Além de ir para o bolso de políticos graúdos
do partido, desvios foram remetidos ao caixa da legenda por meio dos
ex-tesoureiros Paulo Ferreira e João Vaccari Neto, alvos da Operação Custo
Brasil
O esquema de corrupção montado no Ministério do Planejamento durante a
gestão de Paulo Bernardo
foi usado para abastecer o caixa do Partido dos Trabalhadores, segundo os autos
do inquérito da Operação Custo Brasil deflagrada nesta quinta-feira. Entre os
destinatários da propina, aparecem os nomes dos ex-tesoureiros do PT Paulo
Ferreira e João Vaccari
Neto (um sucedeu ao outro no cargo) e do ex-vereador
petista Alexandre Romano, o Chambinho, que fechou acordo de delação premiada
com a Lava Jato e cujos depoimentos fundamentam a operação de hoje. De acordo
com as apurações, os três eram responsáveis por arrecadar dinheiro em nome do
partido. Os tesoureiros tiveram a prisão preventiva decretada, junto com a do
ex-ministro, pela 6ª Vara Federal Criminal de São Paulo.
O objeto principal da operação é um Acordo de Cooperação Técnica firmado
entre a Consist e o Ministério do Planejamento, em 2010. A empresa em questão
prestaria assessoria na gestão de empréstimos consignados concedidos a
servidores da pasta. Como taxa de administração, os funcionários pagavam à
Consist 1 real em cada parcela mensal, enquanto o custo real seria de 30
centavos, conforme os investigadores. Esse sobrepreço, que teria alcançado a
cifra de 100 milhões de reais entre 2010 e 2015, era repassado para o bolso de
políticos, como os ex-ministros Paulo Bernardo eCarlos Gabas,
operadores do esquema e, principalmente, para o PT, por meio de dezenas de
empresas-fantasmas.
O dinheiro endereçado ao partido foi intermediado inicialmente pela
empresa de fachada CRLS Consultoria e Eventos, depois pela PolitecTecnologia da
Informação, e, por fim, pela Jamp - as três teriam sido indicadas por Vaccari.
Esta última é ligada ao lobista - e agora delator - Milton Pascowitch, que já disse
à Lava Jato ter entregue dinheiro em espécie na sede do PT. Diretores da
Consist relataram aos investigadores que "não houve qualquer prestação de
serviço" correspondente aos pagamentos. O valor recebido por essas
empresas foi de pouco mais de 10 milhões de reais em prol do PT.
Segundo os autos, após deixar o cargo de tesoureiro, Paulo Ferreira
teria orientado Romano a "tratar do tema Consist" com Vaccari Neto,
que havia assumido o seu lugar. Um dos argumentos que baseiam o pedido de
prisão de Ferreira é que ele teria tentado "interferir" no depoimento
de Pascowitch, "afinando [com ele] o discurso" a ser dito às
autoridades - o que caracteriza, portanto, tentativa de obstrução das
investigações.
Alexandre Romano, por sua vez, teria indicado para os repasses as
empresas NSG TI Solution, SWR Informática, Instituto João Baptista Romano,
Logix 8 Participações, Link Consultoria Empresarial, SX Comunicação e Portanova
e Advogados Associados. Segundo o inquérito, parte do dinheiro era remetido a
ele "por sua atuação como lobista junto ao Partido dos
Trabalhadores". Em coletiva, o procurador da República Andrey Borges
afirmou que 80% da propina destinada a Romano ficava com o PT. Não é possível
precisar o valor total do esquema recebido pelo partido, pois o dinheiro
passava pela conta de diversas empresas até chegar ao seu destino final.
Paulo Bernardo -- Em relação aos pagamentos
feitos ao ex-ministro Paulo Bernardo, as evidências colhidas pelos
investigadores são mais claras. A PF identificou, por meio de cerca de 100
notas fiscais apreendidas, um repasse de 7.170.031,74 reais para o escritório
do advogado Guilherme Gonçalves, que prestava assessoria jurídica às campanhas
da senadora Gleisi Hoffmann (PT-RR), mulher de Paulo Bernardo. Oitenta por
cento desse valor seria destinado a pagar despesas do ex-ministro, como, por
exemplo, a renumeração de um assessor, do motorista e do próprio advogado.
Segundo a procuradoria, o acerto inicial era de que Paulo Bernardo
receberia 9,6% do total do faturamento da Consist. Quando ele deixou o
Ministério do Planejamento, em 2011, para assumir o das Comunicações, a propina
destinada a ele foi reduzida para 4,8%, e entre 2014 e 2015, baixou novamente
para 2,9%. Quem teria assumido o seu posto como mantenedor do esquema foi o
então secretário de Gestão do Planejamento, Valter Correia
da Silva, também preso hoje, que no ano passado deixou o cargo
para ser secretário de Gestão do prefeito Fernando Haddad (PT). Nesta quinta,
ele pediu exoneração do cargo para se defender no caso.
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