A GANGUE DAS LOIRAS: circulando no Congresso

10/10/2013 
Chefe da quadrilha, o doleiro Fayed Traboulsi (no destaque), investia o lucro em carros como o Lamborghini da foto (Foto: Pedro Ladeira / Folhapress)
Chefe da quadrilha, o doleiro Fayed Traboulsi (no destaque), investia o lucro em carros como o Lamborghini da foto (Foto: Pedro Ladeira / Folhapress)
Reportagem de Alana Rizzo e Bela Megale, publicada em edição impressa de VEJA
GANGUE DAS LOIRAS — ISCAS DE POLÍTICO
Quem eram as mulheres que seduziam prefeitos do Norte e do Centro-Oeste para que caíssem no conto dos fundos de investimento, que rendeu à quadrilha 50 milhões de reais
Qualquer um que tenha visitado o Congresso Nacional certamente reparou nelas. Destoando do figurino dominante, as “pastinhas” circulam pelos corredores com saias mínimas, maxissaltos e decotes mesmerizantes.
Sua função é chamar a atenção dos congressistas para convencê-los a incluir sua assinatura em listas de apoio a projetos de lei. Têm sempre uma prancheta na mão e, para guardar as assinaturas colhidas, carregam o acessório que deu origem ao apelido. Quanto maiores os predicados da pastinha, menor é a atenção que os políticos costumam dar ao teor dos textos.
Há pouco mais de dez dias, a Polícia Federal desbaratou uma quadrilha que usou a mesma tática e mão de obra para arrancar, em um ano e meio, 50 milhões de reais de prefeitos distraídos.
A pastinha Luciane Hoepers é apontada como a arma mais letal do grupo. Catarinense de 33 anos, loira de muitas tatuagens e olhos verdes, ela chegou a atuar em programas de televisão, como um reality show em que declarou sua filosofi a de vida: “Nascer pobre é destino, mas morrer pobre é burrice”.
ARMA LETAL -- Amante do chefe, Luciane Hoepers trabalhava também como “pastinha” (Foto: Alexandre Peregrino)
ARMA LETAL — Amante do chefe, Luciane Hoepers trabalhava também como “pastinha” (Foto: Alexandre Peregrino)
O destino de Luciane começou a mudar quando conheceu o doleiro Fayed Traboulsi, de quem se tornou amante em 2012. Com uma carteira de clientes que inclui diversos políticos de Brasília, ele é apontado pela PF como o articulador do esquema. Cabia ao doleiro, além de comandar o desfalque, arregimentar as mulheres.
A maioria chegava a ele por meio de amigos. Cynthia Cabral Soares da Cruz, por exemplo, exceção morena num grupo de loiras, é filha de um conhecido agiota do Distrito Federal.
Outra ex-pastinha que, segundo as investigações, atuava na quadrilha é Fernanda Cardoso. Ela teria entrado para o bando depois de ser apresentada a Fayed por uma assessora do senador Magno Malta (PR-ES), Marta Lança, também detida na ação da PF. Todas foram acusadas, entre outras coisas, de crime contra o mercado de capitais, formação de quadrilha e corrupção ativa.
As transcrições das conversas gravadas pela polícia mostram que a relação entre as beldades de Fayed não era propriamente harmoniosa. Em um dos diálogos, Fernanda sugere ao chefe que Cynthia se veste mal: “Tem que botar ela para comprar roupa”. Um pouco antes, o doleiro já havia dado mostras de que tinha perdido a paciência: “Não quero mais fofocas por aí. Vamos parar com isso. Pronto e acabou, tá?”.
Completava a equipe a estudante de direito Isabela Barros, de 24 anos, apresentada ao grupo quando fazia um curso sobre fundos de investimento, segundo sua mãe.
A tarefa das meninas de Fayed consistia em convencer prefeitos a investir o dinheiro de fundos municipais de previdência em fundos de investimento falsamente rentáveis indicados por elas — e controlados por cúmplices da quadrilha. Obtido o aporte, o grupo retirava a maior parte do dinheiro e deixava o negócio “quebrar”. Os fundos municipais amargavam o prejuízo.
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