Como o cérebro “transforma” 2D em 3D

Ao analisar as imagens que nossos olhos (ou, mais precisamente, nossas retinas) captam, o cérebro parte de certos pressupostos. Em artigo publicado na Scientific American, o casal de pesquisadores Vilaynur e Diane Rogers-Ramachandran, da Universidade da Califórnia (EUA), mostrou como é possível mexer com a percepção do cérebro usando desenhos simples (e noções de luz e sombra).
Na ilustração A, é possível percebermos as esferas da fileira de cima como esferas e as de baixo como cavidades (e vice-versa). “Essa observação revela que os centros visuais do cérebro têm uma suposição embutida de que uma única fonte de luz ilumina a imagem inteira, o que faz sentido, já que estamos em um planeta com um único sol”, apontam Vilaynur e Diane.
Ilustração A
Já na ilustração B, as coisas ficam menos ambíguas: os círculos da esquerda são normalmente percebidos como esferas e os da direita, como cavidades. Isso revela mais uma premissa feita por nosso cérebro: a de que a fonte de luz normalmente vem de cima. Se você girar a imagem 180°, as “esferas” e “cavidades” automaticamente trocam de lugar.
Ilustração B

Cores, sombras e leões

Na ilustração C, embora os dois tipos de círculos estejam misturados, seu cérebro consegue automaticamente classificá-los e agrupá-los como cavidades ou esferas. “Como cientistas visuais descobriram décadas atrás, apenas certos elementos extraídos durante o processamento visual inicial ‘saltam’ claramente e podem ser agrupados desta forma”, explicam. Além do sombreamento, a cor também é um desses elementos (você não teria dificuldade em localizar pontos vermelhos no meio de vários pontos verdes, por exemplo).
Ilustração C
Vilaynur e Diane acreditam que essa capacidade de agrupar fragmentos de uma mesma cor faz sentido evolutivo. “Um leão escondido atrás de um monte de folhas verdes é visível apenas como fragmentos dourados, mas o cérebro visual junta as peças em uma única, dourada, forma de leão, e alerta ‘saia daqui!’”, exemplificam os pesquisadores.
Na ilustração D, a distinção entre esferas e cavidades desaparece, mesmo que as polaridades de cor sejam as mesmas da ilustração C. Isso mostra a importância da percepção de profundidade no processamento visual inicial.
Ilustração D
“É claro”, apontam Vilaynur e Diane, “que ao longo de milhões de anos a evolução ‘descobriu’ e tirou vantagem dos princípios do sombreamento que pesquisadores começaram a explorar apenas recentemente”. Certos tipos de gazelas, lagartas e polvos, por exemplo, têm barrigas claras e dorsos escuros (fenômeno chamado de “contra-sombreamento”), fazendo com que as sombras de seus ventres não sejam tão escuras. Isso dificulta que seus predadores os identifiquem, pois contraria a percepção de luz e sombra feita pelo cérebro (que não é exclusividade dos seres humanos).
“O fato de que alguns círculos sombreados podem revelar as suposições de nossos sistemas visuais – e até mesmo como tais princípios tiveram um papel vital em adaptações evolutivas – mostra o poder de ilusões visuais na hora de entendermos a natureza da percepção”, concluem.[Scientific American]

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