Um novo estudo da
Faculdade de Medicina da Universidade de Stanford (EUA) conseguiu eliminar com
sucesso vários tipos de tumores em ratos usando apenas uma injeção.
A “vacina”, que contém pequenas quantidades de
dois agentes imunes estimulantes, foi aplicada diretamente nos tumores e
eliminou todos os vestígios de câncer nos animais, incluindo metástases
distantes e não tratadas com a injeção.
Os pesquisadores acreditam que a aplicação local de
quantidades muito pequenas dos agentes pode servir como uma terapia de câncer
rápida e relativamente barata que provavelmente não causará efeitos colaterais
adversos.
Um ensaio clínico em seres humanos foi iniciado
esse mês, para testar o efeito do tratamento em pacientes com linfoma.
Vantagens
O professor de oncologia Ronald Levy, um dos
cientistas do estudo, é pioneiro no campo de imunoterapia contra o câncer, no
qual os pesquisadores tentam aproveitar o nosso sistema imunológico para
combater a doença.
A pesquisa realizada em seu laboratório levou
ao desenvolvimento de rituximab, um dos primeiros anticorpos monoclonais
aprovados para uso como tratamento anticancerígeno em humanos.
Algumas abordagens de imunoterapia dependem de
estimular o sistema imunológico em todo o corpo. Outras visam “alvos” que
limitam a atividade anticancerígena das células imunes. Outras, como a terapia
com células T CAR recentemente aprovada para tratar alguns tipos de leucemia e
linfomas, exigem que as células imunes de um paciente sejam removidas do corpo
e manipuladas geneticamente para atacar as células tumorais.
A nova abordagem é melhor do que todas essas
outras porque não requer identificação de alvos específicos, ativação por um
sistema imunológico atacado ou personalização das células imunes de um
paciente. Por isso, é mais rápida e barata. Um dos agentes da vacina já está
aprovado para uso em seres humanos e o outro já foi testado para uso humano em
vários ensaios clínicos.
Como funciona
Os cânceres geralmente passam despercebidos
pelo nosso sistema imunológico. No começo, nossas células imunes, como as
células T, reconhecem as proteínas anormais, muitas vezes presentes em células
cancerosas, e se infiltram para atacar o tumor. No entanto, à medida que o
tumor cresce, ele cria formas de suprimir a atividade dessas células.
O método de Levy trabalha para reativar as
células T que lutam contra o câncer injetando quantidades muito pequenas (um
milionésimo de grama) de dois agentes diretamente no local do tumor.
Um deles, um curto trecho de
DNA chamado de oligonucleótido CpG, trabalha com outras células imunes próximas
para aumentar a atividade de um receptor chamado OX40 na superfície das células
T. O outro, um anticorpo que se liga ao OX40, ativa as células T para liderar o
ataque contra as células cancerígenas.
Como os dois agentes são injetados diretamente no tumor, apenas as
células T que já estão infiltradas no câncer são ativadas. Ou seja, essas
células T são “pré-selecionadas” pelo corpo para reconhecer apenas proteínas
específicas de câncer.
Algumas dessas células T ativadas por tumor,
então, deixam o tumor original para encontrar e destruir outros tumores
idênticos em todo o corpo.
Resultados impressionantes
A abordagem funcionou surpreendentemente bem em
ratos de laboratório com linfomas transplantados em dois locais de seus corpos.
Injetar
um tumor com os dois agentes causou a regressão não apenas do tumor tratado,
mas também do segundo tumor não tratado. 87 dos 90 ratos foram curados do
câncer.
Embora o câncer tenha retornado em três ratos,
os tumores voltaram a regredir depois de um segundo tratamento. Os
pesquisadores viram resultados semelhantes em ratos com câncer de mama, cólon e
melanoma.
Em um segundo experimento, ratos geneticamente
modificados para desenvolver espontaneamente câncer de mama em vários locais
também responderam muito bem ao tratamento. Tratar o primeiro tumor que surgiu
muitas vezes impediu a ocorrência de tumores futuros e aumentou
significativamente a vida útil dos animais.
Cada câncer é um câncer
No entanto, existe uma especificidade do tumor tratado. Por
exemplo, nos ratos com dois tipos de câncer – linfoma em dois locais e câncer
de cólon em uma terceira localização -, o tratamento injetado em um dos
linfomas causou a regressão de ambos os tumores de linfoma, mas não afetou o
crescimento das células de câncer de cólon.
“Esta é uma abordagem muito direcionada”, disse
Levy. “Somente o tumor que compartilha os alvos da proteína exibidos pelo local
tratado é afetado”.
No entanto, é possível simplesmente injetar o
outro tumor, também.
Possibilidades infinitas
Se o ensaio clínico com pacientes humanos for
bem-sucedido, Levy acredita que o tratamento pode ser útil para muitos tipos de
tumores.
Ele prevê um futuro no qual os médicos
injetarão os dois agentes em tumores sólidos antes da remoção cirúrgica do
câncer, como forma de prevenir a recorrência devido a metástases não
identificadas ou células persistentes do câncer, ou mesmo para evitar o
desenvolvimento de tumores futuros que surjam devido a mutações genéticas, como
BRCA1 e 2.
“Eu não acho que há limite para o tipo de tumor
que poderíamos potencialmente tratar, desde que tenha sido infiltrado pelo
sistema imunológico”, conclui. [MedicalXpress]
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