04/10/2015
Os segredos da Operação Lava Jato podem estar em mãos de empreiteiros, advogados e bandidos, circulando livremente no mercado negro do
crime organizado.
A
informação está contida em reportagem do Jornal a Folha de São Paulo que
circula nesse domingo, 04.
Segundo a Folha, um delegado federal e um ex-agente
da PF são suspeitos de vazar informações secretas, “guardadas a sete chaves” na PF, em Curitiba.
Um sigiloso inquérito
que já foi instaurado, que promete revelar quem vendeu, quem comprou e quem se
beneficiou com as informações.
Já há consenso na cúpula da PF que o fato, se
comprovada sua veracidade, deva provocar demissões de policiais e representação
junto a OAB para que apure o comportamento ético de advogados.
A previsão é de
que penas duras devam ser impostas aos envolvidos no episódio.
Certamente
, “os agentes” da
empreitada não imaginavam quem é Sérgio Moro!
Um dos
advogados da Odebrecht, Augusto de Arruda Botelho está sob investigação da
Polícia Federal sob a suspeita de ter comprado de policiais dossiês com
informações sigilosas ou falsas para desqualificar os delegados da Operação
Lava Jato e prejudicar as investigações.
Há
suspeitas de que anotações encontradas pela PF no bloco de notas do celular do
presidente do grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht, preso desde 19 de junho,
possam ter alguma relação com a suposta estratégia ilegal para atrapalhar as
apurações.
Um
desses textos dizia: “Trabalhar para anular (dissidentes PF…)”, o que foi
interpretado pela polícia como uma tentativa de acabar com a investigação por
meios ilícitos –a Odebrecht sempre refutou essa versão.
Os
dissidentes da anotação, segundo suspeita da PF, podem ser os mesmos policiais
que teriam vendido as informações secretas.
PF
colheu indícios de que o preço dos dados sigilosos pode variar de R$ 500 mil a
R$ 2 milhões.
Uma das informações que teria sido vendida era a data das prisões
e buscas em empreiteiras, o que permitiria às empresas esconder material que
poderia ser apreendido.
Um
delegado e um ex-agente da PF são os principais suspeitos pela suposta venda,
segundo a portaria que instaurou o inquérito.
Paulo Renato de Souza Herrera foi
um dos primeiros críticos dos delegados da Lava Jato e está afastado para
tratamento psicológico; o ex-agente é Rodrigo Gnazzo.
Outro
advogado, Marden Maués, que atuou na defesa da doleira Nelma Kodama, também
aparece na apuração sob suspeita de que teria ajudado os policiais a
comercializar as informações secretas.
Botelho
e Maués refutam as suspeitas e dizem que o inquérito é uma tentativa da PF de
constrangê-los por terem apontado irregularidades na Lava Jato (leia texto
abaixo).
Dois
advogados de Curitiba, ouvidos pela Folha sob a condição de que seus nomes não
seriam revelados, dizem que foram procurados pelos policiais investigados.
Além de
dossiês, um deles oferecia os serviços de um hacker que dizia ser capaz de
invadir computadores da PF em Curitiba, nos quais estão armazenados dados da
Lava Jato, e alterar informações ali armazenadas.
Os advogados dizem ter
recusado a oferta.
DOLEIRA
Um dos
indícios apontados pela PF de que houve venda de informações foi a publicação
de uma reportagem sobre mensagens que os delegados da Lava Jato trocavam num
grupo fechado do Facebook.
Como só
policiais da Lava Jato faziam parte do grupo, a suspeita é que o delegado
investigado tenha vendido essas informações para desqualificar politicamente o
grupo.table(articleGraphic).|/3.(articleGraphicSpace).
Numa
das mensagens, o delegado Márcio Anselmo dizia “alguém segura essa anta, por
favor”, em referência a Lula e a uma notícia cujo título era “Lula compara PT a
Jesus Cristo”.
A
reportagem foi publicada em novembro de 2014 no jornal “O Estado de S. Paulo”.
O
inquérito, que corre em segredo de Justiça, foi instaurado a partir de
informações prestadas pela doleira Nelma Kodama.
Condenada a 18 anos de prisão,
Nelma negocia um acordo de delação premiada e prestou depoimentos relatando o
que diz ter ouvido de seu antigo advogado, Marden Maués.
Pelo relato de Nelma,
Marden se aproximou do grupo dissidente quando eles investigavam a morte de um
agente da PF em Curitiba que se enforcou no ano passado, quando seus superiores
descobriram que ele se apaixonara pela doleira.
Nelma
disse que Maués e Botelho se reuniram em Curitiba e São Paulo para acertar o
negócio –um dos encontros teria ocorrido num motel.
Os dois
dizem que se encontraram para tratar de uma causa que iriam defender juntos,
sobre a extradição de um colombiano, mas se negaram a comentar sobre o local
dessa reunião.
A parceria, no entanto, não foi adiante, de acordo com eles.
OUTRO LADO
O
advogado Augusto de Arruda Botelho nega a compra de dossiê para prejudicar as
apurações da Lava Jato e diz que o inquérito no qual é investigado é uma
iniciativa para silenciar aqueles que apontam irregularidades de autoridades
envolvidas no caso.
Segundo
ele, “quanto mais se acumulam as provas de graves ilegalidades na condução da
Lava Jato, mais arbitrárias e desesperadas tornam-se as iniciativas para calar
aqueles que as apontam”.
“Primeiro
constrangeram-se policiais que denunciaram a colocação de escutas ilegais na
cela de um preso e na própria sede da PF.
Agora se cria uma fantasiosa história
para tentar afastar da causa um dos poucos advogados que ousa confrontar os
desmandos da operação”, completa.
A
Odebrecht afirma que não vai se manifestar.
O
advogado Marden Maués segue a mesma linha de defesa de Botelho: diz que o
inquérito é uma retaliação às críticas que fez ao trabalho dos delegados da PF.
Para
ele, as declarações da doleira Nelma Kodama não podem ser levadas a sério.
“Ela
negocia sua delação há oito meses e falaria qualquer coisa que interessasse aos
policiais para não cumprir a pena a que foi condenada.”
Claudio
Dalledone, advogado do ex-agente Rodrigo Gnazzo, disse que não comentaria as
suspeitas porque a investigação está sob sigilo.
A PF não quis se manifestar.
A Folha não conseguiu localizar a defesa do
delegado da PF Paulo Herrera
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