Cientistas descobrem possível meio de entrada de zika em
células-tronco neurais
De acordo com pesquisadores americanos,
mecanismo pode explicar por que zika tem consequências tão devastadoras como a
microcefalia e ajudar a desenvolver terapias
O receptor AXL, encontrado em abundância na superfície de células-tronco
neurais, mas não nos tecidos neuronais maduros, pode ser usado como porta de
entrada para o vírus, transmitido pelo mosquito 'Aedes aegypti'(Nelson
Almeida/AFP)
Um grupo de cientistas americanos
descobriu que a aparente atração do vírus zika por neurônios em formação pode
ser resultado de sua afinidade por uma proteína encontrada na superfície das
células-tronco neurais.
O receptor AXL, encontrado em abundância na superfície
dessas células, mas não nos tecidos neuronais maduros, pode ser usado pelo
vírus como porta de entrada para a infecção.
De acordo com pesquisadores da
Universidade da Califórnia em São Francisco, nos Estados Unidos, danos nesse
tipo de células são coerentes com vários dos sintomas associados ao zika nos
fetos em desenvolvimento - incluindo a microcefalia.
LEIA TAMBÉM:
O estudo, cujos resultados foram
publicados nesta quarta-feira na revista científica Cell Stem Cell,
revela como a proteína AXL - normalmente envolvida na divisão celular - está
presente em grande quantidade nas células que dão origem aos tecidos do córtex
e também da retina.
Essas células-tronco, afirmam os cientistas, só estão
presentes no organismo durante o segundo trimestre de gravidez.
Além de ajudar
a compreender a biologia do vírus, a descoberta pode ajudar no desenvolvimento
de futuras terapias para a infecção em mulheres grávidas.
Porta de entrada - Logo que o
surto de zika e microcefalia atingiu o Brasil, os pesquisadores resolveram
aprofundar estudos que mostravam que vírus similares ao zika, como o da dengue,
parecem usar a proteína AXL como mecanismo de entrada para as infecções.
A
equipe usou análises genéticas para verificar a presença desse receptor em
diferentes células do cérebro de camundongos, furões, em organelas cerebrais
derivadas de células-tronco (como os minicérebros desenvolvidos
em laboratório) e tecidos humanos cerebrais em desenvolvimento.
Os cientistas perceberam que todos os
modelos exibiam a proteína nas células gliais radiais, que são estruturas que,
ao se desenvolverem, dão origem a diversos tipos de células, como os neurônios.
Usando marcadores de anticorpos, os pesquisadores descobriram que a AXL se
agrupa em locais dessas células-tronco que estão próximos a vasos sanguíneos ou
ao fluido cerebroespinal - uma posição privilegiada para o vírus zika entrar em
contato com a proteína e desenvolver a infecção.
"Ainda que não seja de maneira
alguma uma explicação completa, acreditamos que a expressão de AXL por esse
tipo de célula é uma importante pista para descobrirmos como o vírus zika é
capaz de produzir casos tão devastadores de microcefalia.
Os resultados se
encaixam perfeitamente nas evidências disponíveis", disse um dos autores
do estudo, Arnold Kriegstein, diretor do Centro de Pesquisa em Medicina de
Regeneração Células-tronco Eli and Edythe Broad, da Universidade da Califórnia em
São Francisco.
Próximas etapas - De acordo com
os pesquisadores, a descoberta é um passo importante, mas outros receptores
podem estar associados ao vírus. Por isso, o próximo passo do estudo deve ser
verificar se o AXL pode ser explorado para terapias que possam impedir a
infecção.
Bloquear a proteína, fundamental para o desenvolvimento do cérebro do
feto, não é uma opção, mas o conhecimento dos detalhes do mecanismo de entrada
do zika nas células-tronco pode ajudar os médicos a encontrar meios para tratar
as grávidas e evitar consequências nos bebês.
"Ainda não entendemos por que o
vírus da zika, em particular, é tão virulento para o cérebro em
desenvolvimento", afirmou Kriegstein.
"Pode ser que o vírus se
desloque mais facilmente pela barreira da placenta ou que o vírus entre nas
células mais facilmente do que infecções relacionadas."
Veja mais aqui►http://veja.abril.com.br/noticia/ciencia/cientistas-descobrem-possivel-meio-de-entrada-zika-em-celulas-tronco-neurais
Nenhum comentário:
Postar um comentário