Cunha revoga rito do
impeachment barrado pelo STF
Decisão deve
destravar a tramitação dos processos contra a presidente Dilma Rousseff após
liminares acatadas pelo Supremo Tribunal Federal
Por: Laryssa
Borges e Marcela Mattos, de Brasília
Presidente da Câmara dos Deputados,
Eduardo Cunha, durante sessão deliberativa - 27/10/2015 (Valter Campanato/Agência Brasil)
Com aval dos técnicos da Câmara em
favor da continuidade do pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff, o
presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), revogou nesta quinta-feira as
regras que ele mesmo havia definido para a tramitação dos pedidos de
afastamento.
Com isso, voltou a ter controle sobre o andamento de um possível
processo de saída da presidente.
A revogação da "cartilha do
impeachment" é uma tentativa de contornar as liminares do Supremo Tribunal
Federal (STF), que haviam sustado o rito de tramitação dos pedidos de
impeachment.
Ou seja, a decisão de hoje tende a destravar o impasse jurídico
sobre o andamento dos processos que podem levar Dilma a perder o cargo.
A liminar concedida pelo ministro
Teori Zavascki, por exemplo, dizia que eram questionáveis "o modo e a
forma como foi disciplinada essa matéria (por decisão individual do presidente
da Câmara, mediante resposta a questão de ordem), como também a negativa de
admissão, por essa autoridade, de meio impugnativo de revisão ou de controle do
seu ato por órgão colegiado da Casa Legislativa".
A decisão de Eduardo Cunha tem como
pano de fundo esvaziar a possibilidade de interferência do STF na tramitação
dos pedidos de impedimento contra Dilma.
Com a revogação do rito do
impeachment, a Câmara vai se valer agora da Lei 1079, de 1950, que define os
crimes de responsabilidade e o julgamento deles, além de se amparar na
Constituição e do Regimento Interno da Câmara, que prevê a possibilidade de o
próprio presidente da Casa, em decisão individual, dar seguimento ou não aos
processos.
O Regimento Interno da Casa prevê ainda a possibilidade de recurso,
independentemente do rito que havia sido definido pelo peemedebista.
Prazo - Os partidos de oposição avaliam que até a próxima semana será
possível abrir oficialmente o primeiro processo contra Dilma.
Os oposicionistas
haviam estabelecido o prazo até 15 de novembro para que o impeachment pudesse
seguir em frente.
A aliados, Cunha confirma que vai tomar uma decisão nas
próximas semanas.
Ao explicar a revogação do rito,
Cunha afirmou que a Câmara apresentou um recurso ao STF para explicar que o
"manual do impeachment" não era, na avaliação do parlamentar,
inconstitucional.
Mas diante da incerteza provocada pela falta de uma decisão
definitiva sobre o processo, ele próprio decidiu acabar com as regras propostas
individualmente por ele e passar a aplicar a legislação já existente.
"Primeiro, a gente quis agravar
[recorrer ao STF] e quis prestar as informações para que pudesse ter os argumentos
de que não havia nada de errado.
Se a gente fizesse isso [revogasse o rito] num
primeiro momento, poderia passar a impressão de que alguma coisa de errado
tivesse sido feita, que não foi o caso", afirmou Eduardo Cunha.
No trâmite para processos de
impeachment, segundo a Lei 1079/1950, está a instalação de uma comissão
especial para dar um parecer ao Plenário.
O entendimento de Eduardo Cunha é o
de que depois da análise pela comissão, o pedido de impeachment é submetido à
votação nominal e para que a acusação seja admitida e o processo de impedimento
da presidente seja aberto, são necessários, em Plenário, 342 votos dos 513
deputados.
Em setembro, Eduardo Cunha havia
apresentado a fórmula para a tramitação de pedidos de impeachment contra a
presidente Dilma Rousseff e definido que caberia a ele, como presidente da
Câmara, definir previamente se são cabíveis ou não os pedidos de impeachment.
Por este manual, a ideia é que apenas deputados, e não autores dos processos de
impedimento ou cidadãos sem mandato, pudessem apresentar recurso contra o
eventual indeferimento de qualquer uma das denúncias.
Mas liminares dos
ministros Teori Zavascki e Rosa Weber suspenderam, no dia 13 de outubro, a
forma de tramitação dos pedidos de impeachment contra a presidente Dilma
Rousseff por suposto crime de responsabilidade.
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