, aproximadamente 500
mil pessoas participam em São Paulo da "Marcha da Família com Deus pela
Liberdade", exigindo o fim do governo João Goulart
1964 (30 de março) - A gota d'água
Diante da resistência ao seu governo na
cúpula das Forças Armadas, Jango se aproxima de militares de baixa patente,
ficando ao lado deles em rebeliões no meio militar. Em 30 de março, Jango se
encontra com sargentos da PM do Rio e se solidariza a eles. Oficiais graduados
vêem no gesto uma ameaça à hierarquia militar. Era o que faltava para
incentivar o golpe
1964 (31 de março) - O desfecho militar
Na madrugada de 31 de março para 1º de abril, uma rebelião contra o
governo começa em Minas Gerais. Entre os líderes do movimento, destacam-se o
governador mineiro Magalhães Pinto e o marechal Castello Branco, chefe do
Estado-Maior do Exército. A rebelião é apoiada em outras regiões, por políticos
conservadores e pela maioria das Forças Armadas. Jango é deposto e tem início
uma ditadura militar que durará até 1985
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