Após mais uma madrugada de confrontos, quebra-quebras e protestos nas imediações de sua casa, no Leblon, Zona Sul do Rio, o governador Sérgio Cabral (PMDB) convocou para a manhã desta quinta-feira, uma reunião de emergência no Palácio Guanabara, sede do governo. Foram convocados o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, a chefe da Polícia Civil, Martha Rocha, o comandante da Polícia Militar, Coronel Erir da Costa Filho, e os secretários da Casa Civil, Regis Fichtner, e de Governo, Wilson Carlos Carvalho.
Enquanto Cabral tentava consertar os estragos provocados por atitudes truculentas contra os manifestantes, desde o início da onda de protestos no Rio, entre outros gestos, todos reprovados pela maioria dos eleitores, como o uso de helicópteros do governo para passear e ir para o trabalho, aparecer em fotos com uma turma de empreiteiros e assessores de guardanapos na cabeça ou dançando nas ruas da capital francesa, seus aliados também conversam sobre uma possível debandada na aliança que sustenta o governo fluminense.
– A realidade é que o patrimônio político de Sérgio Cabral virou pó, em uma situação muito parecida com a credibilidade de amigos dele como Eike Batista, para quem foi entregue a administração do lendário Estádio Mário Filho, o Maracanã; ou o dono a Construtora Delta, Fernando Cavendish, de quem é vizinho no Leblon. Está cada vez mais difícil imaginar a possibilidade de o atual governo permanecer, com um sucessor como Luiz Fernando de Souza, o Pezão – afirmou um parlamentar da base aliada ao governador, que prefere ainda não revelar seu nome, "sob pena de prejudicar toda a bancada do meu partido", disse ao Correio do Brasil, nesta manhã, por telefone.
O Partido dos Trabalhadores, que integra a administração Cabral desde os primeiros dias, formalmente afirma que pretende continuar como aliado do governador, apesar de seu prestígio em queda. Mas as vozes então dissonantes do senador Lindbergh Farias e do deputado Alessandro Molon começam a afinar o coro de descontentes que também não deseja a volta do ex-governador e hoje deputado federal Anthony Garotinho (PR), líder nas pesquisas de opinião para as eleições majoritárias do ano que vem.
A onda de protestos que varre a capital fluminense, há semanas, levou integrantes da bancada petista a buscar o apoio formal do PSOL. O senador Lindbergh tem conversado com líderes da legenda de oposição na tentativa de atraí-los para sua candidatura ao governo do Estado, mas, inicialmente, o PSOL fluminense descarta qualquer possibilidade de se coligar com PT para 2014.
O deputado estadual Marcelo Freixo, um dos principais interlocutores do partido, disse que já conversou com Lindbergh sobre o assunto e enfatizou que não vê nenhuma semelhança entre os projetos das duas legendas capaz de sustentar uma coligação.
– Ele me procurou várias vezes, mas deixei claro que não há disposição do PSOL em estar com o PT que também tem procurado alianças com outras legendas como o PP e PPS. Além disso, duvido que Lindbergh recuse uma proposta de renovação da aliança com o PMDB, do governador Sérgio Cabral, caso tenha a garantia de que ele será o candidato. Já disse isso a ele – afirmou o parlamentar, a jornalistas.
Candidatura própria
O PSOL, mesmo antes da onda de protestos, já se decidira sobre candidatura própria a todos os cargos do Executivo, embora vise o reforço das bancadas estaduais e federais como prioridade. A avaliação do partido era de que seriam necessárias as candidaturas majoritárias, mais para marcar posição, já que não havia condições reais de vencer. Um nome cogitado para se candidatar no Rio de Janeiro é o do vereador Paulo Pinheiro. Os quadros mais conhecidos do partido, no entanto, assumiram o papel de "puxadores de voto" de deputados estaduais e federais.
Embora haja uma crença no PSOL de que as manifestações aumentaram o potencial das candidaturas do partido, a ideia de inverter a estratégia, apostando nos cargos executivos, tem sido cogitada, mas ainda não foi conversada dentro do partido. Essa inversão poderá ser o principal assunto do encontro do partido marcado para final de novembro.
– Nossa intenção é aumentar as bancadas, mas sabemos que nossas perspectivas são boas e aumentaram muito após os protestos – comentou o deputado Chico Alencar.
Alencar adverte, porém, que o momento também não é adequado para lançar candidaturas:
– Quem se lançou, teve que recuar. Aécio Neves cancelou agenda, Dilma Rousseff voltou a ser presidenta, Eduardo Campos se recolheu.
Lindbergh tem sido uma incógnita dentro e fora do PT; além de um estorvo a mais na complicada relação com o PMDB de Cabral, que ainda tenta viabilizar a candidatura de Pezão. A alternativa, segundo assessores do senador petista, é buscar alianças "mais à esquerda", mas a intenção não faz parte do credo na maioria da bancada petista, que defende a permanência nos cargos que o partido tem no governo estadual e na prefeitura, onde além de quatro secretarias, o PT tem o vice-prefeito, Adilson Pires. Entre os fieis a Cabral está a deputada Benedita da Silva.
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