Exército
Remoção
de general inquieta militares
Troca do comandante militar do Sul ocorreu após ele
criticar corrupção e excesso de cargos de confiança no governo
O GENERAL MOURÃO FILHO PAI DO GENERAL MOURÃO FOI QUEM DEU O PONTAPÉ INICIAL PARA IMPEDIR QUE O BRASIL SE TORNASSE UMA NAÇÃO COMUNISTA.
O DESTINO MOSTRA CLARAMENTE QUE QUE HOJE SEU FILHO GENERAL MOURÃO, DE FORMA DIFERENTE DÁ NOVAMENTE O PONTAPÉ PARA ACABAR COM ESTA BAGUNÇA INSTALADA NO PAIS.
E A EXONERAÇÃO PODE SER UMA RETALIAÇÃO AOS FEITOS POR SEU PAI NA DÉCADA DE 60.
É grande a gritaria nas redes sociais
contra a remoção do general Antônio Hamilton Martins Mourão da chefia do
Comando Militar do Sul (CMS). Correntes na internet e no Facebook se formaram
em apoio ao oficial, afastado do cargo após
dois episódios: críticas que disparou contra o governo —
"esquerda e direita se encontrando na corrupção" — e também por ter
permitido recente homenagem póstuma, em Santa Maria, ao coronel Brilhante
Ustra, ex-comandante do DOI-Codi do II Exército, em São Paulo, um dos
principais centros de repressão do regime militar e no qual teriam morrido 45
prisioneiros.
A homenagem a Ustra aconteceu logo depois
da morte dele, no dia 15 de outubro. Ela foi feita no pátio de formatura da 6ª
Brigada de Infantaria Blindada, em Santa Maria, cidade natal de Ustra. E teria
sido autorizada pela 3ª Divisão de Exército, subordinada a Mourão. A divisão
teria expedido convites para a cerimônia. Acontece que a presidente Dilma
Rousseff foi presa e torturada num quartel chefiado por Ustra durante o regime
militar, o Destacamento de Operações de Informações (DOI) do II Exército
em São Paulo.
Foi o segundo episódio envolvendo Mourão e que desagradou a
cúpula do governo em Brasília. O primeiro foi uma entrevista em 15 de setembro, em Porto
Alegre. Entre outras considerações, ele disse:
— Não é possível que um governo
tenha 22 mil cargos de confiança para nomear.
Outra crítica:
— Esquerda e direita se encontram na
corrupção.
E não se furtou a identificar cenários
possíveis para o país, nos próximos meses:
1. Sobrevida: mesmo enfraquecido, o
governo Dilma chega ao final do mandato.
2. Queda controlada: Dilma renuncia ou se
afasta por iniciativa própria, negociando a transição.
3. Renovação: descontinuidade do governo
com novas eleições.
4. Caos.
A sinceridade pode ter custado o cargo a
Mourão, que comandava o maior efetivo do país — as tropas dos três Estados do
Sul, que englobam 48 mil dos 217 mil militares do Exército Brasileiro. Ele já
não comanda quartéis. Foi deslocado na última quinta-feira para a Secretaria de
Economia e Finanças do Exército, um gabinete em Brasília.
Nas mídias sociais, a reação à remoção do
oficial foi virulenta. O site Revoltados On Line, que prega o afastamento da
presidente Dilma Rousseff, publicou, em letras garrafais: "A
resistência já começou nos quartéis! Parabéns ao General Mourão pela dignidade e
pela coragem em afrontar esse desgoverno, mesmo sabendo das consequências que
sofreria! Vamos espalhar este exemplo para todo o Brasil! Fora Dilma! Fora PT!
Impeachment já!"
Um general muito prestigiado e primeiro
comandante brasileiro no Haiti, Augusto Heleno Pereira (hoje na reserva),
desabafou a seus colegas de farda, no Facebook: "Colocações
verdadeiras e oportunas, feitas por oficiais-generais da ativa, provocaram
reação dos que odeiam censura, mas estrebucham quando chefes militares se
posicionam sobre a conjuntura nacional. Esquerdopatas, fiquem calmos...Os
castrenses não pensam em tomar o poder. Mas não somos robôs descerebrados e
guardamos os direitos de espernear contra tantos desmandos e
roubalheiras!"
As mídias sociais cometem até um
engano — atribuem a Mourão a frase "em 1964 impediram que o país
caísse nas mãos da escória moral que, anos depois, o povo brasileiro resolveu
por bem colocar no poder". Não é dele, mas de um manifesto feito por
oficiais da reserva, em 2014.
Zero Hora ouviu um general de Brasília e
dois coronéis do Rio Grande do Sul, que interpretam de formas diferentes a
remoção de Mourão. O general ressalta que o Informex (Boletim Informativo do
Exército) anunciou na quinta-feira 64 remoções de generais para
outros postos, algo comum em novembro.
— Por que não trocaram o general Mourão
em setembro, quando ele deu entrevista sobre conjuntura política? Ou no início
de outubro, quando da homenagem ao Ustra? Porque a remoção é rotineira. O
Exército não está interessado em ficar no centro do debate político ou da
crise. Estamos com 70% de aprovação da população, temos de surfar nessa onda.
Nosso papel é diminuir o atrito, não aumentá-lo.
Os coronéis têm outra opinião: acreditam
que Mourão foi, sim, punido por falar demais. Mas ressaltam que o desagrado nos
quartéis se limita a isso, nada de movimentação política.
— Ninguém quer intervenção militar. A
intervenção será judicial — especula um dos oficiais, referindo-se a um
possível impeachment da presidente.
O substituto do general
Mourão já foi escolhido. O novo comandante do CMS é o
general de Exército Edson Leal Pujol, que ocupava até ontem a Secretaria de
Economia e Finanças do Exército — justamente o cargo para o qual foi
transferido, agora, o general Mourão.
Pujol, considerado um dos mais preparados militares brasileiros,
é gaúcho de Dom Pedrito, filho do coronel da BM Péricles Pujol. O general
estudou no Colégio Militar de Porto Alegre de 1967 a 1970. Começou carreira
militar em 1971, como aspirante a oficial, e cursou a famosa Academia Militar
de Agulhas Negras (RJ). É da Cavalaria. Foi primeiro colocado na turma de
Cavalaria da Escola de Aperfeiçoamento de Oficiais.
No Rio Grande do Sul, ele já comandou a 1ª Brigada de Cavalaria Mecanizada de Santiago.
Entre março de 2013 e março de 2014, comandou a Força de Paz na Missão de
Estabilização das Nações Unidas no Haiti (Minustah). Ele também foi ligado ao
Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, entre abril de
2014 e abril de 2015.
*Colaborou: Adriana Irion
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