Publicado na edição impressa de VEJA
MARCELO SAKATE
Os governos gozam de um privilégio perigoso: fabricar dinheiro. Nos períodos de recessão forte os governos podem ─ e devem ─ abrir a torneira de liquidez monetária para tentar reanimar a atividade econômica.
Perigoso por quê, então? Porque imprimir dinheiro não significa criar riqueza. Se errar a mão e imprimir mais dinheiro do que a economia precisa para funcionar, o governo arrisca-se a criar uma bolha inflacionária ─ que nada mais é do que o aumento artificial dos preços pelo excesso de liquidez no mercado.
Nos últimos anos, em reação à queda no ritmo de crescimento do PIB, a equipe econômica de Dilma Rousseff resolveu elevar o volume de crédito como forma de incentivar o consumo e, assim, dar um empurrão na economia. Não funcionou.
Nem podia.
Os números mostram que nos últimos dez anos o consumo dos brasileiros aumentou 115%, enquanto, no mesmo período, a indústria nacional cresceu apenas 20%.
Não é preciso ser um gênio para ver nessa disparidade o retrato de uma política econômica que se equivoca em incentivar o consumo, quando o gargalo está na produção. Não se resolve com mais crédito uma situação em que a demanda dispara, enquanto a oferta de produtos fica estagnada.
Claramente, a indústria brasileira não está conseguindo competir em preço e qualidade com os produtos importados.
As fábricas brasileiras precisam aumentar exponencialmente sua produtividade, e isso não se consegue com mais crédito ─ que implica mais gastos do governo, maior desequilíbrio fiscal e, claro, juros mais altos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário