Léo Pinheiro pagou R$ 400 mil para o comitê do PV-RJ em 2010, que pode ter repassado ao CNPJ da campanha de Marina Silva ou ter gasto no próprio estado com a candidata
Quando responde à acusação de financiamento ilegal em suas campanhas, a
ex-senadora Marina Silva (Rede), candidata à presidência em 2010 e 2014, é
taxativa. “Não tem um centavo de caixa dois nas minhas campanhas”, escreveu em
seu perfil no
Facebook há cinco dias.
De acordo com o depoimento do empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS, para a
força-tarefa da Operação Lava Jato, Marina Silva não queria mostrar que estava
associada a empreiteiras. E o candidato a vice-presidente da chapa, o
empresário Guilherme Leal, reuniu-se com ele para acertar uma
doação.
Leal respondeu com uma nota raivosa.
Afirmou: “Houve, da parte do Sr. Léo Pinheiro, a sinalização do interesse da
OAS em apoiar financeiramente a campanha. Disse-lhe expressamente que eventual
contribuição seria bem-vinda, sem qualquer contrapartida ou compromisso e nos
estritos termos da lei. Isto é: de forma transparente e com o devido registro
no Tribunal Superior Eleitoral. A empresa OAS não fez nenhuma doação para o
comitê financeiro da campanha presidencial que se iniciou em julho de 2010.
Nunca mais falei com esse senhor. É público que houve doação da OAS para o
Comitê Financeiro Único do Partido Verde do Estado do Rio de Janeiro,
devidamente registrada no TSE”.
O primeiro comentário a fazer é: seria muito esquisito que Léo Pinheiro
vinculasse a doação a uma contrapartida ou compromisso explícito. Ao fazer
doações para campanhas políticas, empresários buscam, antes de mais nada,
garantir acesso mínimo aos candidatos eleitos. É isso que os motiva a doar para
campanhas tão diversas. Guilherme Leal negaria, caso eleito vice-presidente, uma
reunião com Léo Pinheiro? Impossível saber, mas sem dúvida a doação ao
diretório do PV-RJ facilitaria a aproximação. Mesmo, é claro, que no encontro
não discutissem nada ilegal. Não há nenhuma indicação na vida do empresário da
Natura que seu comportamento seria diferente disso.
Leal diz que “a empresa OAS não fez nenhuma doação para o comitê
financeiro da campanha presidencial” e Marina Silva afirma que sua campanha
“não recebeu um centavo de caixa dois”.
De fato, a OAS não doou para o CNPJ da campanha presidencial de Marina
Silva. Sua campanha à presidência em 2010 foi financiada, assim como a dos
outros candidatos, tanto diretamente (R$ 24 milhões) quanto indiretamente, via
diretórios e comitês estaduais de campanha (R$ 30 milhões).
Em 2010, a construtora OAS doou R$ 44 milhões para
campanhas políticas. Foram cerca de R$ 16 milhões para CNPJs de campanhas e
cerca de R$ 28 milhões para comitês e diretórios – entre eles, R$ 400 mil para
o comitê financeiro único do PV no Rio de Janeiro.
Naquele ano, o Comitê Financeiro Único do PV no Rio de Janeiro recebeu
cerca de R$ 1,5 milhão de
diversos doadores . Além da OAS, a Odebrecht contribuiu com R$ 200
mil. Este milhão e meio de reais faz parte dos R$ 30 milhões que financiaram as
atividades de campanha da candidata do PV à presidência.
Guilherme Leal tem razão: a campanha presidencial de Marina Silva não
recebeu, oficialmente, nem um centavo da OAS.
De acordo com Bruno Speck
(USP) e Wagner Pralon (USP), os cientistas políticos que mais
bem estudam financiamento político no Brasil, “as principais candidaturas
presidenciais em 2010 foram abundantemente regadas por recursos empresariais,
mas prevaleceu o financiamento empresarial indireto [no qual a empresa doa para
o partido e o partido doa para a candidatura presidencial]. O vinculo direto
entre doador e candidato se perde a partir do momento que os partidos recebem
grande volume de recursos e repassam estes para diferentes candidatos. É
importante lembrar que a hipótese das doações ocultas pressupõe que as doações
chegam aos partidos já marcados para serem repassados para determinados
candidatos. [Assim], as doações para os partidos são um mero instrumento para
impedir a identificação das doações a candidatos específicos”.
Ou seja: o dinheiro doado pela OAS para o PV-RJ pode ter sido gasto na
campanha da Marina Silva no estado ou repassado para o CNPJ de sua campanha.
Então Marina Silva recebeu de empreiteiras exatamente como outros
candidatos à presidência, governador etc.? Engraçado. E eu aqui pensando que
ela fosse inaugurar uma nova forma de fazer política.
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