Arranjo pode viabilizar terceira candidatura do ex-governador a presidente e revela fragilidade da união no PSDB ALBERTO BOMBIG
Enquanto caíam as intenções de voto na presidente Dilma Rousseff nas mais recentes pesquisas sobre a disputa para a Presidência da República em 2014, a temperatura nos bastidores do PSDB subiu. Em maio, um mês antes das manifestações, o partido oposicionista realizou sua convenção, anunciou uma pacificação interna e lançou o senador Aécio Neves (MG) como pré-candidato a presidente. Naquela altura, Dilma liderava com folga as sondagens eleitorais. Agora, em meio ao desgaste de Dilma, ficou evidente que a tal “pacificação” estava calcada no desânimo de algumas alas tucanas e na ausência de uma perspectiva real de vitória. Diante de um governo petista enfraquecido, aumentou o ânimo dos interessados em tirar Dilma do Planalto.
O maior exemplo é a movimentação do grupo ligado ao ex-governador José Serra (SP) dentro do PSDB. Nas últimas semanas, senadores, deputados e vereadores “serristas” fizeram circular entre jornalistas que Serra está decidido a construir uma alternativa eleitoral capaz de viabilizar sua terceira candidatura a presidente (ele concorreu em 2002, contra Lula, e em 2010, contra Dilma). Segundo eles, o ex-governador tucano está convencido de que, por ter sido o opositor de Dilma no segundo turno, será o maior beneficiado eleitoralmente com a atual crise.
O novo projeto eleitoral implicaria até a saída de Serra do PSDB. Serra, conforme seus defensores, está disposto a concorrer por uma aliança envolvendo o PPS e o PSD, este último, o partido criado pelo ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab, em 2011. A aliança daria a Serra um tempo no horário eleitoral gratuito de TV compatível ao que deverão ter os tucanos. Só com o apoio do PPS, hoje opção mais simples, esse tempo seria muito pequeno.
Os obstáculos dessa empreitada, porém, são maiores do que o tempo de TV. A começar pela saída de Serra do partido que ele ajudou a fundar em 1988, junto com Mario Covas (1930-2001), Franco Montoro (1916-1999), Geraldo Alckmin e Fernando Henrique Cardoso. Antes de partidários, os compromissos de Serra com os tucanos são geracionais e históricos. FHC, por sua vez, é hoje o principal entusiasta da candidatura Aécio, que ele considera um nome de “renovação” no PSDB.
No âmbito mais pragmático, as dificuldades são maiores. O PSD tem um ministro no governo Dilma (Guilherme Afif Domingos), e Kassab afirmou, ainda no final do ano passado, que o partido estará empenhado na reeleição da presidente em 2014. Mesmo se Kassab voltar atrás o que disse, Serra terá outra dificuldade: convencê-lo de desistir de ser candidato ao governo de São Paulo, desejo que Kassab também anunciou pela primeira vez em entrevista a ÉPOCA em dezembro de 2012. Se não der certo, para ser candidato Serra terá de se afastar de Geraldo Alckmin, hoje seu principal esteio político.
Desde a derrota de José Serra para Fernando Haddad (PT), na eleição para prefeito de São Paulo no ano passado, Alckmin vem abrigando na estrutura do governo paulista aliados importantes de Serra – o que garante a sobrevivência política de grupo do ex-governador. Uma candidatura Kassab não interessa a Alckmin. Conforme as pesquisas que o governador tem em mãos, quanto menos candidatos ao Palácio dos Bandeirantes em 2014, melhor o cenário para sua reeleição. A “pulverização” de candidaturas aumenta a possibilidade de um nome de oposição forçar um segundo turno.
Neste momento, a dobradinha eleitoral Serra-Kassab em São Paulo é rejeitada no Palácio dos Bandeirantes. Por conta disso, os “serristas” passaram a sonhar com a possibilidade de Kassab ser candidato a vice de Alckmin. O governador paulista, no entanto, quer oferecer a vaga ao PSB de seu colega Eduardo Campos (PE) e ampliar à esquerda seu leque de alianças.
Quando questionado sobre a hipótese de deixar o PSDB ou sobre suas desavenças antigas com Aécio, Serra diz que não comenta “picuinhas”. Mas tem feito um discurso cada vez mais forte contra o governo Dilma – algo natural para um político de oposição, mas que pode denotar novos sonhos de campanha. De concreto, por enquanto, apenas o prazo para Serra tomar uma decisão pra valer: se quiser deixar o PSDB e concorrer ao Planalto por outro partido, terá de fazer a mudança até setembro próximo, conforme exige a lei eleitoral. Um profundo conhecedor do comportamento de Serra aposta que ele se só se decidirá no último dia.
Na verdade, o desejo de Serra de tentar mais uma vez tornar-se presidente é tanto – e foi tão reforçado pelo enfraquecimento de Dilma – que será mantido mesmo se ele continuar no PSDB. Em conversas reservadas, os “serristas” enumeram motivos capazes de fazer Aécio abandonar a ideia de concorrer pela primeira vez ao Planalto, entre eles o aguardado julgamento do “mensalão mineiro” (o escândalo de transferência de recursos a políticos de Minas) pelo STF, previsto para 2014. No PSDB de hoje, os interesses são muitos, os argumentos incontáveis, mas a candidatura a presidente é uma só.
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