Em audiência com o juiz Sergio Moro, técnico relatou que
autoridades suíças bloquearam o sistema, que era mantido no país europeu por
"questões de segurança"
Segundo apurações da Lava Jato,
Odebrecht mantinha um departamento especializado em tratar de pagamento de
propina a agentes públicos
(Paulo Whitaker/Reuters)
Um dos técnicos em informática, responsável por gerenciar o sistema
usado pela Odebrecht no "departamento de propinas", Camilo Gornati
afirmou nesta quarta-feira, em audiência com o juiz Sergio Moro, que a maior
empreiteira brasileira hospedava o centro de processamento de dados (data
center) da ferramenta na Suíça por "questões de segurança".
Segundo
Gornati, a empresa fazia uso de dois sistemas de comunicação, um foi desativado
em meados de 2014, logo após a deflagração da Lava Jato, e outro ficou ativo
até abril deste ano. Ambos foram bloqueados pelas autoridades suíças, conforme
o técnico.
"O que me foi falado era que o sistema [na Suíça] era mais seguro.
[Ficava na Suíça] também por ele ser um dos melhores data center e pelo custo
de aquisição dos equipamentos lá ser mais baixo do que no Brasil", contou
o técnico.
Ele acrescentou que começou a trabalhar com a ferramenta da
empreiteira entre 2007 e 2008.
O sistema denominado Drousys era uma rede segura de troca de informações
usada pelos funcionários do "Departamento de Operações Estruturadas"
da Odebrecht para organizar a obtenção e o repasse de propina.
O dinheiro
ilícito era levantado com operadores, lavado por doleiros e encaminhado a
agentes públicos por meio de offshores.
Gornati era funcionário da JR Graco,
empresa que, além de prestar assessoria de informática, recebia volumosos
valores da Odebrecht.
Era ele o responsável por gerar o login e
senha dos usuários e era acionado quando surgiam problemas com a ferramenta.
Gornati foi alvo de condução coercitiva e de busca e apreensão na 26ª fase da
Operação Lava Jato, a Xepa, em março.
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Na audiência, ele revelou a quem se referiam os apelidos que apareciam
nos e-mails enviados pelo sistema.
"Gigo" era Olivio Rodrigues Junior
e o seu irmão, Marcelo Rodrigues, era o "Giginho".
Os dois foram
presos na Xepa sob acusação de lavagem de dinheiro e organização criminosa.
"Waterloo", "Tumaine" e "Tulia" eram os
ex-funcionários da Odebrecht Fernando Migliaccio, Angela Palmeira Ferreira e
Maria Lúcia Tavares.
Esta última foi presa na 23ª fase, a Acarajé, e fechou
acordo de delação premiada com os procuradores da Lava Jato.
Com base nos
depoimentos prestados por Maria Lúcia, os investigadores descobriram a
existência do "departamento de propinas", para o qual ela trabalhava
na sede da empreiteira em Salvador.
"Basicamente, eu fazia a manutenção dos usuários. Se a senha era
bloqueada, eu tinha que verificar se o usuário tinha errado a senha ou se havia
um ataque ao firewall", detalhou ele.
Em despacho desta quarta-feira, Moro destacou que, apesar de ter sido
alvo de condução coercitiva, Gornati participava da audiência como testemunha
na condição de "técnico em informática".
"Não foi ele acusado de
qualquer crime, embora, na fase de investigação preliminar, tenham sido tomadas
medidas de investigação em relação a ele", escreveu o juiz que conduz a
Lava Jato na primeira instância, em Curitiba.
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