O poder da intuição: saiba como usufruir da sua voz interior
Se você é sensível e acredita que possui um "sexto sentido", é provável que você esteja certa!
Quem nunca teve um mau pressentimento?
Ele surge quando você menos espera e é acompanhado de angústia, aperto no peito
e a sensação estranha e perturbadora de que algo não está certo. Quando essas
percepções surgem, você costuma ter certeza de que algo ruim está por vir.
Algumas pessoas chegam a desistir de viagens e outros planos, mesmo não
havendo motivo racional para isso.
Muitos
chamam essa sensação de intuição e, para alguns,
tal ideia difere de mulheres para homens. Mas afinal, o que acontece com a
mente quando esse sentimento surge? A intuição feminina é
real?
CLAUDIA entrevistou
três especialistas com visões diferentes sobre o assunto.
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A intuição para a psicologia
A
psicóloga Katia Larsen, especialista no
assunto, explica que a intuição pode ser identificada com base em alguns indicativos
que demonstram que aquela sensação veio, na verdade, do inconsciente.
“Taquicardia,
borboletas no estômago, sensação de medo no coração e alteração no ritmo
respiratório são alguns dos sinais que não devem ser ignorados. Mulheres
têm uma sabedoria interna que ultrapassa nossa mente analítica.
Ela vem do inconsciente, e pode ser sentida no corpo pelas sensações corporais
como um sinal para seguirmos adiante ou evitarmos alguma atitude ou decisão”,
conta.
Porém,
é preciso se atentar ao fato de que transtornos psicológicos também
podem ser a causa dessas sensações. No entanto, elas ocorrem de diferentes
maneiras e intensidades. “A diferença entre alguns desses sinais e ansiedade e estresse,
por exemplo, é que são sinais passageiros. Assim que percebemos e tomamos
consciência do que está ocorrendo, eles se dissolvem. Nos transtornos
psicológicos os sintomas não desaparecem, eles se intensificam”, explica a
psicóloga.
É como
se a intuição envolvesse uma sensação mais sutil do que perturbadora. O
diagnóstico de um transtorno de ansiedade, por
exemplo, é dado quando uma lista de sintomas com determinada frequência e
intensidade é apresentada, o que é bem diferente de sinais leves e transitórios
que o nosso corpo apresenta para nos conectar com as informações da nossa sabedoria
interna, explica Katia.
Segundo
a especialista, todas essas sensações pessoais originárias do nosso
inconsciente podem ficar ainda mais intensas no período menstrual. Alguns
estudos comprovam a relação entre a variação dos hormônios femininos e os
neurotransmissores como a noradrenalina e serotonina,
que são os moduladores do humor, do bem-estar e do estado de relaxamento.
“O
aumento da sensibilidade nos períodos de menstruação (TPM) abrem a
possibilidade da mulher se escutar mais, pois naturalmente seu corpo pede um
certo recolhimento. A intuição está
sempre lá, independentemente da oscilação hormonal, mas a sensibilidade corporal
pode nos colocar mais atentas ao que está ocorrendo ao nosso redor”, revela a
psicóloga.
Mas,
afinal de contas, por que as mulheres são mais sensíveis à essas sensações? De
acordo com Kátia, o corpo da mulher tem ciclos como a natureza e ritmos
como a lua, a cada 28 dias. Esses ciclos geram transformações de humor e de
necessidades que mexem com a psique feminina,
abrindo para um estado mais sensível e vulnerável, o que a torna mais receptiva
a essa função.
Os
homens também são capazes de ser intuitivos, uma vez que a intuição é um traço
psíquico do ser-humano; entretanto precisam se render à sensibilidade, à
natureza e ao fluxo da vida, coisa que a cultura machista não
os permitiria fazer.
A psicóloga afirma que essa personalidade tátil pode
variar. “Todas as funções psíquicas se comunicam em maior ou menor grau.
Algumas pessoas são mais mentais, outras já são mais sensoriais. Podemos
equilibrar nossas funções psíquicas para que ativemos as menos dominantes
através de práticas, meditações, arte etc”, afirma.
Nem
sempre surgem de imediato as respostas concretas. “Podemos tomar como
referência o universo dos animais como o instinto e o universo vegetal como a
sabedoria das árvores de uma floresta, que prevê a destruição da sua espécie e
cria formas de preservação natural. Somos parte dessa natureza,
nossa natureza humana com consciência“, reflete Kátia.
A intuição para a Psicanálise
Dr. Cezar Siqueira,
psicanalista, acredita que de fato a intuição existe e é um fenômeno
psíquico, mas muito além disso. “Quando falamos da intuição
feminina como um dom, estamos falando da capacidade de
antecipar ou antever algo sem saber muito bem o por quê. Como fenômeno, a
intuição tem essa característica, uma ideia que vem de outro lugar”.
Para a
psicanálise, a intuição como presságio ou premonição só pode ser verificada após
o ocorrido. “Curiosamente, é muito mais fácil dizermos que
intuímos algum acontecimento quando essa coisa já aconteceu. Temos mais certeza
à medida da confirmação. A gente tem uma validação muito grande da intuição
quando ela de fato se concretiza”, explica.
Além disso, o psicanalista afirma que geralmente é embasado
em algum acontecimento anterior, traduzido em sensações, não pensamentos. “Uma
certeza sensível, e não racionalizada. Vem a partir de uma coleta de
informações emergentes de experiências passadas”.
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O
especialista afirma que a intuição e a paranoia podem
ser facilmente entrelaçadas. “Pode ser uma paranoia doce“,
diz em tom de brincadeira. “É fácil isso acontecer. Ela é um tanto inofensiva,
mas o fato de vir do nada e sem nenhum motivo concreto, com caráter de certeza
e tomando o sujeito com uma força de que tal situação irá certamente acontecer,
é muito fácil uma paranoia ser disfarçada de intuição”.
Para ele, a sensação nos bastidores é a razão por trás dos
pensamentos, onde o ser-humano sempre se angustia diante do desconhecido e da
falta do saber. “Intuir nada mais é do que antecipar-se frente aquilo que não
sabemos o que é”, afirma.
Além disso, o psicanalista mostra a diferença entre o
inconsciente feminino e masculino: depende muito de como ambos os gêneros
enxergam suas angústias. “Existe hoje uma certa mitologia com relação ao dom
feminino e as diferentes capacidades de gênero. Há um peso social muito grande.
Nada tem a ver com a capacidade de um homem ou uma mulher serem intuitivos.
Sabemos hoje que homem e mulher são construções sociais. A intuição perde lugar
numa sociedade onde o homem é proibido de chorar e obrigado a ser sempre
racional”.
Questionado
sobre a relação da intuição com transtornos psicológicos, dr. Cezar afirma que
qualquer pessoa com quadro grave ou não, pode ter sua percepção de mundo
influenciada por questões inconscientes e leituras equivocadas.
“Na psicanálise, tratamos os transtornos mentais como singularidades, e não
‘doenças’. É uma paranoia quando isso atrapalha a vida da pessoa. A paranoia só
é ‘doce’ quando não interfere sua qualidade de vida”.
A intuição para a Neurociência
A
intuição é baseada e aflorada no conhecimento prévio e área de
atuação, de acordo com o dr. Igor Duarte,
neurocientista. “Um médico, por exemplo, não tem intuições na área de Física.
Como as mulheres, no decorrer da evolução, sempre tiveram relação com múltiplas
tarefas, o cérebro feminino se especializou em buscar várias informações e
sensações. Por isso, a mulher de fato tem uma habilidade intuitiva maior do que
as dos homens”, aponta.
O
cérebro funciona basicamente por hormônios, alguns mais evidentes no corpo
feminino, sendo um agravante. “Tem uma área do órgão que se chama corpo
caloso, responsável por conectar o lado esquerdo do cérebro ao
lado direito do mesmo. A mulher tem cerca de 250 milhões de neurônios a
mais só nessa região, comparado com o homem. Essa conexão é melhor no corpo
feminino, onde busca mais sensações e com mais eficiência”, explica Igor.
“Existe
uma outra área do cérebro presente em ambos os gêneros: o giro
do cíngulo anterior. Essa área é mais evidente na mulher,
sendo responsável pela antecipação de problemas negativos. Muito ativada quando
a gente tem uma expectativa de algo ruim. Como normalmente as intuições tem um
caráter perigoso, e sendo maior no corpo feminino, isso também pode ser um
componente a mais”, pontua.
Dr. Igor afirma que a questão cultural é um agravante
quando se diz respeito às sensações. “Quando um homem diz que sentiu ou
pressentiu algo, ele acaba sendo motivo de piada na roda de amigos. Por isso,
para não ser ridicularizado, o rapaz acaba por reprimir essas situações e
ignorar os sinais que seu cérebro fornece”.
Mas será que, através desses dados, é possível afirmar
cientificamente a incapacidade dos homens para intuir tal qual as mulheres? Dr.
Igor discorda. “A intuição é algo do cérebro. Isso não significa que o homem
não possa ser intuitivo. Se houver treino, eles conseguirão alcançar as mesmas
habilidades. Basta desenvolver. O problema é que homens, em geral, não dão
importância para os sentimentos. Por isso, é mais complicado desenvolver esse
lado”, explica.
Questionado
sobre os transtornos psicológicos através
da visão neurocientífica, Igor afirma que a depressão é mais comum em mulheres
pela questão hormonal,sendo
normalmente relacionada à Cerotonina, substância
existentes nas mulheres cerca de 60% a mais
que homens. “Quando o cérebro fica em baixa na questão do humor, a área antes
mencionada – ativada para reações negativas – oscila muito, principalmente para
quem tem Depressão. Por isso, essas pessoas tendem a ter mais premonições,
diferente de quem tem o humor mais normalizado”. Para o doutor, não é possível
confundir sintomas de transtornos com a intuição: uma condição de depressão faz
o cérebro ficar mais atento à situações negativas, suprimindo qualquer
informação positiva.
Falando
sobre preconceitos e sensações, dr. Igor afirma a relação com experiências
anteriores. “O que os jornais passam, por exemplo, dos
criminosos serem em sua maioria negros, induz nosso cérebro à crença na pele
escura como característica do mal.
Isso pode se tornar um preconceito racial. Para separar as duas coisas, parte
muito de colocar isso na mente de forma consciente. O que ocorreu com o
jornalista William Waack, por exemplo, é algo muito comum no povo brasileiro.
Isso está relacionado à questões sociais, ambientes e informações que
adquirimos”.
As
mulheres de hoje sofrem com o enorme dilema: viver aquilo que sentem no seu
íntimo ou seguir o coletivo, que é aquilo que a sociedade impõe. Para viver a
própria verdade, é preciso ser dona de si, acreditar em si mesma, abrir mão dos padrões
limitantes – o que sabemos que é a parte mais difícil – e
seguir sua própria intuição sem ser necessário justificar tudo o que é sentido
com respostas objetivas.
Sendo
capaz de aflorar em qualquer mente humana após aperfeiçoamento, é fato que a intuição é
natural quando se diz respeito à psique feminina.
Por isso, usufruir das nuances que constituem a
mente quando se é uma mulher, pode ser o grande passo para conectar-se com seu eu
interior.
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