BRASÍLIA E SÃO PAULO — Há 16 anos, a servidora pública Ana Gori
vê um empréstimo consignado abocanhar boa parte de seu salário.
Uma dívida
levou a outra e, pelas contas dela, só termina em 2022.
Na quinta-feira, a
angústia de Ana aumentou quando viu o ex-ministro do Planejamento Paulo
Bernardo ser preso na Operação Custo Brasil, da PF, por fraude no consignado
contratado por meio da empresa Consist.
Ana chorou quando soube que, além dos
juros, ela contribuía também com a taxa mensal de R$ 0,70 de propina.
Pelas
investigações, Bernardo embolsou R$ 7 milhões em propina.
Eu chorei por mim e pelos meus amigos.
Eu
estou indignada.
Tem várias maneiras de ser assaltada.
Para mim, esse cara
(Bernardo) é tão bandido quanto o cara que me aponta a arma e leva minha bolsa
— desabafou Ana, que trabalha na Comissão Nacional de Energia Nuclear (Cnen),
em São Paulo.
O servidor Rogério Expedito, do Ministério
Público de Minas Gerais, também paga a taxa de propina embutida nas parcelas do
empréstimo consignado, ao qual recorre desde 2000.
A revolta é muito grande, porque a gente só pega empréstimo
quando está com dificuldade.
Além da taxa do banco, tem a taxa de roubo, fraude
e esquema ilícito.
A gente foi enganado.
Na verdade, era um esquema para passar
dinheiro para o ministro e para o PT — disse ele.
Segundo Expedito, a Confederação dos
Trabalhadores no Serviço Público Federal (Condsef) já decidiu entrar com ações
contra o governo federal por danos morais.
Eles querem ter de volta o dinheiro
desviado das parcelas do consignado.
Individualmente, não é muito dinheiro.
Mas
existem hoje 1,38 milhão de servidores.
Provavelmente, todos pegaram empréstimo
— disse ele.
Em um grupo de Whatsapp integrado por
servidores que têm empréstimo descontado em folha, a revolta é geral.
“Esperamos que as entidades entrem com ação para a devolução desse dinheiro,
nem que seja para doar depois.
Foram usurpados pelo governo do PT”, disse um
participante do grupo.
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