Jornalistas odeiam censura e cerceamento à liberdade de expressão, mas alguns se assustam quando chefes militares da ativa fazem colocações verdadeiras e oportunas sobre a conjuntura nacional.
Vale recordar que os profissionais das três Forças se dedicam, durante a carreira, ao estudo de problemas brasileiros e à avaliação da conjuntura internacional.
Além da Universidade Militar (quatro anos), cursam, como capitães, a Escola de Aperfeiçoamento (um ano); depois, mediante concurso, já oficiais superiores, a Escola de Comando e Estado Maior (dois anos); e, por último, durante um ano, um pós-doutorado, na área de política e estratégia.
Saem da teoria e vivem os problemas "in loco".
Residem, invariavelmente, nos lugares mais inóspitos do território nacional, particularmente na Amazônia, onde, quase sempre, só os "milicos" se fazem presentes.
Conhecem o país como poucos. Pagam impostos e são obrigados a votar.
Importante notar que a incapacidade de boa parte dos governantes lhes custa caro.
Por conta disso, distribuem água no Nordeste; constroem e reparam estradas e pontes; ocupam comunidades para reprimir o crime; monitoram, sozinhos, boa parte das imensas fronteiras; retomam invasões ilegais; cuidam de inúmeras comunidades indígenas abandonadas; cobrem deficiências do sistema de saúde; gerenciam catástrofes; combatem a dengue, entre outros.
Ou seja, os militares cumprem qualquer missão, além de suas tarefas constitucionais.
Ainda assim, são mal remunerados e dispõem de orçamento destroçado.
Por motivos óbvios, não podem se organizar em sindicatos, nem fazer greves.
Os chefes militares exigem de seus comandados dedicação integral, até em fins de semana e feriados, sem qualquer remuneração extra.
Devem, portanto, mantê-los inteirados da situação.
O general de Exército Antônio Hamilton Martins Mourão construiu sua carreira pautado pela lealdade, retidão e respeito aos subordinados.
Soldado exemplar, líder inconteste, nunca se permitiu mentir, blefar, caluniar ou se omitir.
Desafio que apontem qualquer inverdade nas palavras que Mourão dirigiu a outros militares, em atividade interna.
Um dos slides de sua palestra informava que "a maioria dos políticos de hoje parecem privados de atributos intelectuais próprios e de ideologias, enquanto dominam a técnica de apresentar grandes ilusões que levam os eleitores a achar que aquelas são as reais necessidades da sociedade".
O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, julgou que esses são assuntos institucionais que cabiam a ele, comandante, abordar.
Pediu a transferência de Mourão do Comando Militar do Sul para outra função, na secretaria de Finanças, igualmente nobre, compatível com o posto que ocupa.
Assunto encerrado.
Princípios de hierarquia e disciplina.
Simples assim.
Fica a dica: autoridades civis, que conduzem os destinos do Brasil (aquelas que enfiarem a carapuça), se querem evitar esse tipo de desconforto, comportem-se com um mínimo de dignidade, competência e probidade, evitando tantas mentiras, escândalos e roubalheiras.
Não dá para engolir tudo.
Esquerdopatas, fiquem calmos.
São outros tempos.
As Forças Armadas seguirão apolíticas e apartidárias, mas, pelo que levam na alma, jamais serão bolivarianas.
Os castrenses não pensam em tomar o poder, nem pretendem violar as instituições do regime democrático em que vivemos, ainda que pleno de imperfeições.
No entanto, não somos robôs descerebrados e insensíveis.
Guardamos, tanto quanto vocês, o direito e o dever de espernear contra tantos desmandos e falcatruas.
Brasil, acima de tudo!
Augusto Heleno Pereira, 68, general da reserva do Exército.
Foi comandante da Missão das Nações Unidas no Haiti (2004 e 2005)
Publicado orignalmente no joral Folha de S. Paulo
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