☼A doutrina Obama e o futuro da Líbia☼

A doutrina Obama e o futuro da Líbia


A imprensa americana amanheceu nesta terça-feira (29) tentando entender o discurso que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, fez na noite de segunda-feira.

Em Washington, Obama falou sobre a Líbia e colocou sobre a mesa diretrizes que podem determinar o futuro da política externa americana, pelo menos enquanto ele estiver na Casa Branca. Continua►►

Comecemos com a revista The New Republic, que explica o que são, segundo Obama, os dois momentos em que os Estados Unidos têm a obrigação de usar seu poderio militar para intervir em outros países:
A primeira se dá quando os "interesses centrais" dos Estados Unidos
e de seus aliados são ameaçados. Neste caso, o presidente "nunca hesitaria
em usar nossos militares de forma rápida, decisiva e unilateral". (…)
A segunda categoria consiste em casos nos quais "nossa segurança não é
diretamente ameaçada, mas nossos interesses e valores são". Esta é uma
formulação complicada porque tenta combinar idealismo e realismo por meio
do uso da conjunção "e".
No primeiro caso, os interesses centrais dos EUA seriam a economia e a segurança do próprio país e de seus aliados. No Segundo caso, estariam prevenir genocídios, manter a paz, garantir a estabilidade regional e manter o fluxo comercial.

O blog The Fix, do The Washington Post, diz que ao abrir as portas para um duplo caminho de intervenção, Obama tenta agradar tanto a esquerda (que exige intervenções no exterior em nome do que "é certo") quanto a direita (que não aceita o que chama de "pedido de desculpas" pelo poder que os EUA possuem).
Obama está demarcando uma política externa de centro. E a crescente
 incerteza [dos eventos que virão pela frente] continuarão a testar a doutrina –
chame-a de Doutrina Obama – que ele estabeleceu na segunda-feira. O meio
do caminho é geralmente um dos territórios políticos mais fáceis de se habitar.
Mas como temos visto nas semanas recentes, nem sempre é tão fácil ficar
preso no centro quando se fala de política externa.
No blog Swampland, a revista Time afirma que "a doutrina está clara, mas a missão não", e critica o discurso de Obama dizendo que sua visão sobre o que fazer no futuro da Líbia ainda não está clara:
Obama quer que Khadafi deixe o poder, e reconheceu que "até que ele vá,
a Líbia continuará perigosa". Mas ainda assim ele foi vago sobre a urgência deste
desfecho e sobre o que está disposto a fazer para chegar a ele. Obama consideraria,
por exemplo, fornecer armas aos rebeldes líbios (violando o embargo da ONU)?
Se não, que tal financiar os rebeldes? Vamos dizer que um impasse se desenvolva
entre Khadafi e os rebeldes – estaríamos dispostos a reconhecer um estado separado
no leste da Líbia?
O Chicago Tribune, jornal de longa história de apoio ao partido Republicano, mas que endossou a candidatura de Obama, foi além, e disse duvidar que as diretrizes expostas por Obama na noite de segunda se sustentem a longo prazo.
O presidente e seu time têm uma política coerente que ofereça uma base de
princípios sobre como lidar com a próxima crise, e a que virá depois dela?
Ou eles estão apenas saciando impulsos viscerais, sem contemplar como
suas decisões vão repercutir agora e depois? São grandes questões, não
respondidas.
Foto: Manuel Balce Ceneta/AP
José Antonio Lima
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