PF: Cachoeira controlava bancada multipartidária


Política 

Além de manter ligação com pelo menos dois governadores, o empresário Carlos Cachoeira era próximo de parlamentares do PT, PSDB, PP, PTB e PPS

A Operação Monte Carlo desbaratou a máfia de caça-níqueis de Cachoeira, que está preso desde fevereiro
A Operação Monte Carlo desbaratou a máfia de caça-níqueis de Cachoeira, que está preso desde fevereiro (Celso Junior/AE)
A investigação da Polícia Federal que desmantelou a máfia dos caça-níqueis montada em Goiás e nos arredores de Brasília mostra que o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, controlava uma bancada multipartidária no Congresso Nacional.  Além do senador Demóstenes Torres (GO), ex-DEM, Cachoeira era próximo de parlamentares de mais cinco partidos: PT, PSDB, PP, PTB e PPS. O bicheiro também mantinha ligação indireta com pelo menos dois governadores, o de Goiás e do Distrito Federal.
Os grampos da Polícia Federal na Operação Monte Carlo, que desbaratou o esquema de Cachoeira, revelam que ele tinha relações de intimidade com os parlamentares, com quem tratava de negócios e falava sobre quantias em dinheiro, devidas e a receber.
Os deputados federais goianos Rubens Otoni (PT), Carlos Alberto Leréia (PSDB), Sandes Júnior (PP) e o Stepan Nercessian (PPS-RJ), flagrados em conversas com Cachoeira, já respondem a processos na Corregedoria da Câmara. O líder do PTB, Jovair Arantes (GO), admitiu que é amigo de Cachoeira e pediu o apoio dele à pré-campanha à prefeitura de Goiânia.
O petista Rubens Otoni teve de explicar uma doação não declarada de 100 000 reais de Cachoeira à campanha dele à prefeitura de Anápolis. Otoni disse que Cachoeira queria a ajuda dele para desenrolar a papelada de um laboratório na cidade.
O tucano Carlos Alberto Leréia ainda não explicou um depósito de Cachoeira em sua conta, rastreado pela Polícia Federal, no valor de 100.000 reais. Leréia usava um dos telefones Nextel, cedidos por Cachoeira e habilitados nos Estados Unidos, para dificultar grampos. O tucano disse que só vai se pronunciar depois de sua defesa tiver acesso ao inquérito. Ao contrário da direção do DEM, que cobrou a expulsão imediata de Demóstenes, o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra, pediu um tempo para que o tucano se explique. "Não prejulgamos ninguém, mas desejamos esclarecimentos".
Leréia é aliado do governador de Goiás, Marconi Perillo, do PSDB, que teve de dar explicações sobre a proximidade ao contraventor. Ele admitiu que esteve com Cachoeira em "reuniões festivas", inclusive na casa de Demóstenes.
A chefe de gabinete de Marconi, Eliane Pinheiro, pediu exoneração do cargo depois de aparecer em conversas em que passava informações sigilosas sobre operações policiais que tinham como alvo o esquema do contraventor. Outro governador indiretamente envolvido é o petista Agnelo Queiroz, do Distrito Federal. Grampos da Polícia Federal indicam que um integrante do governo dele participou de uma operação para direcionar um contrato milionário, estimado em 60 milhões de reais, para a máfia dos jogos.
Nos grampos da PF, o deputado Sandes Júnior, do PP, fala no edital de uma concorrência pública e dá satisfações sobre o recebimento de cheques, cujos valores seriam divididos com Cachoeira. O deputado declarou que era uma "brincadeira" de Cachoeira a suposta divisão dos valores. E Stepan Nercessian licenciou-se do PPS para esclarecer as ligações com o bicheiro. Ele admitiu ter recebido 169.000 reais de Cachoeira. Alegou tratar-se de um empréstimo para quitar um imóvel, mas devolveu a quantia dias depois.
Remoção - Os advogados de Cachoeira pediram à Justiça sua remoção do presídio federal de segurança máxima localizado em Mossoró, no Rio Grande do Norte, argumentando que o seu cliente não deveria ser submetido aos rigores do sistema prisional federal, com diversas restrições que não são aplicadas em outros presídios. Eles alegam que as restrições atrapalham o trabalho da defesa.
Os advogados querem que Cachoeira seja transferido para alguma penitenciária mais próxima da família do empresário, que vive em Goiás, e dos seus advogados, sediados em São Paulo. O ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos faz parte da equipe que defende Cachoeira. O empresário está preso desde 29 de fevereiro. O pedido de transferência, protocolado na terça-feira, foi encaminhado para parecer do MP e deverá ser decidido apenas na próxima semana.
(Com Agência Estado)

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