Tulio Milman: o dia em que o comunista derrubou o general
Existe aí
um simbolismo histórico. cinquenta e um anos depois, o comunista derrubou o
general. Com uma caneta.
Antonio Mourão foi exonerado do Comando Militar do Sul. Vai para
um gabinete em Brasília. Com janela para a rua.
Aldo Rebelo, do PC do B, ministro da Defesa, assinou o ato
na quinta-feira. Mais que um ato, é um lembrete. Militar fardado não deve falar
publicamente sobre política.
Hierarquia é uma palavra sagrada nas Forças Armadas. Mourão,
mais de uma vez, criticou a corrupção e a presidente.
Mourão sugeriu uma
homenagem ao coronel Ustra, símbolo da repressão militar. Mourão caiu.
Entrou,
quase camuflado, numa extensa lista de movimentações.
Seria normal, se não fosse o momento. O general teria dito a um
interlocutor, logo depois de saber na notícia:
“Essa é a minha mochila”. Na
gíria militar, mochila também é sinônimo de missão. Aquilo que cada tem que
carregar, não importa o peso.
Um militar revelou, em fórum privado, o temor de que a queda de
Mourão represente um retrocesso na nova cultura de comunicação das Forças
Armadas. “Ninguém mais vai dar um piu”, prognosticou. Mas as redes sociais
estão falando.
Mourão virou um símbolo da crítica. “Não importa pra onde ele
vá. Ele disse o que tinha de ser dito”, comentou, internamente, um outro
oficial.
Minutos após o anúncio da exoneração, alguém jogou a
#SomosTodosMourao nas redes sociais. A adesão foi grande. Apesar disso, são
remotas as chances de uma reação pública mais contundente, embora Mourão
represente o pensamento médio da corporação.
As Forças Armadas, hoje, sabem bem
o seu papel. O general Mourão, pelo jeito, escolheu o seu.
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