Governo já cortou quase 800 mil famílias do Bolsa-Família
Junto com os
sem-casa e os sem-Pronatec, excluídos do principal programa social do governo
formam um novo contingente de desvalidos: o daqueles de quem o Estado,
silenciosamente, começou a tirar o que deu
Por: Pieter Zalis, do
semiárido do Nordeste11/09/2015 às 21:57
Os novos retirantes
– Desde maio, o agricultor Osmar de Oliveira não recebe mais os 309 reais a que
tinha direito pelo Bolsa Família.
A moto estacionada na frente da casa, ou o
fato de sua mãe, que mora no mesmo terreno, receber aposentadoria do INSS, pode
ter sido o motivo da suspensão do pagamento, desconfia ele.
Agora, sem dinheiro
para a carne e a gasolina, Oliveira estuda seguir a trilha que conterrâneos
percorreram décadas atrás e deixar a mulher, Jailma, e os filhos, Beatriz e
Ismael, para buscar emprego em São Paulo(Leo Caldas/VEJA)
Primeiro, chega a
"cartinha". Com carimbo do Ministério do Desenvolvimento Social, ela
pede ao beneficiário do Bolsa Família que se apresente na prefeitura da cidade
para agendar a visita de um assistente social à sua casa.
A partir desse
momento, o dinheiro do programa já para de entrar na conta da família.
Semanas
depois, o assistente social toca a campainha.
Prancheta, caneta e almofadinha
de carimbo na mão (para os casos em que o beneficiado não sabe escrever), ele
faz perguntas sobre cada morador da casa: quem estuda, quem trabalha, quanto
ganha.
Caso note a presença de uma moto, de uma TV de LED ou de qualquer
elemento que destoe do cenário de pobreza obrigatório, indaga quando a família
adquiriu o bem e com que recursos.
Encerrada a entrevista, pede ao beneficiário
que assine o formulário preenchido e encaminha o papel à prefeitura.
Feito
isso, o resultado é quase sempre o mesmo: adeus, Bolsa Família.
Poucos dos que
recebem a visita do assistente social conseguem manter o benefício.
Sem anúncio nem
alarde, o governo federal começou a passar a tesoura nos programas sociais.
O
Bolsa Família, carro-chefe da administração petista, sofreu neste ano o mais
profundo corte desde que foi criado, há onze anos.
Apenas no primeiro semestre
de 2015, 782.313 famílias deixaram de receber o benefício.
Para diminuir os
custos do programa sem admitir sua redução, o governo passou a promover um
pente-fino silencioso entre os cadastrados.
Desde maio, vem cruzando seus dados
com informações do INSS e do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran), por
exemplo.
O objetivo é identificar quem possui bens incompatíveis com o teto de
renda permitido aos participantes do programa (até 154 reais por membro da
família, o que torna difícil a compra de um carro, por exemplo) ou está
acumulando benefícios indevidamente.
Os que já recebem a aposentadoria rural de
um salário mínimo não podem ganhar Bolsa Família.
Também estão impedidos de
integrar o programa pescadores que recebem o seguro-defeso - pago durante o
período de procriação dos peixes.
Esse veto surgiu de uma portaria criada pelo
governo federal em março deste ano.
Desde então, em cidades do Nordeste que
vivem da pesca, como Saubara, na Bahia, a queda no número de beneficiários do Bolsa
Família foi de quase 70%.
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