Ex-líder do governo Dilma e delator do petrolão, o senador cassado é persona non grata entre candidatos nas eleições de outubro
O então senador
Delcídio do Amaral, durante reunião do Conselho de Ética, em Brasília (DF) -
09/05/2016 (Adriano Machado/Reuters)
“Acho que
vou me candidatar em Curitiba.
Aqui ninguém quer me ver”, ironiza a
interlocutores o ex-todo-poderoso senador Delcídio do Amaral. Banido da vida
pública pelos próximos 11 anos – o ex-petista, que afirmou à Justiça que Lula
era o chefe do esquema do petrolão, hoje vive um ostracismo de ocasião.
Ou nas
palavras dele, uma imersão para “cuidar do front jurídico pós-delação”.
Nas
eleições municipais no Mato Grosso do Sul, os políticos não se atrevem a
vincular a candidatura ao delator da Lava Jato.
Em Curitiba, onde tramita a
maior parte dos processos relacionados ao esquema de corrupção na Petrobras, o
ex-senador sul-mato-grossense, cassado em maio, acredita poder andar livremente
pelas ruas: em 21 depoimentos à justiça, detalhou como funcionava a cobrança de
propina na hidrelétrica de Belo Monte, incriminou parlamentares e ministros e,
na cartada final, apontou o dedo para Lula, Dilma Rousseff, José Eduardo
Cardozo e Aloizio Mercadante como articuladores para travar a Operação Lava
Jato.
Diz um
advogado que acompanha passo a passo os meandros do petrolão:
“Delcídio tem que
ficar sentado na beira do rio, com um chapéu chinês na cabeça, fumando um
cigarro de palha e vendo os cadáveres boiando”.
“Não vai sobrar nada”, diz ele
somando a delação de Delcídio às recentes revelações do ex-bilionário Eike
Batista, a prisão do ex-ministro Guido Mantega e a possibilidade de delação premiada
do ex-diretor da Petrobras Jorge Zelada.
Nas
eleições, adversários e ex-aliados explicam o motivo da distância do antes
poderoso senador petista.
Delcídio chegou ao PT pelas mãos de José Dirceu e
Lula no início dos anos 2000, surfou na onda de popularidade dos primeiros
mandatos petistas e implodiu tudo depois de ser preso em novembro do ano
passado.
“Ele chegou logo por cima para disputar o primeiro cargo no estado.
Fazia campanha em cima de um cavalo e com chapéu de pantaneiro, mas na verdade
era um estrangeiro”, resume um político sul-mato-grossense.
Ex-diretor da
Petrobras, Delcídio passou boa parte da vida fora do estado – foi diretor da
Petrobras no Rio, secretário-executivo em Brasília, viveu em São Paulo e na
Holanda – e se aventurou ao primeiro cargo eletivo em 2002, quando, apoiado
pelo então governador Zeca do PT, foi eleito senador com 73.417 votos.
“No Mato
Grosso do Sul candidatos ou começam do nada ou são de família tradicional.
Delcídio não tinha base partidária”, diz uma parlamentar da região ao
justificar o ocaso do ex-senador depois da delação premiada.
Mesmo
longe dos holofotes da política, Delcídio do Amaral continua com o hábito de
traçar análises políticas sobre a situação do país.
Não poupa os aliados de
outrora e prevê que o ex-presidente Lula, réu junto com ele em um processo de
obstrução das investigações do petrolão, responderá a todos os processos que
tramitam atualmente em Curitiba: além do tríplex no Guarujá, as benesses do
sítio de Atibaia e palestras pagas por empreiteiras encrencadas no escândalo da
Petrobras.
“Não me
expus publicamente nos últimos tempos, mas o que a gente percebe é que as
pessoas aqui têm um sentimento de perda, de que ‘aconteceu tudo isso com ele
supostamente por causa de uma obstrução à justiça’.
Mas e os outros? O cenário
político nacional continua instável e o quadro pode piorar.
É uma pena que por
causa de avaliações equivocadas muitas conquistas do PT ficaram para trás”,
filosofa o ex-senador.
Quase
cinco meses depois de ter o mandato cassado, Delcídio começa a retomar a
normalidade da vida em Corumbá.
No primeiro semestre, a família se mudou
temporariamente para Santa Catarina enquanto avançavam no Congresso o processo
de cassação dele e o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
“Não é uma
situação simples, é um recomeço.
É uma retomada perto da vida absolutamente
hiperativa que eu tinha”, diz.
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